PRADA

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A despedida do ensino médio não foi fácil, ainda sentia a cobrança sobre seus ombros. Seus pais diziam que ele deveria prestar vestibular, porque “nenhuma mulher iria querer um cara mal sucedido”. Mas a questão é que ele ainda não sabia o que queria fazer. Assumiu a responsabilidade de cuidar da locadora de seus pais e passava a maior parte do tempo conversando com idosos, alguns adolescentes alternativos, adultos nostálgicos. Sabia amar filmes e a coisa toda, mas não queria enfrentar o fim do ensino médio.
Ainda podia ouvir o barulho que seu time de futebol fazia quando ganhava um jogo, como era decepcionante quando um professor legal se chateava com a turma. As festas, os passeios, seus primeiros amores que rosavam suas bochechas.
Ele não queria, mas precisava aceitar que aquilo tinha fim. O que tirou de bom de tudo isso, era o tempo livre para aproveitar as coisas que sempre quis, mas os donos de seu sobrenome sempre davam um jeito de tirar seus pés de Marte, ele se odiava todas às vezes que isso acontecia.

– olha só, quem tá viajando de novo, como é que você gosta de ficar tanto tempo no meio dessa poeira? – a menina do sorriso largo, acompanhado de covinhas e o cabelo tingido apareceu. Sua melhor amiga desde muito tempo, era ela quem o fazia manter seus pés em Marte.

– você pintou o cabelo de rosa – sorriu ladino, mostrando seus caninos.

– gostou? é pra festa do João Vitor. – a menina mencionou, Pedro revirou os olhos e se sentou na poltrona velha.

– não faz essa cara, porque eu te preparei pra isso. Não tem ninguém pra me levar, e você é meu único amigo com carro e dia livre – ela pontou, mexendo nos cabelos do amigo.

– tá, eu te levo e quando for pra te buscar, você me liga. – pedro deixou se levar em seus pensamentos.

João e ele não acontecia, de jeito algum. eles sempre discutiam quando se cruzavam. Pedro achava o cacheado a pessoa mais arrogante e metida que conhecia, e ele realmente era. Se lembrava nitidamente de sua primeira conversa e de todas às vezes que tentou desenvolver e tornou-se algo frustrante. 

Tófani se mudou aos onze para São Paulo, e João já estava lá. seus amigos ainda não tinham esse título, e o receberam para mante-lo. Romania, por outro lado, nunca deu abertura e aos poucos Pedro desistiu de tentar.

– cara, você viaja muito mesmo! – voltou a atenção da amiga quando sentiu o estalo dela diante de seus olhos.

– tava me preparando psicologicamente pra ver o boneco de plástico – responde o garoto, fazendo a amiga rir.

Pedro chamava João de “barbie” com um tom de implicância. Pelo fato dele o olhar com desdém sempre que o dirigia a palavra, como se soubesse de tudo e fosse o dono dos sentidos das coisas. João por sua vez, o devolveu o apelido, o chamando de “caipira”, o que não ofendia, mas ele gostava de fingir ligar.

– eu sei que vocês não se dão bem, mas obrigada por me levar. Ele é legal, juro pra você – Malu colocou a mão sobre os ombros do amigo. – eu gostaria que você conhecesse o verdadeiro João.

– eu já conheço o de mentira, minha vontade era de esquecer – Pedro respondeu suspirando. – prometo não implicar só porque hoje é aniversário dele.

– então você decorou o aniversário dele? – Malu perguntou rindo.

Como poderia esquecer, foi o dia em que pedro se sentiu inseguro para explorar o espaço que era João, e nunca tocava no assunto.

– óbvio, você falou disso por duas semanas, Maria Luísa.

                       ꒰⁠⑅⁠ᵕ⁠༚⁠ᵕ⁠꒱⁠˖

a mansão transmitia luzes de todas as cores, Pedro olhava do carro e cruzava os braços após estacionar. O tédio corrompia sua vontade de fugir dali.
Ele não teria pra onde fugir nessa noite. Todos os seus amigos estavam na festa, ele odiava ficar em casa, não havia sido convidado e talvez seria incrível implicar com alguém a noite toda enquanto roubava bebida.

– eu te vejo na saída, te ligo – malu beijou a bochecha do amigo e foi em direção a entrada. Decidido, o moreno saiu de seu carro e deu a volta. Sabia que a entrada teria lista, apenas pensou na melhor solução: pular o muro. Tudo por diversão.

a tarefa mais difícil foi subir, não que ele fosse baixo, mas o muro que cercava a casa era maior que sua casa inteira. de cima ele podia ver as estrelas, e por um momento avistou alguém na janela do andar de cima.

João ajeitava seu cabelo de frente a um espelho, não dava pra ver suas vestes, mas seu rosto estava brilhando. e na luz da lua parecia ser o alinhamento perfeito.

se descuidou e em questão de segundos escorregou, praguejou todas as coisas mais feias quanto sentiu a água gelada da piscina em seu corpo. Mas pensando bem, ainda bem que tinha algo que pudesse amortecer a queda. Ao sair dela, Pedro não sabia que poderia piorar.

O pai de joão tinha dois cachorros enormes, e eles não estavam ali a atoa. Ele correu tão rápido que se sentiu seco, agarrou a maçaneta e encontrou o acesso à casa. A festa estava acontecendo em um chalé a frente da casa, também pertencente a família romania, por isso a razão de estar vazia.

ou pelo menos parecia.

– ótimo, então foi por isso que David e Freddie latiram tão alto, temos um invasor direto do interior. – João levantou da cadeira com uma xícara de chá. o mais velho revirou os olhos. Como alguém poderia ser tão esnobe?

– E-Eu... tava procurando o Renan.

– você pulou o muro, caiu na piscina e correu dos meus cachorros procurando o Renan? – João riu. – era só pedir um convite.

– até parece que eu faço questão da sua festa idiota – Pedro de levantou pra sair, mas o outro parou novamente.

– você pode pegar um resfriado, é melhor.. trocar de roupa pelo menos, você pode procurar o Renan lá dentro – apontou para o chalé pela janela.

– eu me recuso a vestir Prada, você sabe o que essa marca esconde? – Pedro se levantou e saiu pela porta, parou nela e se virou. – e eu não preciso da sua ajuda.

E então ele saiu procurando Renan, João pensava nas chances que o outro tinha de pegar um resfriado. Porque ele deveria se importar com aquele arrogante?

Não mesmo.

                        ˖⁠꒰⁠ᵕ⁠༚⁠ᵕ⁠⑅⁠꒱
  

Lábios de vinho - pejãoOnde histórias criam vida. Descubra agora