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Aaron Kai;

[...]

Infelizmente, desde que eu me entendo por gente o meu lar é um lugar barulhento. Sempre há alguém gritando, ou alguma coisa quebrando. Eu cresci em meio a discussões e eu odeio isso. Odeio o fato de que quando mais novo, aos sete, eu vi minha mãe sendo agredida pela primeira vez. Odeio o fato de que um pouco mais tarde, aos oito, eu levei um soco para proteger a minha progenitora. Odeio o fato de que aos nove eu ganhei uma cicatriz de facada simplesmente por estar assustado com os adultos histéricos que tomavam conta de mim. Odeio o fato de ter crescido em um ambiente caótico, com relações tóxicas e cercado de traumas.

Sinto um arrepio percorrer meu corpo quando o som produzido pelas cordas da guitarra começam a ecoar pelo quarto. Rue pode me denunciar se quiser, mas se a polícia bater na minha porta, baterá na dela também. Do I Wanna Know?, Arctic Monkeys, é a música que estou tocando e está me permitindo sentir alguns choques sob a pele. Porém, um alto som de vidro estraçalhando se sobressai ao da música e eu paro de tocar imediatamente. Deixei minha guitarra em cima da cama e fui até a cozinha, local de onde o barulho parecia ter vindo. 

Quando entrei no cômodo, me deparei com o piso de cerâmica completamente manchado de vinho e minha mãe encolhida em um canto isolado.

—Mãe, está tudo bem?— Eu questiono a mais velha.

—O Oliver só está um pouco estressado, mas está tudo bem.— Ela responde, ainda sentada no chão.

—Ele te machucou de novo?

—Devia deixar essa vagabunda aí...— Uma voz rouca e embargada surge atrás de mim.

—Cale a boca, Oliver. Você a chama de vagabunda, mas não passa da droga de um alcoólatra.— Eu o respondo, rispidamente.

Oliver infelizmente é o meu padrasto. Minha mãe o conheceu pouco tempo depois de meu "pai" ter nos abandonado.

—Olha aqui, seu moleque...

—"Olha aqui" o que, Oliver?— Eu o interrompi, me aproximando.

Oliver é velho, está na casa dos 60 e tem em torno de 1,75. Normalmente, evita confusões comigo por eu ser mais alto e mais forte.

—Me respeite!— O homem diz, sem recuar.

Eu solto uma leve risada e reviro os olhos.

—Está gritando com quem, seu merda?!— Indago, agarrando sua gola e o prensando na parede.

—Desgraçado!— Ele altera a voz novamente, dessa vez, tentando me empurrar para longe.

—Escuta aqui, se eu souber que você encostou mais um dedo nela ou ouvir qualquer grito, você está morto.— Digo, soltando-o e voltando para o meu quarto.

Bato a porta do cômodo bruscamente ao entrar, em busca da chave da minha Ferrari.

Ava pode ter ficado calada, mas sei que Oliver a agrediu. 

De novo.

O sangue em seu braço a entregou e eu tenho certeza de que aqueles cortes não foram um mero acidente.

Ao achar a chave da Ferrari, vou até o veículo que estava estacionado na frente de casa. Entro no carro e me aconchego no banco de couro, colocando Devil Eyes, Hippie Sabotage, para tocar. Afundo meu pé no acelerador sem pensar muito e então, freio bruscamente ao sentir um impacto contra o capô.

Mas que merda foi essa?!

Penso, saindo do veículo e vendo uma moto jogada por cima de uma garota no chão.

—Porra, está tudo bem?!— Questiono a figura de cabelo longo e preto jogado sobre o rosto.

—Caralho, qual a merda do seu problema, garoto?!— Ela diz, enquanto eu levanto a moto.

—Você está machucada?— Eu indago, surpreso ao ver Rue levantando do chão devagar.

—Não, agora me deixe em paz.

—Eu só estou tentando ajudar, sua idiota!— Exclamo.

—Vai ajudar se não atropelar mais ninguém, seu imbecil!

—Se eu soubesse que ia me tratar assim, eu não tinha freado a merda do carro! 

—Então pega essa sua droga de carro azul e passa por cima de mim de novo, se está insatisfeito!— Ela dispara, subindo em cima da sua moto novamente e arrancando o veículo do local com tudo.

𝙏𝙤 𝙗𝙚 𝙘𝙤𝙣𝙩𝙞𝙣𝙪𝙚...

𝐄𝐒𝐂𝐀𝐏𝐈𝐒𝐌Onde histórias criam vida. Descubra agora