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𝗥𝘂𝗲 𝗕𝗹𝗮𝗸𝗲;

[...]

Instantes depois de ler a mensagem, a maçaneta da minha porta começa a se mover sozinha, como se alguém estivesse tentando abri-la pelo lado de fora. Uma sensação de medo me invade e eu vou em direção ao meu taco de beisebol, localizado no canto do quarto. 

Quando eu completei quatorze anos, uns garotos começaram a praticar bullying comigo e Levi acabou descobrindo. Então, ele me deu o taco de beisebol como presente e disse que se mexessem comigo de novo, era para eu usá-lo. Eu não o usei, mas meu irmão sim. Levi começou a caçar um a um e eles começaram a aparecer irreconhecíveis de tão machucados; em menos de uma semana o bullying parou.

—Quem está aí?— Pergunto e fico feliz por minha voz sair firme.

Seja lá quem for, a pessoa não responde. Minhas mãos soam e eu aperto o taco com tanta força que meus dedos começam a doer, fazendo eu me questionar se não quebrarei o objeto no meio.

De repente, tudo fica quieto. A maçaneta para de ser forçada e a única coisa que se escuta é a minha respiração ofegante. "Está tudo bem", repito para mim mesma, tentando me convencer de que quem quer que seja, foi embora.

Horas depois, crio coragem para sair e certificar-me de que dessa vez, todas as portas e janelas estão trancadas. Tentei pegar no sono ao longo da noite, mas acabei falhando miseravelmente. Passei horas e horas me revirando na cama, olhando para o teto e relembrando o acontecimento de mais cedo. 

Eu planejava ficar acordada para que o evento de hoje mais cedo não se repetisse, mas após um longo tempo, meu corpo começou a dar sinais de cansaço e eu acabei me dando por vencida. Eu precisava descansar.

{...}

O infernal som do alarme começou a ecoar sem parar pelo quarto e eu olhei o horário: oito e meia.

Ao ver que estava atrasada para a aula, me levantei da cama rapidamente e me arrumei o mais rápido que pude.

{...}

Enquanto corria pelos corredores, eu sentia alguns olhares queimarem sobre mim. Os alunos que estavam presentes nos corredores me olhavam com expressões confusas e engraçadas a medida que eu passava.

—Com licença, Sr. Jones...— Eu disse, abrindo a porta da sala bruscamente.

—Sra. Blake, está atrasada.— O professor de biologia, Sr. Jones, me interrompeu.

Não diga.

—Eu sei, mas...

—Já é a terceira vez somente essa semana.— Ele me corta novamente.

Eu respiro fundo, tentando não surtar com o mais velho.

—Eu sugiro que vá fazer uma visita até a Sra. White.— O Sr. Jones disse e a sala começou a vaiar.

—Calem a boca!— Ordenei.

—Sra. Blake, cuidado com a boca!— O mais velho me repreendeu.

—Você devia ter cuidado com a mão também, Sr. Jones.— Uma voz rouca se pronuncia e eu reconheço-a imediatamente.

Estremeço ao ver Aaron sentado no fundo da sala, encarando o Sr. Jones como se soubesse de algo que o resto de nós não sabe. Ambos se encaram com expressões indecifráveis, mas o Sr. Jones se pronuncia, cortando o silêncio.

—Aaron, acompanhe a Sr. Blake até a diretoria.— A voz do homem falha.

O grisalho se levanta da cadeira e o Sr. Jones, automaticamente, dá alguns passos para trás quando o mesmo se aproxima. Eu deixo um sorriso escapar vendo a cena e sinto meu corpo queimar com o olhar que Aaron me lança quando passa por mim; apenas devolvo o seu olhar, mantendo a cabeça erguida. Quando o garoto atravessa a entrada, eu saio da sala, fechando a porta.

—Por que você me ajudou?— Indago, observando a alta figura parada no corredor.

—Nem um "Obrigada, Aaron!"?

Eu percorro meus olhos pelo garoto, notando as suas mãos enfaixadas.

—O que aconteceu com a sua mão?— Indago e o rosto do garoto se fecha rapidamente.

Ele me encara por alguns segundos, como se pensasse se deveria me contar, ou não.

—Eu te digo o que aconteceu com a minha mão, se você me disser o que aconteceu com o seu braço.— Aaron aponta para o meu braço com a cabeça.

Sinto meus músculos se tensionarem e as memórias da discussão com minha mãe me vem a mente. Enxugo o suor das minhas mãos discretamente na minha calça e tento disfarçar meu incomodo.

—Eu caí...— Mentira.—Acabei me machucando quando você me atropelou.— Mentira de novo.

Ele sabe que é mentira, Aaron não é idiota. Mas o que posso fazer? Eu não posso simplesmente dizer que minha mãe é uma alcóolatra, que me culpa pela morte do meu irmão e por isso, me espanca.

—Eu machuquei minha mão tocando guitarra.— Ele responde.

Aaron também está mentindo e isso é nítido, ele nem se dá ao trabalho de esconder. Eu apenas reviro os olhos, seguindo pelo corredor que leva até o fundo da escola.

—Você não vai falar com a Diretora White?!— Aaron grita.

—Um caralho que vou!

Atravesso a quadra de basquete e me escondo embaixo das arquibancadas, mas reviro os olhos quando vejo que o grisalho veio atrás de mim.

—Pare de me seguir, Jack Frost!

—"Jack Frost"?— Ele faz uma cara de confusão.

—É, por conta do cabelo e do olho azul.— Digo e ele ri.

Eu tiro um cigarro da minha bolsa e ponho fogo no objeto com meu isqueiro. Enquanto me sento no chão, Aaron imita o meu gesto.

—Você está parecendo meu cachorro.

—Se importaria de dividir o cigarro com seu cachorrinho, querida?— Ele diz, os olhos azuis me encarando. 

Por algum motivo, um arrepio percorre minha nuca e então, eu entrego para ele o cigarro entre meus dedos.

—Porra, eu estou acabado.— Aaron resmunga, jogando a cabeça para trás e soltando a fumaça no ar.

—Percebe-se.— Disparo, zoando o garoto.

Ele me lança um olhar intimidador e eu engulo em seco, mas finjo não me abalar.

—Engraçadinha. Estou falando sério, a festa de ontem acabou comigo.

Festa?

Eu suspeitava que Aaron havia tentado me assustar na noite passada.

—Espera, não foi você?!— Questionei, em choque.

—Não foi eu o que, doida?— Ele diz, confuso.

—Não que seja da sua conta, mas ontem a noite tentaram invadir meu quarto e me mandaram uma mensagem.

—Rue, eu posso não gostar de você, mas em nenhum momento passou pela minha cabeça te machucar fisicamente.

Se não era o Aaron que estava me espionando ontem a noite, quem caralhos era?!

—Porra...— Murmurei, percebendo que estava fodida.

𝙏𝙤 𝙗𝙚 𝙘𝙤𝙣𝙩𝙞𝙣𝙪𝙚...

𝐄𝐒𝐂𝐀𝐏𝐈𝐒𝐌Onde histórias criam vida. Descubra agora