Manobra

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vocês estavam esperando por este capítulo... e ele chegou, centralizado em um personagem em específico, que vai se revelar, finalmente.

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Se tinha uma coisa que Edmundo Camilo detestava era perder.

Ele foi criado para ser um vencedor, independente das consequências, e dos meios para isso.

Porém, Maria Inês era um tópico diferente.

Perdê-la era a mesma coisa de arrancar um pedaço de si que ele nem sabia ser possível existir.

Um homem metódico como Edmundo Camilo sabia exatamente o momento que sua pouca vontade com a pedagoga tornou-se algo distinto. Insidioso. Um desejo carnal mesclado com a vontade primitiva de proteger e preservar o tesouro que todos os homens de seu círculo gostariam de predar.

Foi no dia em que ele disse a Maria Inês que ela deveria ir embora de Baixio com as crianças, e os dois se casariam. Quando ele chamou a casa da jovem de "pocilga", e ela não se demorou a responder.

"A pocilga onde alimentei, cuidei de meus filhos por cinco anos, e a pocilga que vai garantir sua eleição. Eu fiz uma pesquisa. Entendi o motivo desse casamento: você quer uma esposa e crianças pra fazer a família perfeita e conquistar votos pra ser governador."

Estava acuada, ferida, em frente a um precipício. Mas não tinha medo de dizer o que pensava, de tentar ferir. Era uma leoa protegendo as crias, mesmo sangrando. Inteligente, astuta, rápida. Como não se encantar por aquela mulher? Como não se... Apaixonar por ela?

Ser uma bela mulher, naturalmente perfeita, sensual sem fazer esforço algum, era melhor ainda.

E agora, ele se encontrava no escritório da chácara, olhando para a tela do notebook onde ficava a pasta com todas as imagens de sua esposa, imagens essas que ele já possuía mesmo antes de se casar com ela. Fotos de Maria Inês com as crianças, fotos dela nos eventos beneficentes, as imagens de Maria Inês no clube brincando com os gêmeos, todos os momentos da vida política dos Camilo em que Maria Inês não sabia que era fotografada, mas ele queria que o fotógrafo focasse exatamente nela. Do sorriso sincero e genuíno diante de um eleitor, nas palmas dela com o sucesso de algum projeto, na alegria visível em seu rosto e nas lágrimas queriam cair quando as crianças conseguiam fazer algo, ou se destacavam em um evento da escola.

Uma imagem de Maria Inês deitada na cama em Trancoso, após noites em que os dois esqueciam as suas diferenças e as discussões frequentes, trocando argumentos por desejo.

Ele gostava daquela foto, porque Maria Inês – que nunca deixou de lado sua vulnerabilidade – estava entregue de uma maneira que ele queria também ser. Ela não tinha medo de falar das suas emoções e de baixar a guarda para continuar lutando. Ela não tinha medo de expressar o que queria, ou o que não queria. E ele ficava sempre ali, não falando, sempre com a guarda alta, sem saber exatamente quais eram as reações e os efeitos vindos do próprio Edmundo. Ele foi criado para não expressar emoção alguma.

Os Camilo não eram capazes de tanto. O político, como todo Camilo, seguia mesma linha. Mas os filhos eram diferentes. Rafael podia se sentir o homenzinho da casa, defendia a mãe e a irmã de maneira visível, era gentil com Maria Inês, não tinha medo de se colocar na frente de Maria Rosa, era sincero, sentia confiança nas pessoas – e falava sem medo. Rosa era um pontinho de luz, sempre muito boa, sempre muito emotiva, deixando transparecer nas pinturas os sentimentos que ela também sabia verbalizar, com a coragem que nem ele tinha. Nenhum deles foi afetado ou maculado pela frieza dos Camilo, porque eles tiveram uma mãe que fez com que eles ficassem em contato com as próprias emoções – e protegidos o máximo possível da tóxica dinâmica familiar da avó ("uma monstra", pensou Edmundo) e da mãe biológica ("uma doadora de óvulos, apenas") – e Maria Inês acabou despertando em Edmundo as emoções que ele mal sabia existirem dentro dele.

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