Mecanismo

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A campanha eleitoral para governador da Bahia se configuraria em uma das mais disputadas dos últimos anos. Não apenas por causa da juventude e do dinheiro investido pelos candidatos e partidos; como também por causa das propostas e da maneira como esses mesmos candidatos se apresentavam nas campanhas políticas.

Enquanto Edmundo Camilo se mostrava o candidato de uma Bahia "nova", do "futuro", uma Bahia "unida", refletindo a união de sua família; o candidato do governo, Teobaldo Barreto, falava em "continuidade" de uma "Bahia de sucesso".

Já Mariano Bertinelli, que apesar de ser o candidato de oposição, vinha de um partido da base governista, repetia que a "Bahia estava ficando para trás em relação ao Nordeste e aos estados do Sudeste, e era hora de dar um passo para a frente."

- Chega dos mesmos, das mesmas palavras, das mesmas boas intenções. Continuidade só funciona se falarmos em sucesso. Nós não temos sucesso, estamos colecionando fracassos, e apenas um governo alinhado com a instância federal, sendo apoiada pelo presidente...

- Eu não gosto desse moço.

O bico imenso de Rafinha, aliado aos braços cruzados do garoto, chamou a atenção de Edmundo.

Eles assistiam à televisão, mais precisamente a campanha eleitoral. Era uma espécie de "obrigação", já que Edmundo queria ensinar a vivência política desde cedo.

Maria Inês os acompanhava ao lado de Rosinha – inicialmente, a pequena ficaria brincando no quarto, mas a jovem indicou ao marido que ele até poderia considerar Rafael seu herdeiro político, mas...

- E se Rosinha gostar disso? Se Rafael não se interessar? Já que seu interesse em ter um herdeiro Camilo é tamanho, dê oportunidades iguais aos dois.

- Maria Rosa não tem...

- O quê? Força? Dureza? Ou ela não é homem?

Edmundo cruzou os braços e encarou a jovem.

- Rafael gosta de uma boa briga. Possível de ser lapidado. Maria Rosa é como você.

- Eu não fujo de uma discussão. Camilo.

- Ela é boa. Boa demais para a sujeira que envolve a política.

- E meu filho pode ser sujado...?

- Alguém precisa colocar o nome na lama no futuro, Maria Inês.

- Então não obrigue Rafinha a fazer isso. Libere os dois, Camilo. Deixe que eles decidam se querem entrar para este meio e ofereça uma porta de saída. Tenho certeza de que, se um dia, você cansar de tudo, tem algum emprego garantido.

- Naturalmente. Tenho parte em uma multinacional da indústria química e sou dono de uma empresa de segurança.

O trovão surgiu, um barulho que geralmente faria Rosinha pular desesperada. Contudo, a menina continuou brincando no sofá, Pretinho ao pé do sofá dormindo tranquilamente, e Maria Inês estranhou a falta de reação da criança.

- Rosinha... Tá tudo bem, meu amor?

Ela virou o rosto para a mãe:

- Sim!

- Mas o trovão...?

- Ah! – bateu a mão na testa e se aproximou de Maria Inês. – Não vai ter mais monstro, mamãe! O tio sumiu com o monstro!

- Que tio?

- O tio! – apontou o dedo para Edmundo, sentado a uma poltrona, assistindo à televisão.

Ele notou o movimento da pequena e perguntou, neutro:

- Por que está apontando o dedo para mim, Maria Rosa?

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