Capítulo Dois

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"Vamos perder o tempo perseguindo carros
Em volta de nossas cabeças
Eu preciso de sua graça
Para me lembrar, para encontrar a minha própria

Se eu deitasse aqui, se eu apenas deitasse aqui
Você deitaria comigo
E apenas esqueceria do mundo?
Esqueça o que nos foi dito
Antes de nos tornarmos muito velhos
Mostre-me um jardim
Que esteja explodindo em vida

Chasing Cars (traduzida) -Snow Patrol

-Que merda de conversa idiota é essa de que você não quer fazer o tratamento, Kaile? Qual é o seu maldito problema, garoto? 

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-Que merda de conversa idiota é essa de que você não quer fazer o tratamento, Kaile? Qual é o seu maldito problema, garoto? 

Assim que Glória deixa o quarto, Vicente coloca o embrulho que carregava nas mãos sobre a cadeira mais próxima, e caminha em direção a minha cama com o semblante fechando-se feito uma terrível tempestade prestes a cair, e ralha comigo como se eu fosse algum tipo de criança estúpida que não faz a mínima do que está fazendo. 

-Olha Vicente, não quero que você me leve a mal, mas acho que esse assunto não é da sua conta. -rebato com certo incômodo por ter minha vida pessoal invadida por outras pessoas. 

Por mais que todos que estejam aqui nesse quarto de hospital comigo sejam membros da minha família, além de serem meus melhores amigos, todavia, nenhum deles sabe ou entende o tipo de dor que estou enfrentando nesse momento... Mesmo que tentem arduamente, nem Miguel, Maurício ou Vicente podem compreender a intensidade da dor psicológica e física, que lentamente está me correndo por dentro. 

A dor é como uma faca cravada em meu peito, intensa, profunda e cruel. E eu a sinto a todo instante, sem piedade, sem trégua... Minha consciência me acusa sempre que abro os olhos e até mesmo quando estou dormindo. É quase como uma rotina torturante... toda noite os pesadelos vêm para me assombrar, relembrando-me em um flashback sem fim, sobre o que aconteceu naquele dia e nos que se sucederam depois do ocorrido. 

É horrível... e a culpa é totalmente minha. 

E saber que sou o maior culpado tanto pelo meu sofrimento, quanto o de muitas outras pessoas, faz com que eu queira desistir de tudo. Que eu não insista em continuar vivendo, que eu não lute por mais nada... Até porque, pelo o que eu deveria lutar? Por que eu deveria continuar existindo quando... outras pessoas não teriam a mesma chance que estou tendo? Eu não mereço estar aqui, respirando, falando, comendo, tendo pessoas que me amam e se importam comigo a minha volta, continuando minha vida como se nada tivesse acontecido... Pois o pior aconteceu e não posso ignorar isso.

-Não seja um imbecil, Kaile! Vicente tem toda razão. 

Miguel se intromete ao colocar-se ao lado de meu cunhado e me fitar com tamanha raiva que eu jamais havia visto em seus olhos semelhantes aos meus, que por um breve minuto acredito que meu irmão pulará em meu pescoço e me estrangulará com ódio. 

-É claro que estou. 

Vicente bufa ao revirar os olhos com tédio e logo se volta para mim outra vez. 

-Cada dia que você age com estupidez e atrasa o início do tratamento que necessita realizar, suas condições de saúde podem piorar e isso resultar em sequelas permanentes, seu asno. 

Ele bate a mão aberta sobre o travesseiro ao lado da minha cabeça para enfatizar, e continua de forma implacável. 

-Eu ainda não sei que tipo de tratamento foi recomendado no seu caso, mas aposto que Fernanda já deve estar descobrindo tudo a respeito neste exato momento. Então você não tem para onde escapar, Kaile. 

Vicente diz exatamente aquilo mais temo, porém que no fundo sei que ele tem razão. Com dois médicos na família seria praticamente uma missão impossível esconder qualquer informação de algum deles. 

-Por que vocês não me deixam em paz e voltam para casa de vocês, hein? -questiono de modo rude, na intenção de me livrar deles. 

Não quero parecer fraco ou ter que dividir o fardo pesado que preciso carregar em meus próprios ombros sozinho. Esse é o meu erro, minhas consequências... E tenho que arcar com tudo sem a interferência de ninguém. Cada um deles têm suas próprias vidas, seus empregos e suas famílias para cuidar. E eu não pretendo ser um peso morto com que tenham que lidar no momento. 

-Nós vamos voltar mesmo, seu loiro aguado. 

Maurício se manifesta cruzando os braços em uma postura desafiante, e se aproxima também dos outros dois que estão cercando minha cama. 

-Mas você vai voltar conosco também, Kaile. Os documentos para a transferência de hospital já estão sendo preenchidas, e logo você estará em nossa cidade sendo cuidado de perto com os melhores tratamentos no hospital da Graça. 

Um forte solavanco estremece meu coração e um nó se forma em minha garganta quando as palavras acabam de deixar a boca de Maurício. Como assim eles estavam me transferindo para Balneário sem ao menos consultar minha opinião? Como estavam tomando decisões acerca da minha vida sem saber o que penso a respeito de tal atitude? Ninguém havia me perguntado nada, estavam lidando comigo como se eu fosse algum tipo de inválido. 

Isso não pode estar acontecendo. Não mesmo!

-O que você disse? -indago em voz baixa em uma calma friamente calculada, na expectativa de que talvez eu tenha entendido tudo errado. 

-Kaile, eu sei muito bem que você não é surdo e entendeu perfeitamente o que ele disse. 

Miguel me repreende com o olhar frio e duro antes de prosseguir, enquanto Maurício e Vicente observam-me com atenção, provavelmente aguardando para saber qual será minha reação a seguir. 

-Queira você ou não, mas nada poderá ser feito para impedir sua transferência para o hospital da Graça, entenda isso de uma vez por todas. 

Ele sentencia com firmeza como se sua palavra final fosse lei. 

-Eu irei tirar um período de férias que tenho acumuladas na empresa, e também irei para nossa cidade para ficar perto de você durante o seu tratamento. 

-Você não vai fazer isso, Miguel, porque eu não irei para Balneário. Continuarei aqui, nesse hospital enquanto for necessário. Vocês não podem tomar uma decisão por mim sem me...

-Cala essa boca e deixa de ser teimoso uma vez na vida, Kaile. Não fomos nós que fizemos isso. Quem tomou essa decisão foram nossos pais. Eles querem estar perto de você, seu idiota, enquanto se recupera. Nem eles e nem vovó Eliza puderam vir conosco para vê-lo por causa... -Miguel faz uma pausa que me deixa apreensivo e angustiado, porém não completa o que dizia para meu total desespero.

Afinal de contas, o que tinha acontecido com nossos pais e vovó? 

-Enfim... -ele suspira prestes a concluir. -O fato é que eles não podem acompanhá-lo de longe, então você terá que voltar para casa... onde é o seu lugar. Imediatamente 


💔💔💔

Hi, people! Saudações terráqueos, tudo bem por ? Então bem. Não esqueça de deixar sua estrelinha e seu comentário, bem? Então é isso. Que a força esteja com você ;)

Beijos borrocados de batom 😘😘

Aprendizes -Os Bertottis #4 [Completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora