Capítulo Nove

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|AMARA|

Eu saio da sala da palestra com a cabeça a mil. O loirinho metido não perdeu tempo em tentar me provocar de novo. Desde que eu me mudei para essa cidade, para essa faculdade, nada tem sido fácil. Balneário Camboriú é linda, mas parece que a beleza daqui não se estende às pessoas. Eu me sinto deslocada.

Mudar de cidade já foi um baita desafio. Deixar minha antiga vida, meus amigos, e vir parar aqui, onde quase ninguém fala comigo direito. Não esperava um tapete vermelho nem nada, mas a frieza que encontrei nas primeiras semanas me deixou com uma sensação de solidão que me incomoda. E, pra piorar, ainda tem aquele tal de Kaile Bertotti. Desde o dia em que esbarramos no estacionamento, quando ele quase me derrubou de cara no chão, eu soube que não ia gostar desse cara.

Ele tem aquele ar de "riquinho mimado", loiro, olhos azuis brilhando de quem acha que pode ter o que quiser com um estalar de dedos. E, claro, todo mundo o adora. Dá pra ver pelo jeito que os outros alunos olham pra ele, rindo das piadinhas que ele faz. Kaile parece o tipo de pessoa que nunca precisou ralar de verdade na vida, que teve tudo de mão beijada, enquanto eu... bem, eu estou aqui, ralando todos os dias.

Trabalho numa confeitaria de manhã, faço estágio à tarde e estudo à noite. Minha rotina é exaustiva. E não estou reclamando, porque eu faço o que precisa ser feito. Sempre foi assim. Não nasci numa família rica, não tenho ninguém pra facilitar minha vida. Tudo o que conquistei até agora veio de muito esforço e noites mal dormidas. Talvez seja isso que me irrita tanto nele. Ele tem uma vida tão fácil que mal entende o que significa ter que se esforçar de verdade.

A palestra foi interessante, não vou mentir. O CEO trouxe alguns pontos que mexeram comigo, especialmente sobre como o mercado de trabalho está se transformando. Me vi ali, tentando encontrar meu lugar num mundo dominado por homens. Mas, claro, Kaile não perdeu a chance de tentar me desafiar. Ele acha que pode se safar com aquele sorriso e os olhares sarcásticos. Mas hoje eu o coloquei no lugar dele. Ou, pelo menos, tentei.

Agora, enquanto ando pelo corredor, ainda estou fervendo por dentro. Não consigo parar de pensar no jeito que ele me olhou, como se quisesse me testar, me provocar, e como ele sempre tenta me tirar do sério. Não vou negar, o cara é bonito. E isso só me irrita mais, porque ele sabe disso, e usa isso a seu favor o tempo todo.

Mas pra mim, beleza não conta tanto assim. A arrogância e a presunção ofuscam qualquer coisa. Eu preciso manter o foco, porque o desafio do CEO é amanhã, e eu não vou dar mole pra ele. Kaile Bertotti não vai ter a última palavra. Não se depender de mim.

Estou quase na saída do prédio quando sinto alguém tocar meu braço. Eu me viro rápido, já pronta para reclamar, e claro, quem mais poderia ser? Kaile. Ele está sorrindo de um jeito descarado, aquele sorriso que faz parecer que a vida inteira dele é só uma grande piada. Ele se aproxima, sem o menor pudor, o rosto ficando perigosamente perto do meu.

— Ah, Amara... — ele começa, com a voz cheia de uma falsa doçura. — Espero que você esteja pronta para amanhã. Porque eu vou detonar você, seja qual for a proposta do CEO.

O sangue ferve nas minhas veias. Eu dou um passo pra trás, me soltando da mão dele. Como ele ousa me segurar assim? A audácia desse cara não tem limites. Tento manter a calma, mas meu coração está batendo rápido demais, o calor subindo pelo meu rosto. Ele está perto demais, o olhar dele queimando sobre mim.

— Você acha que vai me intimidar, Kaile? — digo, mantendo minha voz firme. — Pode tentar o quanto quiser, mas no final, sou eu quem vai te deixar comendo poeira.

Ele ri. Um riso baixo e cheio de provocação, o tipo de riso que faz com que meus dedos se fechem em punhos. A verdade é que, quanto mais ele ri, mais eu sinto essa vontade absurda de provar que ele está errado, que eu posso vencê-lo.

— Eu gosto dessa sua confiança — ele diz, inclinando um pouco mais a cabeça para me encarar. — Vai ser divertido ver isso desaparecer quando eu te superar.

— E eu vou adorar ver a sua cara quando perder — retruco, dando um sorriso sarcástico. — Porque o que você não entende, Kaile, é que eu não sou como você. Não vou te dar o gostinho de vencer só porque você acha que pode.

Ele dá um passo atrás, cruzando os braços com aquele olhar que ele sempre usa, como se estivesse me desafiando silenciosamente. O jeito como ele me olha, como se me dissesse "vamos ver até onde você vai", me faz querer provar a mim mesma que eu sou mais do que ele espera.

Kaile dá de ombros, ainda com aquele sorriso provocador no rosto.

— Vamos ver, Amara. Amanhã vai ser interessante, com certeza. Boa sorte... você vai precisar.

Ele se vira e sai andando pelo corredor, como se tivesse acabado de ganhar alguma batalha que, na verdade, mal começou. Eu fico parada ali por um segundo, vendo-o se afastar, ainda sentindo o calor da raiva queimando no meu peito. Como alguém pode ser tão presunçoso? E por que isso me incomoda tanto?

Respiro fundo. Amanhã, eu vou provar que ele está errado. Ele não tem ideia de quem eu sou, do que eu passei para estar aqui. Tudo o que conquistei, cada vitória, foi resultado do meu suor e da minha dedicação. Eu não sou uma novata qualquer. E Kaile Bertotti vai aprender isso da maneira mais difícil.

Pego meu celular e vejo as mensagens acumuladas do trabalho. Ainda tenho que passar na confeitaria pra resolver umas coisas antes de ir pra casa, mas agora, tudo o que consigo pensar é no que vou fazer amanhã. Não posso me dar ao luxo de falhar. Se perder pra esse loiro arrogante, ele vai me perseguir com isso pelo resto do semestre. E, sinceramente, eu não vou dar esse gostinho a ele.

Amanhã é o dia. Eu vou entrar naquela sala e mostrar para Kaile e para todos os outros que eu não sou só uma garota nova, deslocada e desconhecida. Eu sou Amara Magalhães, e vou fazer todo mundo lembrar desse nome.

Dou um último olhar ao corredor vazio, e saio do prédio, pronta para enfrentar o próximo desafio.


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Aprendizes -Os Bertottis #4 [Completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora