Poder

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Fotos nas manchetes dos principais jornais da Bahia.

Escalada no jornal mais importante do país.

Comentários nas televisões abertas e fechadas.

O discurso de Edmundo Camilo foi destaque em todo o país – e a culminância com o beijo trocado entre o "primeiro-casal" foi a cereja do bolo em uma eleição consagradora.

Era natural que os novos governadores eleitos, em especial de grandes colégios eleitorais – e principalmente os que contribuíram para a eleição do novo presidente – tivessem destaque no noticiário; mas nada como o que aconteceu com Edmundo Camilo.

Alguns analistas, em especial na emissora de TV paga, disseram que o discurso do novo mandatário baiano parecia um trampolim para algo mais ambicioso.

- Percebam que ele usou várias palavras-chave que indicam exatamente a necessidade de união, mas podem representar também um espelho do país. Além disso, ele cita o adversário como "um grande democrata", acenando para um equilíbrio, coalizão, respeito, quando Bertinelli ficou famoso e criticado justamente por ter tentado usar a imagem da esposa de Camilo para ganhar a eleição.

- Uma tolerância que buscamos tanto nestes últimos anos... – observou outro analista, considerado de opinião mais conservadora. – Tem também o vice dele, Túlio Coelho, um nome técnico, fora da política.

- Várias vezes ele fala sobre ouvir, acolher e aceitar, o que reflete essa busca por tolerância, pelo fim da polarização. – replicou outro analista, de opiniões mais à esquerda, num raro momento de concordância com o colega. – Eu anotei aqui... – olhou em um caderno, apontando a caneta na direção do papel - "Bahia moderna, diversa, desenvolvida, com famílias de barriga cheia." Ele entende as necessidades do estado, a busca por mudança, mas principalmente, em pontos muito simples, muito necessários para a população. Matar a fome, emprego, desenvolvimento, respeito.

- E traz pro centro a figura da esposa e dos filhos, mas principalmente da esposa. – prosseguiu o âncora do programa.

- A esposa e os filhos são representação da diversidade da Bahia e do Brasil. Brasileiros conseguem enxergar essas pessoas como brasileiros.

O âncora passou a palavra para outra jornalista, que se encontrava em um estúdio em São Paulo:

- Você acha que o país estaria pronto para uma primeira-dama negra, Camélia?

Distante dali, acompanhando as opiniões dos analistas pela televisão ampla no escritório, colocada ali há alguns meses por causa da campanha eleitoral, Edmundo olhava para a tela e depois, lia atentamente um papel em meio a listas e listas, documentos e documentos, e se viu encarando, em meio às caixas com os dossiês sobre possíveis nomes a serem escolhidos para as secretarias de governo, um pincel.

Sujo de tinta guache.

Como os documentos não envolviam assinaturas ou cartório, a tinta azul não afetaria em nada, mas ele percebia bem o quanto as crianças tendiam a deixar coisas pessoas por toda a casa.

Ele se levantaria para questionar o motivo pelo qual um pincel sujo foi parar no meio de seus documentos, mas a "culpada" surgiu abrindo a porta lentamente.

- Maria Rosa?

- Papai! O senhor achou meu pincel! – a menina correu, as mãozinhas igualmente sujas de tintas com cores diversas, os cabelos correndo junto com a pequena, soltos e descendo pelas costas.

Parecia um anjinho – e a roupa, um vestido azul-claro com babados na ponta e na manga curta dava essa impressão – mas Edmundo tinha um papel importante sujo de tinta guache para não provar esse ponto.

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