Controle

Retenção

este é o capítulo mais leve de "Controle" desde que comecei a escrever o livro

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Houve um dia na agenda de Edmundo que ele deixou em branco, e ninguém podia incluir nada – reunião, nada.

Até mesmo uma reunião online com governadores e o presidente da república foi acompanhada por Túlio Coelho, que foi questionado pelo mandatário sobre a ausência do governador.

- Hoje tem atividade do Dia da Família na escola dos filhos de Camilo, senhor presidente.

- Perfeitamente aceitável. Entendam, a prioridade de um homem é sua família, sempre!

Na escola das crianças, o pai de Rafael e Maria Rosa chamava a atenção de todos. Impossível não desviar o olhar do governador da Bahia, sentado a um banco de concreto em uma arquibancada de ginásio ao lado da esposa, apertado entre pais e mães emocionados tirando fotos e filmando os filhos em uma coreografia da turma do 1º ano, ao som da música "Te Amo, Família", de Carlinhos Brown.

Maria Inês, em prantos, tirava algumas fotos com o celular, enquanto Edmundo focava nos movimentos dos filhos. Os gêmeos acertavam os passos e a coreografia com plasticidade e perfeição, enquanto as outras crianças ainda pareciam meio perdidas.

- Veja como Rafael tem excelente postura.

- Ele está tão lindo, Edmundo... Rosinha tá tão feliz!

- Maria Rosa dança de cabeça erguida, com um sorriso no rosto.

A primeira-dama prosseguiu tirando fotos, mas a face se voltou para o marido.

- Camilo, isso não é uma competição.

- Não tenho culpa se nossos filhos são crianças que sabem dançar. Aliás, o videomaker e o fotógrafo estão aqui na escola, teremos filmagem e fotos profissionais, Maria Inês.

- Estou mandando pra dona Rita, não seja pedante.

- Não é ser pedante... – a música terminou e as famílias aplaudiram de pé. – Todos os momentos das crianças devem ser eternizados da forma certa. – as crianças deram "tchauzinho" aos pais, e Edmundo respondeu da mesma forma.

A família saiu junto, às vezes controlando as crianças porque elas queriam conversar com os coleguinhas, e os gêmeos soltaram a mão dos pais assim que viram os amiguinhos mais próximos!

- CELAAAAAAAAAAAAAAAAAAA!

- Tiago, você viu que o Vitória perdeu! Sem título!

- Sem estádio, vive de aluguel!

- Como é que tá Fofinha?

- Tá bem, ela tá comendo muito!

Os adultos cumprimentavam Edmundo com respeito, apertando a mão e balançando a cabeça com simpatia e uma certa reverência, como se ele fosse algum tipo de divindade. Maria Inês notou a postura sempre erguida e firme do marido, e imaginava o quanto ele aproveitava o momento de se sentir o "dono do mundo" diante dos eleitores.

De fato, a primeira-dama estava correta.

Edmundo gostava da ideia dos seus eleitores expressarem esse respeito e sabia o motivo: seu desempenho como governador era irretocável – ele tomou as decisões que considerava as melhores, e a resposta estava no feedback da população. No entanto, era óbvio que aquele grupo constituía uma amostra muito pequena e isolada, também de um grupo social que se identificava com ele rapidamente: classe média alta, algumas pessoas da elite. Então, era mais fácil ser bem recebido nesses espaços.

Só que Edmundo também era muito bem recebido nas localidades mais pobres, onde muitos candidatos antes dele não foram capazes de conquistar a população.