𝗟𝗲𝘃𝗶 𝗕𝗹𝗮𝗸𝗲;
What the hell did I do?
[...]
Respiro fundo, juntando coragem para girar a maçaneta da porta de meu quarto, se é que ainda posso chamá-lo assim.
Três anos atrás, quando deixei Las Vegas para proteger Aaron, nunca imaginei que Rue fosse sofrer tanto. Me culpo, mas não me arrependo. Sei que minha irmã passou por coisas que nem consigo imaginar, mas não podia deixar que meu melhor amigo fosse preso por algo que foi obrigado a fazer. Tenho certeza de que a culpa que sinto seria bem maior e mais difícil de aguentar se tivesse tomado outra decisão.
Aaron lutou por sua mãe desde que nasceu, e tenho quase certeza de que continua lutando. O mesmo vivia dizendo que iria se formar, para assim entrar em uma boa faculdade e poder dar para a sua velha uma vida boa e tranquila. "A vida que ela merece", ele falava, com aquele brilho nos olhos que a maioria dos garotos de doze anos possuem ao contar sobre os seus sonhos.
Eu não podia simplesmente destruir isso.
Então, menti para Aaron. Não fui até um amigo para que ele me ajudasse. Na verdade, eu estava preparado para morrer porque sabia que se fosse até um hospital, não conseguiria proteger o mesmo. Assim que meu melhor amigo cravou o canivete em meu abdômen, esperei com que o universo decidisse meu destino, enquanto meu sangue carmesim manchava o beco escuro e insalubre na qual fui deixado para morrer.
Mas, pelo visto, morrer não fazia parte dele.
E foi assim que os conheci.
Dois irmãos me acharam e cuidaram de mim. Perguntaram o quê havia acontecido comigo e eu expliquei a situação. Eros e Himeros estavam de passagem em Las Vegas e ficariam na cidade por algum tempo, o suficiente para que eu me curasse. Então, quando meus ferimentos cicatrizaram, viajei junto com ambos de volta para Winter Hill, a sua cidade natal. Fiquei dependendo dos gêmeos por alguns meses, até que a poeira baixasse e eu conseguisse arranjar um trabalho para me manter. E, bom, assim passaram-se três anos, até que eu finalmente pudesse voltar.
Ao abrir a porta de meu quarto, congelo com a cena que vejo.
Está tudo igual.
Fiquei fora por anos, e tudo está no mesmo lugar. Até mesmo a embalagem do último cappuccino da Larry's que tomei e uma jaqueta de couro que havia pego de Aaron anos antes de sumir.
—Eu costumava dormir aqui nos primeiros meses sem você.— A doce voz me tira de meus pensamentos e eu olho por cima de meus ombros, vendo Rue encostada na porta.— Por um tempo, pareceu que você ainda usava esse quarto, então quando mamãe quis se apossar dele, acabei surtando. Foi assim que ganhei a minha primeira cicatriz, e, infelizmente, não foi a última. Não de garrafada.
A última frase faz com que eu baixe minha cabeça, comprima os olhos e solte um longo suspiro.
O quê diabos eu fiz?
—Porra, B, me perdoa.— Chamo-a pelo apelido que criei quando éramos mais novos.
—Perdoar você? Então me diga que não é verdade, me diga que não mentiu para mim.— Sua voz sai embargada e eu noto que a pequena figura está segurando choro.

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𝐄𝐒𝐂𝐀𝐏𝐈𝐒𝐌
AdventureA vida de Rue Blake vira de cabeça para baixo quando um novo corredor de rachas chega a cidade, e piora ainda mais quando ela descobre que ele é o seu novo vizinho. Desde a sua mudança, assassinatos e mensagens misteriosas começam a aparecer, o quê...