A conversa

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Quando você chega perto, eu simplesmente tremo E toda vez, toda vez que você vai embora É como uma faca que corta direto na minha alma
Only love can hurt like this - Paloma Faith

Só andei uma quadra e meia da minha casa, mas não consigo dar mais nenhum passo, paro, lágrimas escorrem em meu rosto, coloco minha mão na boca, porque quero gritar e meu corpo todo dói, a outra mão apoiada no peito, porque meu coração está doendo, me agacho no chão no meio da calçada, não ligo para as pessoas me olhando ao redor.

A mão de alguém toca meu ombro, a pessoa se agacha na minha frente. Jake. Ele coloca minha cabeça em seu ombro e choro ainda mais. Ele me ajuda a levantar, eu limpo minhas lágrimas, estamos andando lado a lado, em silêncio, entramos em uma cafeteria, nos sentamos, ele pede um café, e eu peço um chá, coloco as mãos nos bolsos pelo frio, embora aqui esteja quente.

— Maria, eu lamento por tudo. De verdade, eu sinto muito.

Estou olhando para ele, anotando mentalmente cada detalhe de sua aparência até então misteriosa para mim, mesmo com aquele foto não dava para ver tão claramente como agora, ele é tão bonito, aparenta ser um pouco mais jovem que eu, está franzindo o cenho, mordendo o lábio inferior, sinto a perna dele tremendo embaixo da mesa, está ansioso, quero estar feliz por ele estar bem, por estar vivo, por estar aqui, mas estou muito nervosa, brava, queria bater nele.

— Por favor, diz alguma coisa, qualquer coisa. Me diz o que está pensando. — implora.

— Eu não quero dizer algo que possa vir a me arrepender. — porque eu quero dizer que ele nunca deveria ter voltado, que com sua volta ele estragou tudo, que eu estou feliz, que vou me casar, que eu segui em frente, e também quero dizer que ele nunca deveria ter me deixado em Duskwood, e que estou tão feliz e aliviada por ele estar na minha frente.

— Eu fico fascinado com a sua sensatez.

— Por favor, não me diga coisas assim.

— Desculpe.

— Eu não consigo parar de pensar no quanto a nossa vida seria diferente se você tivesse me escolhido naquela noite, Jake.

— Maria...

— Eu não me importaria de fugir para onde quer que fosse com você. Depois de tudo o que a gente passou, acha que eu não seria forte o suficiente? Acha que eu não aguentaria essa vida? Vocês dois me subestimam muito. Você não me deixou escolher, você decidiu por nós dois, você me deixou, você não me escolheu...

— Eu escolhi você, eu escolhi que você tivesse uma vida normal. Sem precisar ter que fugir, se esconder, sem correr perigo, e foi exatamente isso que você fez. E isso me confortava.

— Você estava confortável em saber que eu estava com outro homem ou você não sentia o mesmo que eu sentia por você naquela época, Jake?

— Não, eu não estava confortável, e é claro que eu sentia, eu te disse — vejo ele engolir em seco. — E ainda sinto, Maria.

— Você estava me seguindo? — pergunto ignorando totalmente a última coisa que disse e ele olha para baixo. — E o que aconteceu com as pessoas que estavam atrás de você? E o FBI?

— Eu não podia ficar longe, não conseguia, eu tinha que saber que estava bem, e eles foram presos, prisão de segurança máxima. E quanto ao FBI, fizemos um acordo e trabalho para eles agora.

— Você me deixou, Jake...

— Também não foi fácil para mim, foi horrível, eu passei mal, todo o meu corpo doía com a sua ausência, não conseguia comer e nem dormir, não conseguia pensar direito. O fato de estar seguindo a vida com outro homem, saber que ele cuidava de você, abraçava você, beijava você, que vocês dois... quase quebrei minha mão de dar socos na parede. Quebrei partes dos meus computadores, tudo o que sentia era raiva de mim mesmo por deixar você. Peguei o telefone pra te mandar mensagem inúmeras vezes, mas desisti, depois de cada desistência era um telefone a mais quebrado. Por favor, me perdoe.

Sempre foi você - Duskwood Onde histórias criam vida. Descubra agora