CAPÍTULO 27

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FAMÍLIA DE MENTIRA

Alice Schmitz
Alemanha | 16:55 - 01/03/2007

- Tá tudo perfeito, certo?

- Sim, senhora.

- Tudo significa TUDO! Nada fora de lugar, nada empoeirado, nada bagunçado, desarrumado, sujo, fedido. As coisas tem que estar incríveis, entende!?

- Está tudo impecável, sr. Schmitz.

- Você acha mesmo?

- Com certeza.

- Os quartos ficaram bem decorados?

- Sim, é claro! Estão lindos.

- Ótimo.

Reviro os olhos bufando, ouvindo a conversa mais ridícula da minha vida inteira.

- Chama a Alice, por favor, Dorota? - escuto a voz da minha vó, do andar de baixo.

- Já chamei três vezes, sra. Heidi.

- E por que ela não está aqui?

- Da primeira estava escutando música com fones e não me ouviu, depois disse que precisava ir ao toallet antes, mas não voltou.

- E a terceira vez?

- Bom... - sorrio percebendo a hesitação dela, imaginando a cara de irritação da minha avó nesse momento, vendo que estou estragando a "perfeição" desse diazinho de merda - Ela.. se recusou. Deitou na cama com algumas das suas revistas antigas da Vogue e disse que não desceria até o jantar. Por nada, nem ninguém.

- Meu filho pediu para ela estar aqui quando ele chegasse!

- Eu sei, mas... bom, não podemos obrigar a menina, não é? Ela está sensível com todas essas mudanças repentinas... é um momento difícil e confuso, ainda mais para uma adolescente.

Escuto um suspiro pesado de reprovação e o batuque baixo dos saltos scarpin da minha avó subindo raivosa e apressadamente a escada, seguido das batidas fortes contra a porta branca do meu quarto.

- Alice, abre agora!

- Estou escutando música, não consigo te ouvir, desculpe - respondo rindo, olhando para o meu fone jogado em cima da escrivaninha.

- AGORA, ALICE SCHMITZ!

- Não, sinto muito.

- Seu pai vai chegar a qualquer momento!

- Tomara que não chegue em momento nenhum, então - respondo seca - Uh, ou melhor! Tomara que chegue e diga que perdeu as mocréias laranjas em algum momento da viagem até aqui! - falo animadamente, sorrindo.

- Você está sendo completamente ridícula!

- É, acho que sim. Quem é que sabe, né? - dou de ombros.

- Já não me ajudou nem a comprar os lençóis das camas e agora quer fazer um showzinho!? Pelo amor de Deus, você já é quase uma adulta.

- A fase da rebeldia chega mais tarde para algumas pessoas, sabia? - pergunto debochadamente.

- Meu Deus, Alice, onde foi que eu errei na sua educação, hein? Você não é birrenta assim!

- Talvez eu seja! - grito de volta, destrancando de uma vez a porta e a encarando - Ou talvez quem tenha errado comigo não tenha sido a senhora, mas o homem que está vindo dormir no quarto ao lado do seu!

- Esse homem é seu pai! Será que você não entende?

Simplesmente odeio como ela usa esse grau de parentesco estúpido como um tipo de argumento, como se parentes próximos não pudessem nos destruir totalmente, até virarmos geléia.

SCREAM | Tom Kaulitz (Tokio Hotel)Onde histórias criam vida. Descubra agora