Prólogo

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Harry virou à direita, quase chegando na câmara do Wizengamots, mas parou quando ouviu vozes alteradas.

— Draco, você não pode estar falando sério sobre isso! — A voz pertencia a Narcissa Malfoy, e Harry instintivamente se escondeu atrás de uma pedra angular alta. Mas ele ainda podia ver parte da cena se desenrolando.

Narcissa Malfoy parecia muito chateada, com os punhos cerrados ao lado do corpo e o rosto contorcido de fúria. Draco Malfoy estava parado na frente dela, mas em seu rosto havia apenas aceitação e cansaço. Ele estava magro e muito mais pálido do que o normal, com seu cabelo platinado tão despenteado e sujo que Harry quase não o reconheceu. Suas roupas estavam escondidas por uma capa preta com adornos prateados e verdes, a única coisa nele que ainda parecia um Malfoy.

— Narcissa, por favor, isso pode esperar. — Outra mulher, baixa, com cabelos escuros cacheados e olhos verdes brilhantes que Harry nunca tinha visto antes, estava implorando. Ela era um pouco mais nova que Narcissa, talvez com quase vinte anos.

— Não, Elena, isso não pode esperar. — Narcissa rebateu, ainda furiosa. — Você não vai tirá-lo de mim. Ele é tudo que me resta!

— Merlin, Narcissa, não vou levar ninguém! — A mulher chamada Elena disse.

— Mãe. — Draco disse, tão baixo que Harry quase não ouviu. Mas foi o suficiente para as duas mulheres discutindo se calarem. — Não posso voltar para aquela casa. Por favor, tente entender isso.

— Draco, você é o Herdeiro das Casas Malfoy e Black. O único que restou vivo. Você tem o dever de...

— Um dever? — Repetiu Malfoy, elevando a voz para o que seria um volume normal. — Você realmente tem a audácia de dizer essa palavra para mim?

Narcissa estremeceu, mas não recuou.

— Sim, Draco. — Narcisa insistiu. — Você pode não gostar, mas com seu pai em Azkaban, você é o responsável por...

— Assumirei qualquer responsabilidade que você quiser que eu assuma, mãe. — Draco levantou um pouco mais a voz. — Mas NUNCA MAIS VOU POR OS PÉS NESSA CASA.

Harry recuou um passo com a intensidade na voz de Malfoy quando ele disse a última frase. Ele não parecia ter a força necessária para rugir assim, e estava naturalmente ofegante quando terminou de gritar. A mulher de cabelos negros deu um passo à frente e colocou uma mão reconfortante em seu ombro. Só então Harry viu duas outras figuras ao fundo: um homem alto, de cabelos loiros escuros e barba, de trinta e poucos anos, com uma criança pequena, de cabelos pretos lisos e rosto pálido dormindo pacificamente em seus braços.

— Draco... — Narcissa ficou abalada com as palavras dele, mas seu rosto ainda estava cheio de determinação. — Você não pode deixar sua família agora. Seu pai fez o melhor que pôde para nos proteger, mas ele...

— Nos proteger? — Repetiu Draco novamente, com sua descrença ainda maior. — Você chama a abertura das portas de sua casa supostamente antiga e respeitada para um lunático semimorto, parecendo uma serpente, um monstro assassino e seus seguidores maníacos, PROTEÇÃO? — Draco ainda estava ofegante, como se o esforço de falar estivesse muito além de sua capacidade no momento. — Temos concepções muito diferentes do que significa proteção, mãe.

— Chega disso. — Disse a mulher de cabelos negros. — Draco precisa de cuidados médicos e descanso, Narcisa, então seja lá o que for que vocês dois precisam discutir, terá que esperar.

— Ah, agora a nobre Elena Carter parece se lembrar de cuidar do meu filho. Onde você estava há três meses, quando ele foi enviado para o AZKABAN? — Agora era Narcissa quem gritava e ofegava depois.

— Mãe, nós já discutimos isso... — Draco disse, quase em um sussurro novamente, sua voz tão cansada que era de partir o coração.

— Deixei uma agente para trás, Narcissa, para apoiar Draco. Mas ele foi morto e eu estava em outro canto do mundo, travando outra batalha. — Elena Carter disse, em voz baixa, que parecia cheia de culpa. — Mas sei que não justifica deixar Draco em Azkaban por três meses. Não posso voltar no tempo agora, mas vou garantir que isso seja compensado de alguma forma!

— Elena, tudo bem! — Draco disse, ainda sussurrando. — Eu precisava pagar pelas coisas que fiz de alguma forma. Você ainda deveria ter me deixado lá mais alguns meses.

— Pare de dizer isso Draco, ou eu juro que vou... — Elena começou a dizer, mas Narcissa interrompeu.

— Você é claramente uma ameaça para esta família Srta. Carter. — Narcissa disse, colocando uma ênfase desnecessária no sobrenome da mulher. — Seria um favor se você simplesmente desaparecesse!

— Já chega! — Disse o homem, e a garotinha em seus braços acordou assustada. — Este não é o momento, nem o lugar para isso. — Sua voz era gentil, mas firme. — Devemos ir.

Harry percebeu que precisava interromper logo, se quisesse pegar Malfoy antes de sair. Ele aproveitou o silêncio que emergiu da interrupção da discussão pelo homem e saiu da pedra angular, caminhando como se tivesse acabado de fazer a curva.

— Malfoy! — Harry chamou, e Malfoy se virou para encará-lo.

— Potter... — Malfoy disse em outro sussurro, arregalando os olhos ao ver Harry caminhando até eles.

Harry não sabia o que dizer antes mesmo de ouvir aquela conversa esquisita. Agora, ele sabia ainda menos. Mas Harry tinha muitas outras preocupações e nenhum tempo livre para pensar em Malfoy e seus problemas. Ele estava lá apenas para devolver a varinha de Malfoy. Então foi isso que ele fez.

— Aqui. — Harry disse, oferecendo a varinha de 10 polegadas de comprimento, espinheiro, núcleo de unicórnio de volta para as mãos de seu dono.

Draco encarou a varinha de espinheiro por alguns segundos, então de volta para Harry, mas não se mexeu. Seus olhos pareciam com medo de pegar a varinha novamente, mas depois de alguns segundos ele pegou.

— Por que, em nome de Merlin, você a guardou? — Draco perguntou, sua voz apenas um sussurro novamente.

Harry definitivamente não esperava essa reação, nem sabia como responder a essa pergunta, então deixou escapar a verdade sem pensar.

— Só foi... Só foi a única que funcionou melhor para mim, depois que a minha quebrou. — Harry disse, sentindo todos os olhares voltados para ele.

— Foi? — Malfoy perguntou, seus olhos sem piscar e fixos em sua varinha.

— Sim. — Harry respondeu.

— Bem, claro que sim. — Malfoy sussurrou tão suavemente que Harry teve que decifrar suas palavras.. Mas ele não estava lá para conversar. Então, depois de fazer o que se propôs a fazer, e determinado a resolver seus próprios problemas, Harry se virou e voltou para os corredores, tentando deixar para trás sua obsessão por Malfoy. A guerra acabou, e Malfoy estava livre, e Harry não queria pensar em Draco Malfoy nunca mais em sua vida, se pudesse evitar.

Draco Malfoy and The Aeternum Caput | DrarryOnde histórias criam vida. Descubra agora