Prólogo

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Como eu disse a vocês, o prólogo chegaria antes do primeiro capítulo, para vocês conhecerem um pouco a história.

Ah, e antes de começar, para as pessoas que gostam de signos, Maria Inês tem sol em Aquário, ascendente em Câncer, lua em Sagitário e vênus em Câncer.

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Maria Inês caminhou pela pequena casa, circulando pela sala bagunçada entre pratos no chão, copos quebrados e garrafas de cerveja vazias, controlando o máximo que podia a respiração.

Não queria encarar o caos às suas costas, tampouco abrir a janela da sala e deixar que a vizinhança do povoado de Palame – estavam em Baixio, mas era Palame – soubesse o que realmente ocorria lá dentro. "Não que o povo não saiba", pensou a menina, dezoito anos mal completos, que mal teve um aniversário para celebrar.

Comeu um bolo na casa da vizinha, dona Rita, e ganhou uma lembrancinha da idosa: um colar comprado do artesão andarilho que passava pela região. Era um colar simples, feito à mão, com uma pedra de quartzo rosa, a pedra do signo da jovem, Aquário.

No entanto, dona Rita, que era mais entendida dos astros que a moça, dizia que ela não era uma aquariana comum.

- Você deve ter alguma coisa de Câncer. Você é muito cuidadosa e gentil... Até demais, com aquele povo de tua família.

- Sempre quis saber essas coisas de mapa astral, mas o máximo que eu sei é o signo! – riu, enrolando no dedo os cachos longos.

- Oxe, eu sempre gostei de ler revista de signo. Meu marido achava besteira, mas o dinheiro que eu comprava a revista era meu. – deu de ombros. – Vou te passar minhas revistas, porque meus filhos não acreditam em nada disso.

Era o segundo presente de Maria Inês, que guardou as revistas feito um tesouro, porque ela sabia que qualquer coisa em sua casa seria usada para vender. Joice só não vendia a própria mãe porque Gorete responderia com um soco no rosto da jovem.

A barriga de Maria Inês ainda sentia os efeitos do punho de sua mãe, e a última agressão foi há dois anos.

O medo da garota de um novo conflito se estabelecer, e causar brigas físicas, se acelerou, porque os gritos e choros se misturavam, e naquele instante, Maria Inês sentiu calor. Um calor absurdo, e ignorou a discrição dos conflitos em casa: abriu a janela e deixou o vento entrar na casa, enquanto caminhava agitada, os longos cabelos cacheados balançando na mesma velocidade de seu andar, a tal ponto que nem mesmo o vento parecia controlá-los.

Talvez nem o vento seria capaz de acalmar o terror que logo se imporia naquela pequena casa no alto da ladeira.

- Eu não quero essas disgraças aqui em casa, porra! Já tem uma boca pra alimentar e ainda tem isso aí!

- Porra, Gorete, vá se foder! Dois dias com eles até eu arranjar um!

- O que tu vai arranjá tu vai fumá, puta! O pai desses rato não vai assumir a zorra não?

- Ele não quis... Mandei repassar, sei lá... Dá trabalho... Tava pensando em ficar com um pra pegar um dinheiro...

Maria Inês girou o corpo, todo o rosto franzido. Encarou a mãe, Gorete, uma mulher que na carteira de identidade tinha 50 anos, mas a face era de alguém com quinze anos a mais. Os cabelos alisados por química e sempre pintados de preto não ajudavam muito – a face encruada e sugada, feito uma laranja seca, indicava o cansaço de uma vida mal-vivida.

Mas não por causa da vida. Gorete tomava más decisões porque queria. Nas raras vezes que sua mãe foi minimamente gentil com ela, a mulher – que tirava o dinheiro para o sustento vendendo salgados, balas e chicletes na estrada – comentou que odiava viver por ali e tentou várias vezes arranjar um "homem que me sustentasse".

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