Haviam se passado três dias desde que João embarcou para a itália, Pedro foi incluído por Malu em um grupo onde o cacheado mandava atualizações aos amigos. Ele parecia mais feliz, mais leve, mais potente. Enquanto isso, o moreno sentia saudades e até mesmo se pegou acariciando sua foto de perfil. Ridículo.
Ele queria deixar o outro viver e encarar sua atual realidade, onde não tinha o outro. Sabia que não era impossível viver sem ele, ninguém morre de amor, é tão brega pensar nisso. A questão é que ele não queria viver sem o outro.
Agora estava em seu corsa ( cujo qual havia sido devolvido por sua mãe) deitado com a cabeça no banco enquanto cantarolava
“no final de tarde, tudo se mistura
A saudade invade e chama por você
mais que uma vontade, chega ser loucura
o meu corpo arde em chamas por você"Seus olhos estavam fechados e ele aprofundou seus pensamentos em memórias bonitas, podia até sentir o vento em seus cabelos, do beijo iluminado pelo eclipse.
– você não vai ficar sofrendo dentro desse carro, né? Nossa senhora eu nunca imaginei te ver chegar nesse ponto, ouvir pagode e beber água com gás? Você tá na pior cara! – Thomás gesticulava enquanto ria, ele não estava achando engraçado, mas sim, irônico.
– me deixa em paaaaaz – Pedro disse arrastado, pela preguiça. – eu estou em processo de superação e estou no estágio do luto. – ele apontou para a música na rádio.
– porque você não vai procurar outra pessoa pra sei lá, se divertir em? Eu entendo você, ele tinha uma BMW, mas você pode achar outro desse onde achou ele – o menino falava em um tom de tamanha normalidade.
– ninguém é igual a ele.
A tarde chegou depressa.
Malu tentou obrigar Pedro a ir a sua casa, mas ele negou e quis ficar no sofá assistindo a um filme de terror. Ele disse a Thomás que o ajudava a pensar só na história, mas o moreno se emocionou com o casal principal.
Malu resolveu ficar por ali, percebeu que o ambiente estava estranho.– okay, quer me contar o que você tem? – ela finalmente perguntou. Antes do filme acabar, eles estavam abraçados sem dizer nada.
– eu tô carente, só isso – resmungou.
– carente… você tá acabado, parece até um universitário no meio de semestre.
– meus pais vão se separar – ele soltou, talvez já tivesse passado da hora de Malu saber sobre ele, mas não neste momento.
– uau, me desculpa, eu não sabia disso – ela abraçou o corpo dele enquanto acariciava suas costas.
Dois toques, Malu acendeu a luz e atende.
Pedro olhou para a tela ilimitada do celular da amiga, sentou no sofá e ela se sentou ao seu lado. Tentou evitar contato, mas a voz dele preencheu todo o ambiente.– E aí, já pegou sotaque? Como que tá aí? – ela perguntou sorrindo enquanto se ajeitava no sofá.
– ah, eu tô me acostumando com o clima – ele sorriu sem graça, quando percebeu onde e com quem malu estava.
– eu tô morrendo de saudades de você, quando volta? – ela fez um bico, Pedro parou para prestar atenção, especialmente nessa parte.
– é, na verdade eu tô morando aqui com a Bella até um tempo – ele disse acendendo a luz do quarto onde estava. Seu corpo estava desnudo, usava apenas uma calça de pijama e tinha em mãos uma taça de vinho.
Pedro não pôde deixar de notar, sentiu sua pressão subir e descer antes de se estabilizar, resolveu se levantar e ir o mais rápido que podia até a cozinha.
Ele bebeu um copo d'água e suspirou.“Na verdade eu tô morando aqui”
꒰⑅ᵕ༚ᵕ꒱˖
O pai de Pedro colocou em seu carro a última mala, abraçou Thomás e o encarou. Seus olhos eram tão cheios de algo que o dava formigação. No dia em que Pedro descobriu o que ele havia feito em sua infância, parou de falar com o homem.
Não conseguia olhar, e nem pensar em perdoar ele. Mas agora as coisas estavam tão bagunçadas nele. Quando se deu conta, já abraçava o mais velho, sentindo os braços dele em volta de suas costas.
– eu sei que você não me ama do jeito que eu sou, mas eu quero que você fique sabendo que é esse o Pedro que você trouxe ao mundo – ele disse baixinho. – Pedro que se apaixonou pelo João quando era criança, esse Pedro que também não quer fazer faculdade – terminou se soltando do pai. – mas também o Pedro que não quer te odiar pra sempre.
– eu sempre te amei filho, mas isso não significa que eu vou conviver com as suas questões – ele disse tentando não demonstrar que sentia.
– eu não preciso disso, eu amo quem eu sou – ele sorriu de lado. – até algum dia.
Entrou em sua casa e avistou sua mãe encarando um retrato. Eram Pedro, Thomás, ela e seu pai. Se lembrava daquele dia, que eles pescaram o maior peixe do festival de pesca, e a mulher dizia que era nojento, porque eles queriam tanto perturbar os peixes.
Pedro acha engraçado como seu pai se animava com algo tão silencioso.
Se parasse pra pensar, eles eram tão opostos quanto João e ele.– esse dia foi uma merda – ela disse suspirando fundo, enquanto abaixou a foto.
– hey, eu tô aqui – se aproximou da mãe e abraçou a mais velha.
– amor, eu tô bem, já faz muito tempo que eu aceitei o nosso fim – ela dizia baixinho. – acho que estou em paz agora.
– desculpa não ter feito nada pra te ajudar – o moreno mexia em seus próprios fios de cabelo.
– você fez, e faz sempre desde que se tornou meu filho – ela beijou a testa de seu primogênito. – olha só, quem diria, nós dois estamos digerindo um término juntos. – ela comentou rindo com a ironia da vida.
– a gente nunca chegou a namorar de verdade, eu meio que me emocionei demais – Pedro riu alto, sem qualquer emoção positiva.
– não chegaram a conversar sobre o sentimento ter mudado? – a pergunta o fez rir de lado. Se lembrou do seu último contato com João.
– eu disse pra ele tudo que eu sentia, nós brigamos e aí então ele me ignorou. – pegou seu celular. – Só que aí ele me chamou pra conversar, me enrolou e não disse nada, e no final me mandou uma música, EM INGLÊS, eu nem sei falar inglês. – ele riu nervoso. – mas ele cantava, e aquilo me fez desmoronar completamente.
– posso ver a música? – sua mãe pediu. ele procurou o arquivo, entregou a ela junto de seus fones.
– eu até esqueci que a senhora é uma metida e bilíngue. – ele lambeu os lábios. Por um segundo sua mente o levou na mania que João tinha, de morder seu dedo mindinho quando estava nervoso.
– eu nunca vou entender como você puxou seu pai em tudo, que lentidão. – ela pegou o bloco de notas na gaveta abaixo do abajur e começou a notar algo. – Pedro Augusto, você disse que ele não te correspondeu mas ganhou uma música com tudo o que precisava saber – ela o entregou o papel.
Era a letra da música em português.
Quando o moreno começou a ler, seus olhos encheram de muitas lágrimas. Diferente de João, ele não sabia fingir que não sentia, ele não sabia segurar nada.– onde é que esse menino foi mesmo? – ela perguntava enquanto mexia em seu celular.
– Itália, capital – ele disse antes de se sentar no sofá passando os dedos pela letra. – ele tentou me dizer, mas eu sou tão burro – murmúrios foram ouvidos. – eu deveria ter ido atrás, agora eu não tenho mais nenhuma solução.
– você tem a mãe mais legal do mundo – ela apontou para a tela do celular, mostrando a compra de uma passagem para a Itália.
– como assim? Mãe, eu não posso aceitar isso é muito – ele se embalou nas palavras.
– cala boca menino, vai atrás do teu garoto! Eu vou atrás do seu irmão porque não é hora de criança estar na rua.
Era hora de recomeça.
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Lábios de vinho - pejão
FanfictionPedro e João não conseguem dividir espaço ou tempo sem transformar em uma bolha de insultos inacabados. nada muda, mas se transforma. quando o mais velho sente o cheiro do álcool bater em seu pescoço, o vicio do gosto de vinho em seus lábios.