QUEIMANDO ROMA

1.4K 109 164
                                    

Roma é um lar bonito, aquele quarto parecia ter sido pintado pelas mãos de van Gogh, cantado pelos sonhos de Rita Lee. Era onde o amor fazia tudo parecer possível, embora que fora daquela cidade diferisse, os dedos de Pedro apertando a cintura de João enquanto o sol batia em sua pele desenhada e seus olhos se enchiam de declarações singelas, parecia fazer valer a pena.

Afinal, tudo que procurou por muito tempo, encontrou em um lugar que não havia vasculhado. Ele não precisava dizer amar Pedro, para dizer que o amava. Seus lábios nos deles colados na dimensão em que seu corpo o amava por completo, cantavam todas as canções de amor já compostas pela sincronia dos poetas. Eles se amavam tanto, que quando se tocavam sentiam que finalmente estavam completos.

– eu gosto do cheiro do seu cabelo, me dá vontade de enrolar eles o dia todinho – Tófani soltou aleatório. Eles estavam sentados na varanda, abraçados. João tinha suas pernas brincando com as de Pedro enquanto os braços do outro prendiam em seu corpo. O mais velho descansava a cabeça em seu ombro, ditando as palavras no pé do seu ouvido.

– eu gosto de tudo em você – ele respondeu olhando para frente – na verdade, tudo é muito, detesto suas roupas bregas. – o mais novo umedeceu os lábios.

– ah! para eu sei que eu sou perfeito – Pedro retrucou, fazendo o outro se soltar dele.

– babe, eu tenho uma surpresa pra você hoje – Romania se aproximou dos lábios avermelhados do namorado.

– se você me chamar assim de novo, eu vou fazer tantas coisas – Tófani soltou rangendo os dentes, fazendo o outro rir. – eu gosto quando você me xinga também.

– okay essa conversa tá ficando super esquisita – eles arregalaram os olhos vendo a voz vir de trás, era Isabela com a mão na maçaneta, a porta estava aberta.

– você não ouviu o que ele fala quando – Pedro foi cortado por um João completamente avermelhado, colocando as mãos em sua boca.

꒰⁠⑅⁠ᵕ⁠༚⁠ᵕ⁠꒱⁠˖

Eles caminhavam de mãos dadas enquanto conversavam sobre a vida, riam de coisas bobas e se beijavam aleatoriamente. As ruas de Roma estavam enfeitadas de amor, e vários outros sentimentos. Pedro fotografou o namorado. Ele usava uma camisa de gola alta da cor vinho, uma calças skinny e seus cachos estavam perfeitamente arrumados. Já Tófani apenas usava um short jeans, camisa branca e um boné da cor rosa, ele vasculhou o guarda-roupa de João inteiro até dizer.

hum, enfim um item fora do guarda-roupa do Ken."

o cacheado o julgou com o olhar naquele momento, mas ele ignorou.

Agora estavam a caminho de um restaurante, o mesmo que Pedro havia lavado duzentos pratos por horas.

– você vai conhecer hoje, o que é massa de verdade – João citou rindo das cócegas que recebeu.

– você acha que eu não comi massa? Eu não sou tão pobre assim – o moreno respondeu ofendido, fingindo estar bravo.

– claro que não, seu boboca, eu tô falando de massa italiana isso aqui é ouuuutro nível – ele gesticulou com as mãos, enquanto o mais velho ergueu a sobrancelha.

– João… quando foi que você percebeu que, você… – ele tentava perguntar de uma forma que não parecesse desconfortável

– Que eu sou gay? Ah.. Sabe que minha cabeça ela não se lembra exatamente, acho que eu sempre soube gostar de meninos, eu até tinha um crush no DiCaprio e no Peter Pan do filme.

– Eu tava falando de quando você percebeu gostar de mim – Pedro soltou rindo da cara que o outro fez.

– ah isso… vai parecer muito clichê, mas, no dia que você chegou em São Paulo.

2015

João estava em cima da casinha mais alta do playground de seu condomínio, quando viu um caminhão de mudanças abrir as portas traseiras e correu até lá. Ele achava que Ana, sua amiga, estava de mudanças. Mas, na verdade havia uma família se mudando para sua casa.

Um menino desceu segurando um skate, ele estava com o olhar sonolento.
Depois daquele evento, o moreno apareceu na sala de João, a professora o apresentou e foi quando o cacheado pôde descobrir seu nome.

Pegou a última folha de seu caderno e escreveu “o nome dele é pedro”, com vários corações em volta. Depois desse dia, ele passou a o admirar secretamente. Quando Ana fez o convite para o trabalho em sua casa, ela foi clara.

– você não pode ser amigo dele, ou eu não quero mais ser sua amiga – ela dizia séria.

– eu vou sim, você não manda em mim – cruzou os braços em negação.

– eu conto aquilo pro seu pai, então – ela ameaçou, alto e claro.

– Você está falando sério? Nós somos amigos e você não pode contar meu segredo.

– eu não quero fazer isso, é pro seu bem – ela apontou o dedo, relaxou as mãos e fez um coque em seus cabelos.

– Tá bom, eu não vou ser.

Depois daquilo, João e Pedro fizeram amizade escondidos. Eles viam filmes juntos, foram ao cinema uma vez e aquele foi o primeiro dia em que Pedro soube sentir algo. Quando as mãos se encostaram no balde de pipoca, Tófani corou e suspirou baixinho.

Os dias passaram, os meses passaram, Pedro segurou a mão do menor em uma quarta de cinzas. Ele se enrolou o dia todo tentando dizer algo a mais que o toque, mas abraçou o cacheado podendo sentir as coisas fazerem sentido.

Na mesma semana, João selou seus lábios

– eu queria que você fosse meu namorado”

– eu quero, eu quero ser – o outro respondeu eufórico, e o cacheado selou a promessa de que nunca o deixaria.

Ele de fato nunca o deixou, seu coração sempre esteve em julho de 2015, e julho virou a lembrança de que seu amor foi arrancado de si, mas agora tudo diferia, agora julho eram eles.

Ele viajava longe em sua memória enquanto contava, parecia estar naquele lugar.

–  Então você foi primeiro, não acredito, eu jurei que tinha sido eu! – Tófani estava incrédulo, comia a massa fazendo o mínimo de esforço com todos aqueles talheres, ele usava apenas o garfo comum.

– é que você não sabia esconder estar completamente apaixonado por mim – João soltou uma gargalhada.

– eu ainda não consigo – o moreno soltou as palavras fazendo uma moça que passava por ali, julgar com o olhar. João estava praticamente colado em seu rosto agora, deixou um selinho em seus lábios.

Em questão de segundos, o ar se transformou em outro, até o cheiro de molho e comida boa tinha sido substituído. O perfume caro preencheu o ambiente, os dedos do homem estavam pousados nos ombros de João.

– era dessa pouca-vergonha que você se referia quando quis fugir de casa? – o tom do Romania mais velho se fez presente.

Lábios de vinho - pejãoOnde histórias criam vida. Descubra agora