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Rue Blake;

[...]

O motivo pelo qual eu estava dirigindo velozmente e sem prestar muita atenção, é que eu havia discutido com minha mãe. Quando isso acontece, costumo sair sem rumo para esvaziar a mente. Eu não sei por quê, mas sentir o vento bater contra o meu rosto e um frio envolver meu estômago a medida que eu acelero, faz eu me sentir melhor. E daí que é perigoso? Essa é justamente a graça, não é?

Gemo quando sinto o álcool arder sobre o corte em meu braço, jogando minha cabeça para trás. Acontece que quando minha mãe jogou o casco de cerveja que estava tomando em mim, acabou quebrando em meu braço e criando um corte. Seguro uma parte da atadura com a boca e uso minha mão livre para dar três voltas com o tecido no meu braço.

Ao terminar o curativo em meu braço, vou até o espelho presente em meu quarto; observo minha imagem descabelada, com alguns cortes sobre a bochecha e alguns hematomas roxos espalhados pelos braços.

É, acho que não vou conseguir ir para a escola amanhã...

Penso, indo até a mesa de cabeceira e abrindo a gaveta, tirando um cigarro de dentro. Me dirijo até a janela e pego o isqueiro presente em meu bolso, pondo fogo no cigarro em seguida. Após dar uma tragada, sinto a nicotina tomar conta dos meus pulmões. Porém, uma alta figura na janela da casa vizinha chama a minha atenção.

O garoto parece estar preso em seus pensamentos, consequentemente não notando minha presença. Aaron está usando uma blusa lisa preta, permitindo que suas tatuagens em ambos os braços fiquem visíveis.

Antes que eu perceba, o garoto está com os olhos semicerrados em minha direção. Ele leva o cigarro que possui entre os dedos até boca, tragando-o enquanto passa seus olhos atentamente pelo meu corpo. Por alguns breves instantes, posso ver o seu cenho franzido, provavelmente estranhando as marcas em meu corpo. As orbes azuis me encaram com intensidade e de repente eu me pergunto se ele conseguiu escutar a discussão com minha mãe.

Balanço a cabeça, rapidamente afastando os pensamentos e desviando meu olhar do garoto. Ao apagar meu cigarro, vou até minha cama e me jogo na mesma, ficando completamente inconsciente.

{...}

Sinto meu corpo ser sacudido e mãos frias tocarem o meu braço, apertando o lugar machucado com força.

—Acorda, vagabunda!— Uma voz feminina e arrastada diz.

Ao sentir uma pressão no corte, me levanto da cama rapidamente.

—Porra!— Exclamo.

—Tá matando aula por quê?!— Emily, minha "mãe", diz.

—Porque você me deixou toda machucada, olha só para mim!

—Isso não é desculpa!

—Claro que é!— Retruco, incrédula.

—Não, não é! Amanhã eu não quero saber de você faltando!— Ela grita, apontando o dedo para minha cara.

—Vão perguntar sobre os cortes.

—Diz que caiu.

—Mas eu não caí, você me bateu!— Assim que termino minha fala, sinto meu rosto arder.

Ela havia me desferido um tapa.

—Qual é o seu problema?!— Eu pergunto, sentindo um bolo se formar em minha garganta.

—Você, Rue. Você é o meu problema!

Vou em direção á chave da minha moto e saio correndo do quarto.

Minha moto está estacionada na frente de casa, então não demora muito até que eu esteja em cima do veículo.

—Rue!— A mais velha diz, correndo atrás de mim.

Eu saio do local com tudo e vou até onde eu costumo ir sempre que estou mal: Larry's.

{...}

Enquanto mecho no meu celular, vejo algumas notificações; todas mensagens de Ayumi.

"Rue, está tudo bem? Por que faltou hoje?"

Não a respondo, mas então, outra notificação chega.

"Você não vai adivinhar quem é o aluno novo!"

Há alguns meses, surgiram rumores de que um aluno novo entraria na escola. Disseram que ele vem de uma rica família, já que seu pai é um empresário famoso.

—Com licença, mocinha.

—Oi, Larry!— Respondo, desligando o celular.

—Como vai?— Ele indaga, observando meus curativos e meus hematomas.

Larry é um grande amigo que fiz graças ao meu irmão. Quando Levi morreu, Larry sofreu bastante já que sempre andávamos aqui em sua lanchonete.

—Ah, eu estou bem.— Digo.

—Rue, você precisa parar de fingir que está bem, isso vai acabar com você. Olhe só para si mesma, você está toda machucada.

Eu baixo minha cabeça, sentindo meus olhos começarem a arder.

—Entendo que a relação com sua mãe piorou depois que o seu irmão morreu, mas ela não tem o direito de machucar você assim. Procure ajuda, garota.

—Larry...— Minha voz sai mais falhada do que o esperado.— Você pode me trazer um cappuccino, por favor?— Peço, tentando mudar o assunto.

O homem solta um suspiro.

—Você é igual ao seu irmão, teimosa e sempre fingindo que não se importa com as coisas.— Outro suspiro.— Já trago seu cappuccino, espere um pouco.

{...}

Ao chegar em casa, minha mãe já havia saído e eu agradeci mentalmente por não encontrá-la. Eu estava olhando meus machucados no espelho quando senti meu celular vibrar no bolso da calça moletom cinza que eu usava.

"Número Desconhecido: Se eu fosse você, fecharia a janela. Imagina se alguém passa e vê você assim."

𝙏𝙤 𝙗𝙚 𝙘𝙤𝙣𝙩𝙞𝙣𝙪𝙚...

𝐄𝐒𝐂𝐀𝐏𝐈𝐒𝐌Onde histórias criam vida. Descubra agora