Capítulo 79 - Depressão

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POV LUIZA:

Desço as malas e encaro elas no meio da sala me jogo no sofá e esfrego minha cara. "Para de fingir que não se importa, Luiza", a voz da Valentina ecoa na minha mente, quem eu to querendo enganar? Como eu vou voltar pra Europa assim? Como eu posso fingir não se importar com a minha mulher e minha filha? Começo a chorar encarando aquelas malas, eu só queria que a Valentina e a Helena fossem comigo, vai doer em mim e nelas, mas as vezes precisamos puxar o curativo de uma vez ao invés de puxar aos pouquinhos, eu não quero deixar elas aqui, eu não posso, mas como? Como vou resolver essa confusão mental que me consome? 

Eu tenho tanta dor acumulada dentro de mim, que as vezes eu acho que não vou conseguir sobreviver com tantas rachaduras em cada canto da minha alma, ninguém sabe o quanto eu me esforço pra me levantar todos os dias e torcer pra que ninguém perceba o quão quebrada estou, nem mesmo o amor da minha vida, a Valentina foi o maior divisor de aguas na minha vida, ela me deu um lar além de físico, mas eu sinto que estar aqui nesse estado atual que eu me encontro vai machuca-la ainda mais, eu sou um incêndio e dentro da minha cabeça existe uma confusão generalizada, meus pensamentos gritam e as vezes eu só queria poder ficar quietinha em silêncio, queria que minha mente não fizesse nenhum ruído, absolutamente todas as minhas memórias estão em chamas, queimando mais e mais, e pra não perder o restinho que eu ainda tenho de mim mesma, choro pra que assim as minhas lágrimas possam apagar um pouco desse fogo que me cerca. 

Eu me conheço o suficiente pra saber que sim, eu estou regredindo agora, na verdade eu estou me deixando por não conseguir mais me reconhecer, e eu não posso depositar toda a minha vontade de viver em uma única pessoa, eu não posso jogar essa responsabilidade pro colo dela, não é justo. Eu to fugindo, mas não porque eu não me importo ou não a ame, eu to fugindo porque assim não vou precisar explicar pra ela algo que nem eu mesma estou entendendo agora, que é a falta de se sentir humana, de se sentir viva e as vezes explicar o que acontece é um campo minado, eu de fato queria me sentir viva e não uma sobrevivente, eu acabo de me dar conta que morri mais um pouco. Os traumas ainda me afetam dolorosamente, eu só levei porrada desde que pisei nesse lugar, e chega um momento que você cansa de apanhar, sinto que ao invés das minhas cicatrizes curarem, elas inflamaram, elas ardem, queimam, me sufocam, uma coisa aconteceu atrás da outra e eu não tive tempo de respirar ou de se quer processar os acontecimentos, e agora as marcas estão aqui, me fazendo voltar atrás. 

Tudo isso me afetou e danificou minha sanidade, é como se eu estivesse presa entre a vida e a morte e eu só estou querendo deixar que o destino decida o que tiver que ser, eu sou uma bomba atômica e acho que é melhor eu ir antes que eu exploda e machuque quem eu mais amo nesse mundo, eu não aguento mais que minhas feridas machuquem as MINHAS pessoas. 

Eu to tentando mais do que todos possam imaginar, e mais do que eu de fato consigo aguentar, e eu juro que estou me esforçando pra não desmoronar porque eu sei que se eu cair eu não vou me importar de me machucar de novo. O choro arranha minha garganta, meu olhar já não é mais o mesmo, é vazio e completamente cheio de tristeza, e eu tenho certeza que meus pensamentos voltaram a guerrear entre sí pra ver quem vai me enlouquecer primeiro. Alguns deles acho que morrem durante o sono e os outros, bom...eles disputam pra ver quem vai me matar primeiro. 

Eu passei por tanta coisa nesses últimos meses que com certeza outra pessoa no meu lugar já teria jogado tudo pro ar, mas eu ainda não, porque a Valentina me puxa pra realidade, mas eu não posso continuar vivendo assim, ela não merece viver a vida inteira tentando salvar uma pessoa do próprio caos. Não existe sensação pior do que se sentir um peso morto na vida de alguém, até onde eu consigo agregar na vida delas? até onde o Léo também estaria seguro comigo? 

O que eu mais venho tendo são crises e mais crises, quando eu olho pra um ponto fixo, eu esqueço como respiro e o meu corpo todo para, a batida do meu coração fica mais rápida e forte e o som dele é o único que preenche meus ouvidos. E nesses momentos eu visito todos os lugares, revivo cada lembrança, me prendo no passado e só quero abraçar todas as minhas versões antigas, principalmente aquela garotinha inocente, eu beijo a testa da minha criança interior, a mesma que precisou morrer pra eu viver e digo sempre a mesma coisa, "Me perdoa, eu não consegui te proteger naquele tempo, eu deixei eles te machucarem", aqueles olhinhos escuros e inocentes me encaram, e ela com aquela voz doce de criança também responde o de sempre, "Tudo bem, não foi sua culpa...eles não se importavam com a gente" e então antes que ela comece a chorar eu encho ela de cosquinhas pra impedir que as lágrimas de tristeza dela caiam e depois lhe abraço apertado.  E sabe o que é pior? quando eu saio dessas crises e volto pro meu eu, não me sinto bem vinda na minha própria vida.

SIMPLESMENTE ACONTECE - VALUOnde histórias criam vida. Descubra agora