Capítulo Vinte

35 9 0
                                    

|KAILE|

A cada dia que passa, eu sinto que estou perdendo o controle sobre mim mesmo quando se trata de Amara. Não consigo tirar aquela morena da cabeça, e o pior é que, mesmo sem dizer nada diretamente, sei que meu corpo trai meus pensamentos. Estou sempre por perto, orbitando ao redor dela, protegendo o espaço ao seu redor de qualquer cara que tenha a ousadia de tentar se aproximar dela. Por mais que eu tente disfarçar, minhas ações são claras. Estou marcando território, pouco a pouco, sem pressa. Ela é esperta, já deve ter percebido, mas até agora não me afastou de vez, o que me dá uma pequena esperança.

Depois daquele beijo no laboratório, ela passou a me evitar. Fugiu de mim como se eu fosse algum tipo de perigo iminente. E talvez eu seja, pelo menos para a maneira controlada que ela tenta viver. Mas, ao mesmo tempo, ela não se afasta tanto assim. Sempre que estou por perto, há algo no olhar dela, uma fagulha de curiosidade, uma hesitação que me instiga de um modo novo. Então, eu continuo. Aos poucos, estou quebrando as barreiras dela. Ela ainda tenta resistir, claro, mas eu vejo. Ela está cedendo, pouco a pouco.

Nos intervalos, me aproximo com a desculpa de lanchar junto. Não preciso inventar muito, basta me sentar ao lado dela e fazer um comentário bobo sobre o tempo, ou sobre alguma matéria que estamos estudando. Ela sempre cede, mesmo que com um olhar desconfiado. E eu sei que ela se derrete quando estou ali, porque já vi o rubor que sobe nas bochechas dela quando faço algo mais ousado.

Como hoje, por exemplo. Estamos na biblioteca, sentados em um canto reservado, onde ninguém pode nos ver. É a desculpa perfeita para estar sozinho com ela sem levantar suspeitas. Espalho alguns livros sobre a mesa, fingindo que estamos estudando, mas minha atenção está completamente nela. Ela tenta se concentrar, mas sei que não está funcionando muito bem. Seu corpo está rígido, como se estivesse em alerta, sentindo cada movimento que faço.

Me inclino lentamente na direção dela, como quem não quer nada. Me aproximo só o suficiente para sentir o cheiro do shampoo nos seus cabelos e a forma como ela respira mais rápido. A tensão no ar é palpável, quase dá para tocá-la. Olho de soslaio para ela, que tenta manter os olhos nos livros, mas percebo como os dedos dela apertam a caneta com força.

— Você está errando essa fórmula de novo, Amara — provoco com um tom baixo, quase íntimo. Meu cotovelo encosta no dela de leve, e ela dá um pequeno salto, mas finge que está tudo normal. Só que eu sei que não está.

— Eu... Eu tô concentrada, Kaile — ela responde, a voz levemente trêmula, o que me faz sorrir por dentro. Está funcionando.

Devagar, deslizo minha mão pelo braço dela, acariciando de leve, como se fosse algo casual. Sinto os pelos dela se arrepiando ao toque, e é impossível não sorrir. Estou ganhando terreno. Amara fecha os olhos por um segundo, como se estivesse tentando se recompor, e quando abre de novo, está corada.

— Sério, você não consegue mesmo decorar isso? — pergunto, mais uma vez me inclinando. Dessa vez, meus lábios estão perigosamente próximos ao ouvido dela. Posso ver de perto a maneira como sua pele reage, como seus olhos ficam turvos por um breve momento. Ela morde o lábio, e algo dentro de mim se agita.

Então, acontece. Amara está comendo um pedaço de bolo de chocolate que pegamos antes de vir para a biblioteca, e um pequeno resquício de calda fica no canto dos seus lábios. Aproveito a oportunidade.

— Espera... — digo com um sorriso provocativo. — Você tem um pouco de chocolate aqui.

Ela passa a mão apressada pelo canto da boca, mas ainda sobra um pouquinho. Sem pensar duas vezes, me inclino e, em vez de usar um guardanapo ou a mão, passo a língua levemente sobre o lábio dela, limpando o chocolate de maneira provocadora.

O efeito é imediato. Ela paralisa, os olhos arregalados, e posso sentir a tensão no ar explodindo. Amara gagueja, tentando dizer algo, mas as palavras parecem não sair. Seu corpo inteiro parece estar em alerta máximo, como se esperasse que eu fizesse algo mais.

Eu recuo, mas mantenho o sorriso. Ela fecha os olhos, e eu sei exatamente o que ela está pensando. Sei que está esperando que eu a beije, que a mesma coisa aconteça de novo, como no laboratório. A forma como ela fica vulnerável por alguns segundos, os lábios entreabertos, o peito subindo e descendo rapidamente. Ela está à espera de algo, e eu poderia facilmente ceder ao desejo que sinto desde o dia em que nos beijamos.

Mas... eu não faço isso. Em vez disso, rio baixinho. A provocação está no meu tom, mas também na maneira como recuo, deixando o clima entre nós ainda mais denso.

— Kaile! — ela finalmente consegue falar, com a voz levemente irritada, mas sei que não é apenas irritação. Ela está confusa. Está tentando entender por que eu não a beijei, quando claramente eu poderia ter feito isso.

Ela me olha, e eu vejo nos olhos dela a pergunta não dita. Por que eu não continuo? Por que eu não dou o próximo passo?

— O que foi, Amara? — provoco, agora brincando com uma mecha do cabelo dela entre os dedos. — Achou que eu ia te beijar?

Ela cora ainda mais, e sua boca se abre para dizer algo, mas nenhum som sai.

— Não se preocupe — digo, com o sorriso ainda estampado no rosto. — Quando eu te beijar de novo, você vai saber.

Ela fica em silêncio, mas posso sentir a frustração crescendo dentro dela. E, por incrível que pareça, essa frustração só aumenta a tensão entre nós. É como se estivéssemos em uma corda bamba, esperando o momento certo para cair. Mas, por enquanto, eu me seguro. Quero vê-la ceder, quero vê-la admitir que está tão atraída por mim quanto eu por ela. E, quando esse momento chegar, não haverá volta.


💔

Hello! Lembre-se da estrelinha e comentário. Mil Beijos, Sra.Kaya 😘

Aprendizes -Os Bertottis #4 [Completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora