Aprendizes -Os Bertottis #4 [Completo]

Capítulo Vinte e Um

|AMARA|

Kaile está me roubando o juízo. Não consigo parar de pensar no beijo que compartilhamos no laboratório, na sensação avassaladora de seus lábios nos meus, no calor que percorreu meu corpo quando ele me segurou. Pior ainda, não consigo esquecer o quase beijo, quando ele parou de propósito, deixando-me em um estado de completa confusão, com um desejo não correspondido que me consome até agora. As provocações dele, os sorrisos tortos, os olhares intensos... tudo está me enlouquecendo.

Mas minha vida já está agitada demais para adicionar o caos que Kaile representa. Tenho a faculdade, estou quase me formando, e meu novo emprego, que ocupa grande parte do meu tempo e energia. É o que sempre quis, uma oportunidade incrível para crescer na minha carreira, algo que vai fazer diferença no meu futuro. E, claro, tem Lígia, sempre pronta para me dar conselhos.

— Amara, você tem que viver a vida de verdade! — ela diz, rindo e me cutucando com o cotovelo enquanto estamos lanchando na praça da faculdade. — Fazer umas loucuras, aproveitar! Você é jovem, bonita e inteligente. Para de se esconder atrás desse monte de trabalho e estudos só porque tem medo de se divertir.

— Eu não tenho medo de me divertir, Lígia — respondo, rolando os olhos, mas sabendo que ela tem um pouco de razão. — Eu só... estou focada. E Kaile... ele só complica tudo.

— E qual é o problema em complicar um pouquinho? — Lígia me olha com um sorriso de quem sabe mais do que eu. — Vai dizer que você não quer? Eu vejo como você fica quando ele está por perto.

Eu suspiro. Lígia, como sempre, lê minha mente. Sim, eu quero. O problema é que Kaile me faz perder o controle, e eu não estou acostumada com isso. Tenho sempre tudo planejado, organizado. Mas com ele, é como se tudo saísse dos trilhos.

— Vai, amiga, faz umas loucuras! — ela diz, rindo e fazendo piada. — A vida é curta demais pra tanto: e se e mas.

É então que Kaile me convida para um encontro na praia com os amigos. A princípio, minha reação é de recusa. Eu já sei onde isso vai dar, em mais tensão, mais provocações, e provavelmente mais um quase beijo que vai me deixar ainda mais confusa. Mas, como sempre, ele sabe exatamente como me encurralar, me convencendo de que será divertido, que todos estarão lá, e, antes que perceba, estou aceitando.

Quando chegamos à praia, a noite já caiu, e uma fogueira está acesa, iluminando o círculo que formamos. Debora, Rodolfo, Lígia e Kaile estão todos lá, rindo, conversando e se divertindo. É um ambiente descontraído, e por um breve momento, me sinto relaxar. Não me lembro da última vez que tirei um tempo para simplesmente respirar, estar com amigos, me divertir.

Sentamos em volta da fogueira, rindo de piadas bobas e contando histórias. O cheiro do mar é refrescante, e a brisa suave me faz esquecer, ainda que por alguns instantes, do caos que é minha mente ultimamente. Lígia está cantando uma música desafinada, e todos estamos rindo de sua falta de habilidade musical, mas também adorando a leveza do momento.

É engraçado como Kaile sempre consegue se aproximar de mim de maneira sutil, quase imperceptível, até que estamos lado a lado. Ele se inclina para perto de mim, seu braço roçando o meu, e sinto uma onda de calor percorrer meu corpo. Tento me concentrar no que Debora está dizendo, mas é impossível ignorar a proximidade dele, o cheiro suave e envolvente que me distrai.

— Tá gostando da noite? — ele pergunta, a voz baixa, quase um sussurro só para mim.

Assinto, sem conseguir olhar diretamente para ele. É claro que estou gostando, mas também estou alerta, consciente de cada movimento que ele faz, de cada olhar que lança na minha direção.

O clima entre nós começa a mudar quando Kaile se aproxima mais, seus olhos nos meus, cheios de intenções que me deixam nervosa. Sei o que ele está pensando, e uma parte de mim quer desesperadamente ceder, deixar que as coisas sigam seu curso. Sinto o coração disparar quando ele inclina o corpo na minha direção, como se fosse me beijar de novo. Fecho os olhos, esperando, a respiração presa na garganta.

E é nesse exato momento que um bando de cachorros caramelos invade a praia, correndo em direção à nossa pequena fogueira e atacando as comidas do piquenique com uma energia desenfreada.

— O quê...? — Kaile recua, surpreso.

O clima de sedução é imediatamente quebrado. Lígia solta um grito exagerado, Debora começa a rir histericamente, e Rodolfo corre atrás de um dos cães, tentando recuperar um sanduíche que ele rouba com facilidade.

— Ei! Devolve isso! — Rodolfo grita, correndo atrás de um cachorro particularmente travesso que leva um pedaço de bolo. O cachorro corre para longe, com o rabo abanando, como se fosse parte de um jogo.

A situação se transforma em uma cena cômica de perseguição. Todos estão correndo atrás dos cachorros, gritando e rindo. A confusão é total, e não consigo parar de rir da bagunça que esses cachorros caramelos causaram. A tentativa de criar um clima romântico foi completamente arruinada, mas de uma forma tão absurda e engraçada que não consigo me importar.

Kaile, ao meu lado, está com a expressão de quem não sabe se ri ou se reclama dos cães. Ele olha para mim, e nossos olhos se encontram. Não dá para resistir, caímos na gargalhada juntos, rindo tanto que meus olhos lacrimejam.

— Malditos caramelos ladrões! — Lígia grita, levantando um pacote de batata chips meio destruído.

Os cachorros finalmente somem, levando com eles boa parte da nossa comida, mas ninguém parece se importar. Estamos todos rindo tanto que mal conseguimos falar, e a leveza do momento é contagiante. Meus amigos estão chorando de tanto rir, e eu não lembro da última vez que me senti tão à vontade, tão feliz, como se uma parte de mim tivesse finalmente deixado as preocupações de lado.

Kaile ainda está rindo ao meu lado, e quando nossas risadas finalmente diminuem, ele me lança um olhar brincalhão.

— Parece que o universo tem outras ideias sobre o que a gente devia estar fazendo, hein?

Dou uma risada, ainda sentindo meu coração leve pela confusão que esses cachorros causaram. O clima tenso de antes desapareceu, substituído por algo muito mais simples e genuíno. E, por enquanto, estou contente com isso.

💔

Hello! Lembre-se da estrelinha e comentário. Mil Beijos, Sra.Kaya 😘