POV VALENTINA:
Pego as taças e a garrafa de vinho e desço jogando tudo na pia, não tinha mais clima nenhum a nossa noite pra isso.
Eu tava irritada com a matéria, não só a minha como as outras também, era a minha família se passando por algo onde eu não me encaixava e isso é realmente frustrante.
Assim que volto lá pra cima, Luiza tinha saído do banho, ela estava sentada na cama passando hidratante na perna, eu caminho até a cama me sentando ao seu lado em silêncio e assim permanecemos já que ela também não disse uma palavra, mas diferente dos outros, esse silêncio não era nem um pouco confortável.
- Quer ajuda? - Digo quando vejo ela tirar seu roupão e tentar passar o hidratante nas costas.
- Não, obrigada... - Sua voz sai quase como um sussurro e ela não chega nem a me olhar.
- Luiza...- Respiro fundo. - Eu vou te falar exatamente a mesma coisa que eu te disse hoje mais cedo. - Disparo e ela me direciona o olhar e eu engulo seco.
- Pode falar Valentina. - Ela me encara.
- O fato de eu entender o que acontece com você, não tornam as coisas mais fáceis pra mim! - Fixo meu olhar ao dela.
- Olha Valent...- A interrompo.
- Agora você precisa me ouvir, por favor, ta na hora de você me entender um pouco também, Lu. - Me ajeito. - Eu fiquei chateada pra caralho vendo aquelas manchetes.
- Mas elas não são verdadeiras. - Ela rebate tranquila.
- Realmente não são, mas se coloca no meu lugar amor, poxa... - Suspiro. - É a minha mulher, os meus filhos e a minha família que estão sendo citados e eu estou TOTALMENTE de escanteio, como você ia se sentir? - Ela engole seco. - Olha tudo o que a gente vem passando juntas e no final eu preciso lidar com uma matéria me invalidando? Vendo que eu não me encaixo ali? Porque de certa forma, você nega isso...
- Eu te pedi desculpas por isso, e peço de novo, desculpa...mas eu não consigo ainda. - Ela respira fundo.
- O que você não consegue? Se aceitar? - Me aproximo sentando um pouco mais perto.
- Me assumir, pra assim te assumir. - Ela diz cabisbaixa.
- Mas Luiza, em nenhum momento eu pedi pra você me assumir pras pessoas, só gostaria que parasse de esconder quem somos. Você não precisa chegar pra alguém e falar "oi essa aqui é a minha namorada, sim eu sou gay e gosto de mulheres" não é isso. - Seguro a mão dela. - Podemos viver a nossa vida e as pessoas que interpretem como quiserem. Como foi o caso de todos na sua empresa por exemplo, todos ali sabem que somos um casal, mas não porque falamos, eles simplesmente viram a gente sendo somente a gente...- Nesse momento dou risada e Luiza me olha sem entender. - Ou no caso da Bruna, ouviram a gente sendo só a gente. - Gargalho alto.
- Valentina!!! - Luiza me empurra começando a rir também e para respirando fundo. - Você tem razão cariño, eu no seu lugar com certeza teria ficado magoada também, desculpa por ter me alterado com você, não queria que você se sentisse invalidada, até porque na minha vida, você foi, é e sempre será a pessoa que mais se encaixa.
- A gente não precisava de uma briga agora, eu entendo e respeito seus motivos. - Respiro fundo. - Sei que você se descobriu aos 28 anos e... - Ela me interrompe.
- Não é só sobre se descobrir aos 28, é sobre ter passado os 28 anos da minha vida, ouvindo e presenciando que isso é errado, sendo trancada em uma caixa sem poder sem quem eu era, foram 28 anos da minha vida, passando diante dos meus olhos sem eu ter forças pra me desamarrar do preconceito que me cercava. - Ela dizia tranquila, com a respiração pesada. - Eu não falo muito sobre o meu pai, mas ele era sim uma pessoa homofóbica que fazia questão de me mostrar o quanto isso era "doente", eu sei que não convivo mais com o meu pai, mas a voz dele ecoa na minha cabeça sempre. Então por favor entenda que não é só sobre se descobrir aos 28 anos, mas sim que eu perdi 28 anos da minha vida sem poder ser quem eu realmente sou. Eu nunca fui feliz e você sabe disso cariño, até você aparecer na minha vida eu não sabia o básico sobre se relacionar com alguém e amar essa pessoa de verdade, eu não sabia nem o que era um orgasmo Valentina, eu tô começando a viver de verdade agora ao seu lado.
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SIMPLESMENTE ACONTECE - VALU
RomantizmQuando duas almas sem pretensão alguma estão destinadas a se encontrar, nada e nem ninguém pode mudar o que simplesmente acontece. Duas mulheres de vidas e lugares diferentes. Uma que mora na Europa e outra no Brasil são destinadas a ficarem juntas...