FAÍSCAS

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A madrugada estava mais gelada que o normal, nem todos os aquecedores da mansão podiam fazer aquele frio se amenizar, todos já estavam dormindo enquanto desde de o momento em que Malu empatou o momento dos dois, João estava acordado encarando a janela do quarto de hóspede. Decidiu por fim que faria um chá para que tentasse sentir sono, os efeitos colaterais da erva ainda não estavam presentes por completo, mas como dizem por aí ela te entrega ao sono, João como uma pouca porcentagem das pessoas recebeu a insônia em sua porta.

Apertou os botões da máquina do chá de camomila, e caminhou seguindo um vácuo, nada de barulho. Mas quando começou a prestar atenção total e chegar mais perto da sala de estar, ouviu murmúrios baixinhos.
Pedro dormia na sala, estava enrolando em uma manta e falava palavras difíceis de interpretar, apesar de.

“João, desce mais”

Estava perfeitamente compreensível, okay, aquilo era vergonhoso no ponto de vista de Pedro, então iria guardar para si, como uma das coisas que guarda sobre Pedro que ninguém pode saber. Chegou um pouco mais perto e percebeu que o outro estava suando, mas estava tão frio como ele estava suando?

– hey, com licença – mesmo que o outro não pudesse ouvir, pediu permissão para tocá-lo e colocou uma mão sobre sua testa, seu pescoço e também suas bochechas: estava ardente. – você está com febre, o que eu faço? – pensou consigo mesmo.

Quando estava doente, tinha seu tio que é médico, nunca precisou de fato se preocupar. Pesquisou sobre febre e como baixar a temperatura. Deixou tudo que estava ali e foi umedecer toalhas assim como viu no vídeo, ele sempre estava na casa de Malu então sempre soube onde tudo fica, em sua casa isso não acontece.

– Pedro, sou eu João.. acorda – sussurrou baixinho para não assustar o outro mas só ouviu murmúrios, então colocou a toalha úmida em sua testa e o balançou. – eu preciso que você acorde, por favor – falou outra vez, e balançou torcendo aos céus.

– hum.. o que eu, João? – o mais velho abriu os olhos lentamente sentindo seu corpo todo dolorido, e um frio que não parecia querer ir embora.

– você está queimando, tem essas toalhas úmidas mas eu preciso que você acorde pra medir a temperatura. Você está respirando bem? 

– como você sab… esquece, é, eu não tô respirando muito bem mas vai passar, aqui na sala tá muito frio e eu não consigo me adaptar naqueles quartos, me sinto em um hospital ou um hospício – falou com a voz mole, segurando a toalha. O cacheado riu de lado, se levantando.

– você não pode ficar tomando friagem e nem pode fumar tanto se tem problemas respiratórios, sabia? Eu vou puxar a sua orelha.

– você fica bonito de pijama – ele soltou do nada, como se aquilo tivesse relação com a conversa. João saiu para a cozinha sentindo uma sensação esquisita de algo em seu peito. Parecia formigar e coçar e querer explodir dentro de seus pulmões e todos os órgãos envolvidos internamente.

Quando voltou para a sala, Tófani estava deitado com a mão em seu peito, puxando ar. Droga

– aí meu Deus aí meu Deus, o que eu tenho que fazer? Calma João não pira

– no me- bols- – Pedro dizia puxando o ar, João olhou ao redor e em cima da poltrona estava o moletom do outro. Rapidamente colocou a mão dentro do bolso e encontrou uma bombinha, correu até o sofá e colocou na boca de Pedro, o cacheado a puxou duas vezes até o outro respirar fundo e tudo se normalizar.

– você tá bem mesmo? Não quer ir ao médico? Eu posso ligar pro meu tio e ele vem na hora em questão de minutos – o cacheado falava rapidamente.

– eu tô bem, você já é o suficiente – ele disse baixinho enquanto se ajeitava no sofá.

Um João corado levou até a ele a sopa que tinha feito, colocou em seu colo.

– você come ela e depois toma isso, é pra sua febre não voltar – apontou para o remédio. – não que eu esteja me gabando mas eu cozinho bem, então come tudo.

– você cozinhou pra mim? Uau.. você – ele parou de dizer e colocou a colher na boca tentando assimilar tudo que estava acontecendo. O cacheado mediu sua temperatura e se jogou na poltrona, cansado.

– baixou, que alívio. – suspirou. – agora você vai tomar um banho e vai dormir lá em cima, e eu não quero que você seja um teimoso de novo, eu vou ficar de olho em você o resto da noite tá me ouvindo? – ele dita ordens tirando de Pedro uma pequena gargalhada.

– você quer dormir de conchinha comigo e não tá sabendo pedir? Okay eu deixo, sabia que você ia se apaixonar primeiro. – ele piscou para o cacheado, que jogou nele um travesseiro. O prato de sopa já estava na mesinha, e vazio.

– se você quer saber, eu não me apaixono por assalariados – o cacheado se levantou passando a mão nos fios, com o nariz empinado. – tá esperando o que, anda, já pro banho! – ordenou com o rosto sério.

– Tá bom chefe, você que manda – Tófani levantou com o rosto ainda meio apagado e subiu as escadas. João o seguiu até o quarto.

O mais velho tomou o banho morno como o outro havia o obrigado, e saiu já vestindo a camisa do Queen e uma calça de pijama que João o emprestou. Tomou o remédio como o outro também havia o obrigado, e quando saiu do banheiro se deparou com algo que fez todos os seus sentidos se ativarem.

João deitado na cama com a mão apoiada na mesinha do lado cama, segurando um chá que ele havia mencionado que faria para o maior. ele cochilava e sua respiração o fazia soltar murmurinhos, os olhos de tófani dilataram com a cena, seu peito agora doia de um jeito desconhecido.

Fechou a porta do quarto, tirou a mão de João da xícara e o ajeitou também o cobrindo. Apagou a luz e se permitiu, hoje nada importava depois de todo o cuidado que o cacheado havia tido com ele. deitou atrás do mais novo e o abraçou se alinhando em seu pescoço. João conseguiu sentir mas nem por todo o ouro e prata se atreveria a sair daquela zona de conforto, que sabia que não iria durar.

Sentiu os dedos de Tófani entrelaçados com os seus. Faíscas, uma pequena explosão interna.

Lábios de vinho - pejãoOnde histórias criam vida. Descubra agora