Lábios de vinho - pejão

FUMAÇA

A música de fundo estava baixa, Renan estava jogado no sofá enquanto conversava com Pedro sobre algum tipo de jogo, Malu estava no andar de cima com João e aquela conversa parecia durar mais do que Deus permitiria.

– Você tem ideia do que aconteceu com o João? – Pedro não pode evitar sua curiosidade, falava mais alto.

– Cara, pior que ele nunca se abre mas deve ser alguma coisa com os pais malucos dele – Renan explicava enquanto o amigo abria o vinho.

– pais malucos? mas na TV eles parecem tão legais – Pedro ergueu a sobrancelha.

– eles são o tipo de pessoa que faria tudo que você quer pra te ter sob controle, eu acho. – Renan pegou a taça que lhe foi entregue pelo amigo.

– achei que a vida dele era perfeita tipo aqueles filmes da Disney – Pedro respondeu antes de dar um gole no vinho.

– acho que não existe vida perfeita pra ninguém, no final do dia todo mundo tem que se olhar no próprio espelho e se comparar com o dos outros, é cruel. 

Malu e João desceram as escadas, ele estava com um pijama. Calça cheia de estrelinha e a camisa era igual.

– agora tá explicado porque demoraram, vocês estavam no banho – Pedro se levantou, já parecia um pouco alterado pelo vinho. – aí, eu tenho erva se vocês tiverem afim.

– você não é asmático? – João falou pela primeira vez diretamente a ele, o olhando com uma das mãos em sua cintura.

– idai né, todo mundo morre com o próprio veneno, eu também achei que não gostasse de vinho até sentir o gosto de um bem caro – Tófani jogava palavras e parecia que sua cabeça estava fora de controle com elas.

João abaixou a cabeça ficando sem graça, o que era aquilo, ele tinha corado com uma piadinha de Pedro?

– você pode acender isso e me dá – Malu sentou no sofá, pegando de Renan a taça de vinho.

– eu também tô afim, amanhã não tem aula mesmo – Renan aceitou o cigarro.

O cacheado apenas encarava enquanto Pedro fazia o trabalho com a seda, logo depois os amigos compartilhavam do mesmo gosto e cheiro.

– acho que eu vou dormir, tá tarde e eu não posso ficar com olheiras – o mais novo respondeu se afastando daquilo.

– qualquer coisa me chama – Malu gritou enquanto o outro acenava para ela com a cabeça.

Alguns petiscos, vinho e a fumaça tomaram conta da noite dos três amigos.
Renan acabou sendo o primeiro a desistir e subir para dormir. Malu viu dois episódios de uma série policial com Pedro e também não resistiu muito. Ele não estava afim de dormir no quarto com Renan e o amigo presenciar mais um de seus acidentes matinais devido aos seus sonhos frequentes com o cacheado, então continuou na sala.

Estava vestindo sua jaqueta e olhando o celular esperando o momento certo, quando ouviu passos.

– hum… você está acordado ainda – João olhou para baixo pra não manter contato.

O João daquele outro dia parecia ter o dobro de confiança.

– você não tinha que cuidar da sua pele e essas coisas de gente fresca? – Tófani perguntou bebendo um pouco mais de vinho.

– não é coisa de gente fresca, deu pra entender agora porque você parece um zumbi, é um ignorante. – cruzou os braços.

– começou, olha só se você quiser fingir que eu não tô aqui vai ser melhor pra nós dois – Pedro voltou a caminhar até a porta.