|AMARA|
A sala de estudos na biblioteca parece ter encolhido nos últimos dias. Passo horas imersa nos livros, rabiscando equações, estudando gráficos e refinando cada detalhe do projeto. O prazo se aproxima rapidamente, e é como se o tempo estivesse correndo por entre meus dedos. Não há margem para erros, e não vou permitir que Kaile, com aquele sorriso presunçoso, ou qualquer outra pessoa, questione minha capacidade.
Eu não vim até aqui para perder. Não sou o tipo de pessoa que desiste fácil. Ralar faz parte do processo. Aliás, é o que eu sempre fiz: entre o trabalho na confeitaria, o estágio na empresa de construção e os estudos em um dos cursos mais difíceis, nunca tive outra opção a não ser me esforçar. E esse desafio é só mais uma prova de que preciso dar tudo de mim.
A verdade é que, nos últimos dias, as coisas começaram a mudar um pouco. As pessoas estão mais amigáveis comigo. Talvez seja o fato de eu estar no centro das atenções por causa da disputa com Kaile. E quem diria, Lígia, a amiga louquinha dele, começou a aparecer do nada, tentando se aproximar.
No começo, eu resisti, claro. Confesso que fiquei desconfiada. Ela é amiga daquele loirinho metido a besta, então, por que razão ela gostaria de ser minha amiga? Mas Lígia é insistente. Ela não dá trégua. E, aos poucos, percebo que a garota é divertida. Meio maluca, mas de um jeito cativante.
— Oi, Amara! Tá muito concentrada aí? — A voz animada de Lígia me tira da imersão nos cálculos.
Eu levanto os olhos do papel, sem esconder o cansaço. Lígia entra na sala com um sorriso tão grande que poderia iluminar o lugar inteiro.
— Estou sim, como sempre — respondo, tentando manter o tom seco. Mas é difícil quando alguém é tão cheia de vida quanto ela.
— Você precisa relaxar um pouco! Eu EStava pensando... que tal eu te apresentar pro pessoal? Tem muita gente legal no nosso curso que você ainda não conheceu.
Reviro os olhos, mas sorrio de leve.
— Agradeço a oferta, mas não sei se tenho tempo pra isso agora. Esse projeto...
— Ah, qual é, Amara! Um pouquinho de socialização nunca fez mal a ninguém. Você pode pensar melhor depois. Vai ser bom pra você!
Ela senta ao meu lado como se fôssemos amigas de longa data e começa a falar sobre as pessoas no campus, me contando sobre os professores, os eventos, as festas... Não sei se eu deveria estar dando abertura, mas algo em Lígia faz com que eu me sinta à vontade.
Dias se passam, e não demora muito até que eu me veja caminhando pelo campus com ela, conhecendo outras pessoas. Lígia é popular e faz questão de me apresentar para todo mundo. De repente, estou cercada por colegas que sorriem para mim nos corredores e perguntam como estou indo com o projeto. A universidade começa a parecer menos estranha, menos solitária.
Ainda assim, o foco principal não muda: vencer o desafio. Não vou permitir que Kaile Bertotti, com aquela cara de riquinho mimado que teve tudo de mão beijada, saia vitorioso.
Falando no diabo, ele tem uma habilidade irritante de sempre aparecer. Seja na biblioteca, no corredor, na cantina... é como se ele estivesse em todo lugar, sempre com aquela desculpa esfarrapada para puxar conversa. Ou melhor, para me provocar.
Hoje não é diferente. Estou na saída da biblioteca, com uma pilha de livros nos braços, quando sinto alguém se aproximar.
— Trabalhando duro, Magalhães? — A voz dele soa, tão próxima que me faz dar um pequeno salto.
Respiro fundo antes de me virar. Claro que é Kaile. Ele sorri daquele jeito irritante, com os braços cruzados e a postura relaxada, como se estivesse sempre no controle.
— Diferente de algumas pessoas, sim, estou trabalhando duro — respondo, ajustando os livros no braço.
Ele ri, aquele riso leve que faz meus nervos se acenderem.
— Calma aí. Eu também estou trabalhando. Só não fico me escondendo atrás de uma pilha de livros.
— Não é meu estilo ficar de braços cruzados esperando o resultado cair no colo — rebato, passando por ele, mas ele me segue de perto, como sempre.
— Sabe o que eu acho? — Ele caminha ao meu lado, com aquele tom provocador que parece ser sua marca registrada. — Acho que você gosta dessa disputa. Quero dizer, você nunca me ignora, mesmo quando diz que quer.
Eu paro de andar e me viro para ele, estreitando os olhos.
— Não se engane, Kaile. Eu não estou aqui para jogar joguinhos. Estou aqui para ganhar.
Ele dá mais um daqueles sorrisos sem vergonha, chegando um pouco perto demais. Meu corpo reage antes de eu ter tempo de pensar, e sinto um calor desconfortável subir pelo rosto. Droga. Ele é bonito, sim, mas não vou cair nesse charme barato.
— Sabe o que é engraçado? — ele diz, inclinando a cabeça ligeiramente. — Você fala muito em ganhar, mas será que já pensou que pode perder? Talvez isso te faça bem. Te daria um pouco mais de humildade.
Meu sangue ferve. Dou um passo para mais perto, ignorando o quanto ele está perto demais.
— Não se preocupe comigo. Eu sei exatamente o que estou fazendo, e não preciso de lições suas.
Ele sorri, obviamente satisfeito com minha reação. Está sempre tentando me testar, me tirar do sério. Mas dessa vez, não vou dar o gostinho.
— Veremos, Magalhães. Só... não se surpreenda quando eu ganhar.
— Se eu fosse você, me preocuparia mais em fazer algo decente do que em me provocar.
Saio andando rápido, antes que ele tenha a chance de me responder. Meu coração ainda está batendo rápido quando chego à próxima sala de estudos, e eu me afundo nos livros, tentando ignorar a forma como ele mexe comigo.
Mas, droga. O que ele quer de mim? Por que sempre está por perto, sempre me provocando, sempre testando meus limites? Ele já tem todas as meninas aos seus pés, então por que insiste em mim, a única que não está interessada?
Talvez seja isso. Ele gosta de desafios. E eu sou o desafio da vez.
A verdade é que essa atenção indesejada está começando a mexer com a minha cabeça. E não posso me dar ao luxo de perder o foco agora. A disputa está chegando, e eu tenho que dar tudo de mim. Cada detalhe do meu projeto tem que ser perfeito. Não vou permitir que ninguém, nem Kaile Bertotti, atrapalhe meus planos.
Por mais que ele tente, por mais que se aproxime com aquele sorriso irritante, ele não vai me distrair.
Mas, mesmo assim... me pergunto o que diabos ele realmente quer de mim.
Suspirando, me afundo nos livros mais uma vez. Não importa o que ele queira. Amanhã será o dia da verdade.
💔
Hello! Lembre-se da estrelinha e do comentário. Mil Beijos, Sra.Kaya 😘
VOCÊ ESTÁ LENDO
Aprendizes -Os Bertottis #4 [Completo]
ChickLit[livro 4] Série Os Bertottis. O 1°Concorrentes, o 2° Subordinados e o 3° Transgressores. Kaile Bertotti é o terceiro filho de quatro irmãos. Sempre carismático e sorridente, ele esbanja charme por onde passa. Acostumado à boa vida e as amizades conq...