|KAYLE BERTOTTI|
-Kayle, você sabe que agiu feito um tremendo idiota, não sabe? Pelo amor de Deus, seu cabeçudo! Às vezes eu me pergunto seriamente o que deve se passar dentro desse seu cérebro afetado pelo uso excessivo de água oxigenada.
Essa é a primeira coisa que Débora me diz, assim que nos encontramos no dia seguinte, em frente ao departamento de engenharia civil na faculdade. Bufo para o início da ladainha sem fim. Reviro os olhos para suas palavras, mas não escondo a risada, sabendo muito bem a qual assunto que ela está se referindo. Eu não sou idiota, é claro.
-É, realmente cara. Não foi uma coisa muito legal de ser ter feito com uma novata na faculdade, principalmente na frente de tanta gente como naquele momento. Mas, não te julgo, quer dizer... te julgo sim, para caramba na verdade. Mas também teria feito o mesmo se outra pessoa tivesse bancada a louca para cima de mim. Porque como dizem por aí, o remédio para um louco é um mais louco ainda do que ele.
Meu amigo Rodolfo se ajunta a nós no meio do caminho, e me acerta um tapinha camarada no ombro esquerdo, ao que eu o olho com uma sobrancelha arqueada no alto, achando graça de sua fala que parece um tanto contraditória para quem a escuta. De que lado ele está mesmo?
-Se vocês ouviram a fofoca na íntegra, que está rolando por aí nos corredores do campus, sabem muito bem então, que não fui quem começou aquela confusão no meio do nada. Foi aquela garota maluca que não olha por onde anda e que bateu em mim como um trem descarrilhado. Eu ainda a ajudei a não se machucar durante a queda no chão, porém, a doida ainda achou ruim no final das contas! Uma verdadeira ingrata.
Eu respondo já me justificando sobre o ocorrido para que meus amigos não continuem com essa mania de me julgar até a morte, antes mesmo de saber os fatos por completo, só porque às vezes eu tenho a tendência de lidar com as coisas de modo meio impulsivo ou sem pensar, o que não foi o que aconteceu dessa vez.
-Fiquei sabendo o que barraco que você aprontou recentemente, hein bonitão! Me conte mais sobre os detalhes da briga agora meso!
Lígia surge de repente, pulando em minhas costas e agarrando-me com um braço pelo pescoço, feito uma maluca e sem noção, ao que eu me assunto com sua aparição repentina e inesperada.
-Sai do meu pescoço, pestinha! Desse jeito vai me matar enforcado antes que eu possa falar qualquer coisa, sua desequilibrada. E, além disso, você está muito pesada para qualquer ser humano decente conseguir te carregar nas costas, então, pula fora imediatamente, querida elefanta.
Eu rebato alfinetando-a de modo que sei que a enlouquecerá, ao mesmo tempo, em que tento me livrar de seu agarre, já começando a sentir um pouco de falta de ar e o sangue se acumulando em minha cabeça, o que me deixa com o rosto avermelhado pelo esforço exigido.
-Elefante é a vovozinha, seu babaca!
Lígia contra-ataca irritada, mas desce das minhas costas quando todos nós já estamos entrando na sala de aula, onde iremos assistir uma tediosa palestra por quase três horas consecutivas, sobre o mercado de trabalho no Brasil e outros assuntos muito chatos, mas que valerá certificado de participação, além de contar como presença em uma das disciplinas que mais reprova os alunos do nosso curso. Dessa forma, não nos resta outra opção a não ser participar, mesmo que nesse momento pudéssemos estar fazendo coisas bem mais interessantes do que estar com a bunda colada na cadeira por tanto tempo.
-Ei, não xingue a dona Eliza! Ela é muito gente boa e de vez enquanto manda uns lanchinhos bem gostosos para a gente, sua ingrata.
Rodolfo sai em defesa de vovó Eliza, contudo, somente com segundas intenções, pensando primeiramente em seu estômago, ao invés de defendê-la por motivos mais legítimos, como, por exemplo, afeição ou carisma. Idiota. Penso comigo mesmo, bem-humorado, sabendo muito como esse bobalhão é de verdade.
Felizmente tenho a grande sorte de todos os meus amigos adorarem a minha avó, e sempre que têm oportunidade, esses folgados estão invadindo a nossa casa para poder passar a tarde jogando conversa fora com ela e comendo feito uns mendigos famintos.
-Tudo bem, talvez você não seja uma elefanta mesmo. Eu exagerei, me desculpe Lígia.
Eu digo com um olhar sério, fingindo estar arrependido da bobagem que disse, entretanto, já me preparando para logo em seguida lhe lançar outra provocação.
-Mas... quem sabe uma capivara lhe caiba melhor como exemplo?
Eu gargalho, pulando uns dois assentos de onde pretendia me sentar, para poder escapar dos tapas e xingamentos que ela dispara enraivecida, como se fosse um pedreiro de boca suja.
-Deixa a pobre garota em paz, loiro oxigenado.
Débora me repreende tentando bancar a pessoa séria do grupo, mas falhando miseravelmente, ao não conseguir suprimir o riso enquanto fala comigo.
-Eu não posso, minha querida. Provocá-la é a minha linguagem de amor favorita, a qual eu não me canso de demonstrar sempre que nos encontramos.
Eu rio e quando Lígia sossega um pouco de sua fúria, eu a puxo pelo pescoço e deixo um beijo estalado em sua bochecha esquerda, do qual ela resmunga e reclama como uma velha chata.
-Eca, parem com essa pouca vergonha na minha frente, pelo amor de Deus! Vão me fazer vomitar desse jeito.
Rodolfo ralha inconformado e enjoado, estando no meio de nós dois, e nos separa com os braços, cada um para o lado oposto.
-Ciumento... Não se preocupe, queridinho. Kayle tem amor para dar para todo mundo aqui, ok? Então não faça esse beicinho aí e abra um sorrisão de felicidade para mim.
Digo cutucando-o com o dedo indicador no ombro, ao que ele faz um sinal feio com a mão em minha direção, como resposta, e eu caio na gargalhada vendo sua cara de irritado para mim. Coitado, é tão fácil quebrar a paciência desse garoto. Então me pergunto como duas pessoas de personalidades tão distintas, como eu e ele, nos tornamos amigos.
Ah sim, eu me recordo agora!
Fui eu quem deu o primeiro passo, importunei a vida dessa pobre criatura até ele não esquecer mais o meu nome, logo na primeira semana de aula, quando ainda eramos apenas meros calouros no início da graduação de engenharia civil. E desde então, criamos uma bela amizade que dura até hoje, quando já estamos quase no fim do curso, há poucos meses de nos formarmos.
Nós podemos até ser muito diferentes um do outro, contudo, uma coisa é certa, o elo que nos une é bem mais forte do que qualquer outra coisa. Passamos por muitas coisas juntos, muitas alegrias, como também, por muitos momentos difíceis em que ele nunca saiu do meu lado. Rodolfo é como um irmão para mim, não de sangue, mas de alma. Eu não sei o que faria sem a amizade dele em minha vida. Não mesmo... Ele é um parceirão para todas as horas. É o meu melhor amigo.
💔💔💔
Hello! Deixe sua estrelinha e comentário. Beijos, Sra.Kaya 😘
VOCÊ ESTÁ LENDO
Aprendizes -Os Bertottis #4 [Completo]
ChickLit[livro 4] Série Os Bertottis. O 1°Concorrentes, o 2° Subordinados e o 3° Transgressores. Kaile Bertotti é o terceiro filho de quatro irmãos. Sempre carismático e sorridente, ele esbanja charme por onde passa. Acostumado à boa vida e as amizades conq...