Capítulo Dezessete

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|KAILE|

Assim que vejo Amara com o rosto contorcido, algo no meu estômago despenca. Ela está a uns bons metros de distância, mas a expressão dela me atinge como um soco. As sobrancelhas franzidas, os lábios apertados, o olhar rápido para longe... Droga. Eu me solto de Lígia no mesmo instante, nem sei o que ela estava falando. Só consigo focar em Amara, que está tentando se afastar sem olhar para trás.

— O que foi, Kaile? — Lígia pergunta, ainda rindo, e me dá um tapinha nas costas.

— Nada, preciso... ir. Tenho que resolver uma coisa — solto uma desculpa qualquer, sentindo uma pontada de culpa por ter me afastado assim, mas não posso deixar as coisas com Amara desse jeito. Nem pensar.

Saio quase correndo, não quero perder ela de vista. Acelero o passo, já sabendo que ela vai tentar me evitar. E claro, ela finge que não me vê quando me aproximo, com o andar rápido, as mãos fechadas e o rosto fechado de raiva. Mal começa a desviar de mim, eu já estou na frente dela, bloqueando seu caminho.

— Amara — digo, sorrindo como se fosse tudo uma brincadeira.

Ela revira os olhos, emburrada, e tenta passar por mim de novo.

— Eu não tenho tempo pra isso, Kaile. Sai da frente.

— Você está chateada comigo — afirmo, cruzando os braços, inclinando a cabeça para o lado. Eu sei que estou cutucando a onça, mas não resisto.

— Não estou chateada com nada. E mesmo que estivesse, não seria da sua conta. Agora me deixa passar — ela diz, tentando soar fria, mas a voz dela sai mais aguda do que o normal. Ela está claramente irritada.

Sem aviso, a pego pelos ombros e a viro de costas, jogando-a em meus ombros como se fosse um saco de batatas. Ela solta um grito surpreso, mas não consigo conter o riso.

— O que você está fazendo?! Me coloca no chão, Kaile! — Amara se debate nos meus ombros, mas eu apenas seguro firme e começo a caminhar em direção ao estacionamento.

— Você não tem escolha, Amara. Precisamos conversar — respondo com um bom humor que sei que vai deixá-la ainda mais furiosa. Mas, por alguma razão, eu gosto de provocá-la assim.

— Me coloca no chão! — ela grita de novo, visivelmente envergonhada. Alguns alunos olham, e ela começa a se contorcer mais.

— Relaxa, ninguém vai lembrar disso amanhã — brinco, mas posso sentir o corpo dela ficando tenso. Ela está mais preocupada com o que os outros pensam do que comigo.

Chego até o meu carro, ainda com ela nos ombros, e a coloco no banco do passageiro com cuidado. Ela me olha, vermelha de raiva e vergonha.

— Você é insuportável, sabia? — Amara cruza os braços, o rosto ainda corado.

— Talvez. Mas eu também sei que você não ia me escutar se eu só te pedisse, então tive que ser... criativo. — Dou uma piscadela e entro no carro antes que ela tenha a chance de sair. — Vamos dar uma volta.

Ela solta um suspiro pesado, claramente relutante, mas não faz menção de sair do carro. É o suficiente para mim. Dirijo em silêncio por alguns minutos, até parar em um quiosque à beira-mar. O som das ondas batendo contra a areia é relaxante, o tipo de ambiente que pode quebrar qualquer clima tenso. Pelo menos, é o que eu espero.

Sentamos em uma mesa de madeira, e eu peço dois sucos. Amara ainda está com os braços cruzados, desviando o olhar de mim. Mas eu sei que ela não vai resistir por muito tempo.

— Então... o que aconteceu? — começo, tentando soar casual, como se não estivesse totalmente focado em cada movimento dela.

— Nada. Já disse que não aconteceu nada. — Ela pega o canudo do suco e finge que a bebida é a coisa mais interessante do mundo.

Dou uma risada baixa, tentando desarmar o clima pesado. Eu sei que isso está longe de ser nada. Ela não ficaria assim por qualquer coisa.

— Amara, eu vi a sua cara quando me viu com a Lígia. Não gostou, né?

Ela não responde de imediato. Bebe mais um gole do suco e desvia o olhar para o mar. O silêncio se arrasta por alguns segundos, mas eu espero pacientemente. Sinto que ela está travando uma luta interna, e, pela primeira vez, a vejo vulnerável.

— Não é da minha conta o que você faz, Kaile — diz, finalmente, sem olhar para mim.

— Claro que é da sua conta. Se está te incomodando, é porque te afeta. E se te afeta, quero saber por quê.

Ela me olha, surpresa com minha resposta. O rosto dela está corado de novo, e, de repente, tudo fica claro. Ela está com ciúmes. Nunca achei que veria esse lado de Amara.

Sorrio e, antes que ela tenha a chance de negar, pego suas mãos entre as minhas. O toque dela é quente, e a sensação é boa demais para ignorar.

— Lígia é só uma amiga — digo, olhando nos olhos dela. — Sempre foi. Não tem nada entre a gente além de amizade.

Amara tenta puxar as mãos, mas eu não deixo.

— Kaile, você não precisa se explicar. Eu não... Eu também sou só amiga dela — ela responde rápido, as palavras saindo meio emboladas.

Eu solto uma risada suave. Ela está claramente desconfortável com o rumo da conversa, mas não vou deixar isso passar assim tão fácil.

— Então... isso significa que somos só amigos também? — pergunto, provocando. O rosto dela fica ainda mais vermelho, e ela desvia o olhar.

— Claro que sim. Por que não seríamos? — Ela tenta soar convincente, mas a hesitação na voz dela me diz o contrário.

Aproximo meu rosto do dela, mas paro antes de cruzar uma linha que sei que pode ser perigosa. Ela me olha de relance, e, por um segundo, vejo uma faísca nos olhos dela. Algo que me faz acreditar que as coisas entre nós estão longe de ser apenas amizade.

— Amara — murmuro, ainda segurando suas mãos. — Você sabe que sente algo por mim. Não precisa admitir agora, mas você sabe.

Ela não diz nada, mas a forma como sua respiração acelera e seus dedos tremem ligeiramente sob os meus é a resposta que eu esperava. Ela sente algo, só não quer admitir. E tudo bem, eu também ainda não estou pronto para admitir isso até agora.

Por mais que eu queira continuar, forçar a situação só a deixaria mais desconfortável. Então, solto suas mãos devagar e me recosto na cadeira, sorrindo.

— Vamos deixar as coisas acontecerem como devem, Amara. Não vou te pressionar. Mas também não vou desistir de te provocar vez ou outra. — Dou um último sorriso, confiante.

Ela apenas me encara, sem palavras. O silêncio entre nós é diferente agora. Não há mais tensão, apenas uma incerteza que sei que ela vai, eventualmente, entender. E eu estarei lá quando isso acontecer.


💔

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Aprendizes -Os Bertottis #4 [Completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora