Obediência

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Era uma cidade do oeste baiano, mais perto do limite entre Bahia e Goiás do que qualquer outra coisa.

Pequena, de povo gentil e receptivo, com uma igreja no centro e toda a vida do município ao redor. Seca, quente, mas que não se limitava aos desafios da geografia: era um bom lugar para se viver, e aos poucos, graças à soja, também se tornava uma cidade rica.

Tanto é que alguns bancos já estavam instalados no centro. O principal deles, um banco público, era o que recebia mais clientes, entre pequenos agricultores, aposentados, beneficiários do governo, e a movimentação ela sempre muito agitada por ali.

Exceto pela noite e o começo da manhã. Quando o silêncio nos bancos era tão grande quanto o da cidade.

Interrompido pela chegada de vários carros, picapes com homens encapuzados dentro do carro e na caçamba, fortemente armados, e protegidos por coletes à prova de balas. Velozes e em linha reta, dirigindo-se ao centro da cidade, o objetivo do grupo era roubar o banco.

Assim que o primeiro grupo chegou na porta do estabelecimento, os outros carros circundaram todos os espaços do banco. Os homens na caçamba saíram primeiro, dando cobertura aos colegas que desceram do carro, os últimos colocando bombas na porta da frente e do fundo do banco, para que pudessem adentrar com tranquilidade.

Outros dois homens se esconderam atrás dos carros, segurando um controle cada. Apertaram o botão, e o resultado foi um barulho de explosão, acordando quem morasse perto dali.

Pela primeira vez, alguns moradores entenderam realmente o que estava acontecendo ali. Uma gangue de assaltantes tentando roubar o banco da cidade era algo impensável até alguns instantes anteriores, mas agora, era uma situação real. Ninguém saiu de casa, preferindo ficar escondidos dentro da residência; mas alguns decidiram ligar para polícia e denunciar o que viram, com as janelas fechadas, e apenas uma frestinha da cortina tentando ver o que acontecia. Já outra pessoa, mais corajosa usou a fresta para facilitar a filmagem da invasão com o celular, e quando possível mandar a informação à polícia.

Contudo, o que os moradores mais corajosos filmaram foi uma surpresa.

Quando o grupo de homens entrou no banco, troca de tiros foram ouvidas. Ao invés de eles ficarem no estabelecimento, o grupo correu, desesperado, pela frente e pelo fundo, até os carros; enquanto o grupo que fazia cobertura também atirava a fim de proteger os comparsas.

Porém, não era possível ver quem estava lá dentro – e por isso, alguns deles não conseguiram sequer entrar no veículo.

Tiros na cabeça resolveram a situação.

Apenas alguns homens puderam escapar, feridos na perna e no braço. Até tentaram chegar ao carro, mas foram impedidos pelo grupo de preto que saiu do banco, fortemente armado, usando capacetes, coletes à prova de bala, até mesmo óculos de visão noturna. Pareciam membros de alguma força especial – e de fato, o eram.

Tratava-se da primeira ação conjunta entre as polícias civil, militar e a polícia federal na Bahia para controlar a chegada de milícias e facções criminosas no estado. Foi uma emboscada para capturar o grupo que, de acordo com informantes da polícia e uma ligação vinda do Disque Denúncia, roubava pequenas cidades goianas e estavam se aproximando da Bahia.

Era hora de pegar o grupo e descobrir quem realmente estava por trás daquilo.

Os sobreviventes foram presos e logo seriam submetidos a depoimento. O resultado foi divulgado nas mídias com rapidez, em especial por conta dos vídeos de um dos moradores que mostrou a ação da polícia.

- Nós sabíamos que a invasão ocorreria... - comentou o secretário de segurança pública, Paulo Bélens, em entrevista coletiva que contou com a presença dos chefes da polícia, o governador Edmundo Camilo e o vice, Túlio Coelho. - porque estamos em contato direto com o governo de Goiás, a secretaria de segurança pública de lá, e nós recebemos informações via Disque Denúncia a respeito da presença desses grupos. Eles não vão se espalhar pelo estado. E é por isso que nós preparamos esta operação. Nenhuma vida inocente foi ceifada, nós temos pessoas presas, e vamos prosseguir com as investigações.

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