Seja a Escuridão na minha Luz

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"Eis que estou à porta, e bato: Se alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, e com ele cearei e ele comigo." – Apocalipse 3:20

Crowley abriu a porta. Dentro do cômodo estava escuro.

– Ainda de mau humor? – Crowley liga a luz com o interruptor do lado da porta. O quarto só tinha um colchão grande cheio de travesseiros. Em cima dele, Aziraphale estava sentado.

– Crowley. – A corrente que estava dolorosamente o segurando pela perna fez barulho quando decidiu virar um pouco o corpo para a porta. Pensando no que falar, Aziraphale simplesmente vira o corpo novamente, decidindo o ignorar.

– Pelo visto é o que parece. – Crowley anda pelo quarto segurando um prato. – Trouxe comida. – Aziraphale volta a olhar para Crowley, que ficava mais perto até ficar de pé na sua frente o obrigando a vê-lo de cima.

– Não preciso comer.

– Antes você comia. – A outra mão livre de Crowley vai para perto do rosto do Aziraphale. O anjo encosta sua bochecha nas costas da mão preocupada, não conseguindo se manter longe por instinto. Os dedos do demônio acariciam com ternura sua bochecha e depois sobem até os seus cabelos brancos e macios, os afagando e se perdendo entre os cachos.

– Antes você não faria isso. Nunca faria. – Os olhos carinhosos de Aziraphale se fecham sabendo que não poderia deixar de amá-lo, mesmo se ele enlouquecesse.

– Bem – Ele se ajoelha ficando rosto a rosto com Aziraphale. Ele segura mais forte o cabelo do anjo –, antes não ia me abandonar.

O que mudou? O anjo sabia. Eles se conheciam a muito tempo, tempo demais para alguém amar um outro alguém, mas foi o que aconteceu. Nenhum dos dois deixaram de se amar nem mesmo um dia desde o começo e antes dele. Um amor viciante que marcava seus corpos celestiais e os condenava, como se fossem meros mortais, ou talvez pior. Não importava o tempo sem se ver, caso se encontrassem de novo, eles estavam condenados um ao outro. O simples toque era como um vício, uma mancha, que crescia mais até o ponto de todo o corpo limpo estar manchado, não deixando mais nenhum vestígio de pureza. Bastava um olhar, um chamado ou pedido silencioso que o outro estava ao seu lado. Tudo aconteceu rápido demais. Para imortais, tudo sempre é rápido ou lento demais, nunca há um meio termo. Ambos entendiam bem o que isso significava.

Tudo começou com um pensamento do anjo terreno, Aziraphale, que nasceu, ou melhor, foi criado, para que pudesse ser um dos criadores e guardião dos humanos. Ele estava na gestão da terra, cuidando dos seus próprios assuntos. Até que ele viu, enquanto andava pelo corredor, o anjo que sempre passava para lá e pra cá com sua equipe, todo animado. Porém, o tempo passou e sua animação parecia ter se perdido em tédio. Aziraphale não percebia, mas ele perseguia o anjo ruivo por onde ele fosse. Por algum motivo que ele não sabia, se tornou um vício olhar para a vida daquele anjo trabalhador. Aziraphale não fazia por mal, afinal, ele era o anjo observador. Alguns olhos extras apareciam em seu corpo de vez em quando, em seus tempos de querubim, porém agora já era um anjo muito experiente, então o porquê deste problema retornar era um mistério. Na cidade celestial, existia um grande parque onde todos gostavam de andar. O arcanjo amava correr por lá em sua túnica branca. Aziraphale ia lá apenas para observar o anjo sentado solitário e pensativo no banco da praça. Ele olhava sempre para cima como se imaginasse o céu estrelado. O que não era possível. Não havia estrelas, apenas um céu iluminado, como uma grande esfera ao redor de todo o local. Ele sentia inveja. Parecia que aquele anjo estava em um lugar que ele não podia entrar, que ele não tinha permissão por simplesmente ser obediente demais.

Se questionar... Ele nunca pensou sobre isso, mas passou a pensar depois de encontrar o anjo. Ele queria apenas olhar para a área onde ficaria o quadrante terrestre, mas acabou saindo de lá com algo que nunca teve na sua longa vida celestial. Uma dúvida. Ele ficou anos nisso, apenas observando o anjo de longe. Ele começou a escrever e descrever os seus dias em algumas folhas de pergaminho e chegou até a desenhá-lo algumas vezes. Nunca tinha desenhado nada que não fosse sobre os projetos dos humanos ou da terra, mas quando viu que estava bem na sua frente, no papel, um anjo sorridente falando com algumas pessoas ao seu lado. Seus cabelos agora mais longos e vermelhos como o fogo da espada que Aziraphale tinha com ele. Ele não tinha dúvidas que isso se tornou a coisa mais divertida que ele já havia feito na sua existência. Um dia, Aziraphale decidiu voltar para o parque. Sabia que todos os dias o anjo ia para lá, então decidiu observá-lo de longe e talvez desenhar outro ângulo. Ele andava entre as árvores em um local mais isolado enquanto segurava seus pergaminhos.

Good Omens - Obcecado por vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora