Domínio

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Não era para o capítulo ter saído deste tamanho, mas... seguimos.

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- Você é Maria Inês Almeida Martins?

- Sim... Da parte de quem?

- Do pai de seus filhos.

Que frase insana era aquela? Maria Inês imaginou que fosse uma pegadinha, nunca alguém às nove da noite bateria à sua porta dizendo ser o pai de seus gêmeos.

- Melhor parar a brincadeira. Vai embora e volte pra onde você foi.

- Eu não sou homem de brincadeiras. Abre logo essa porta que nós temos muito a conversar.

- Não vou abrir a porta pra uma pessoa que eu não conheço. E se você não voltar eu chamo a polícia.

- Duvido que você queira chamar a polícia para falar com uma pessoa que sabe exatamente quem é Joice, como ela morreu, e que sabe exatamente de que maneira você conseguiu assumir essas crianças como suas. Você não engravidou dessas crianças. Na verdade, Joice apareceu nessa casa, entregou as crianças, e foi embora deixando os gêmeos aí. Aliás, sua irmã faleceu em um assalto, acompanhada de um homem chamado Paulo Camilo Junior, que era o namorado dela na época.

O homem do outro lado falava com confiança e aquela informação era nova para Maria Inês. Por um instante, ela tergiversou abrir a porta. Mas a verdade na ênfase que ele dava nas informações chamou sua atenção, e a jovem se viu destrancando a porta e a puxando para dentro.

Maria Inês deixou o homem estranho entrar na residência pequena, e notou dois carros de película escura no alto da ladeira, nas proximidades da casa. Protegeu o corpo com o xale e ficou em choque. Era como se... Visse Rafael adulto, bem à sua frente.

Mas sem a gentileza e a bondade de seu filho. Havia uma frieza, uma falta de brilho nos olhos negros do homem que fizeram o corpo dela tremer. E não era por causa do vento.

Ela viu, à distância, os outros carros SUV cercando a rua, e entendeu que o homem em questão era poderoso. Rico. Capaz de pisar em tudo e todos sem sequer despertar algum tipo de remorso.

"Meu Deus, Joice, com quem você se envolveu?"

- Você é... O pai dos meninos?

- Não. Sou o tio.

A professora cruzou os dedos, e depois fechou o xale contra o corpo.

- Você... Como você se chama, Joice nunca falou nada sobre o pai das crianças ou de um irmão...

- Edmundo Camilo.

O nome não despertou nada em Maria Inês. Não que ela fosse desinteressada em política; Maria Inês seguia os candidatos em quem votava no poder legislativo, mas as escolhas do executivo nunca a interessavam. A jovem era partidária de candidatos de esquerda, ou no mínimo candidatos que representavam os reais interesses da população.

No legislativo, ela até conseguia acompanhar os projetos. Os candidatos dela para cargos como prefeito, governador e presidente, nem tanto. Dona Rita até dizia que a jovem desperdiçava voto em pessoas que "não chegavam nem em 1% do voto e nem aparecem na TV, menina!".

- Eu sei, dona Rita... Mas tenho o direito de sonhar o mínimo com algo melhor e com candidatos que se pareçam comigo, tenham vivido experiências similares às minhas... E que me representem de verdade no Legislativo.

Edmundo, por sua vez, ficou genuinamente surpreso com o fato da mulher à sua frente não o ter reconhecido. Todas as pessoas que acompanhavam algo de política conheciam o deputado Edmundo Camilo, herdeiro da família política Camilo e pré-candidato a governador da Bahia.

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