Potência

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O político deste livro sempre cumpre suas promessas. Só digo isso.

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Um grupo de homens se encontrava no porto ao lado da Feira de São Joaquim deixando caixas com sacos de mandioca e farofa.

Era o que uma pessoa distraída imaginava.

Em meio aos pacotes de mandioca e amido de milho para cuscuz estava o real "ouro" financeiro do grupo: pacotes e mais pacotes de cocaína dentro das sacas, passando discretamente por ali, sem que ninguém – nem fiscais, nem policiais federais, soubessem da realidade do tráfico de drogas por ali.

Mas como aquela movimentação era possível?

Aquelas drogas vinham literalmente do mar: navios de carga brasileiros, vindas da Guiana Francesa, último ponto de passagem por terra dos pacotes vindos da Colômbia, que atravessavam mais três países até chegarem ao departamento francês. Podia parecer algo complicado e que tornava a droga mais cara, mas tornou-se mais seguro para o grupo porque havia pessoas em terra interessadas em fazer o percurso a preço baixo.

Depois da Guiana Francesa, os pacotes iam até o Amapá e de lá seguiam por mar pela costa brasileira, mescladas com outros produtos, como grãos e farinha, ancorando para manutenção. Nenhum produto descia, e o destino já era conhecido: a Bahia.

Porém, os navios não chegavam ao Porto de Salvador: eles ficavam em mar aberto em terras baianas, à distância, e os tripulantes apenas repassavam a carga para barcos menores, aparentemente "barcos de pesca", que circulavam pela região da baía de Todos os Santos de forma insuspeita. Os barcos ancoravam num pequeno cais ao lado da feira de São Joaquim como se estivessem desembarcando produtos para serem vendidos nas barracas; mas na verdade, a carga seria repassada para o tráfico local, mais precisamente os aliados dos fornecedores, já que eles não conseguiram se inserir no mercado da forma como queriam – ainda.

Foi a única forma que o grupo encontrou após as tentativas infrutíferas de entrarem na Bahia pelos limites do oeste, sul e sudoeste. Era um teste, enquanto eles tentariam uma outra chance desses produtos chegarem mais rápido.

Seguir pelo mar a partir da Colômbia ainda tinha um medo por parte do grupo – alguma guarda costeira internacional desconfiar da movimentação do navio.

No entanto, havia um grande potencial nesse movimento.

Distante dali, mais precisamente em uma casa de praia em Arraial d'Ajuda, Mariano Bertinelli monitorava as operações, com um traço de irritação tremendo os olhos.

As jogadas para se colocar dentro do estado, primeiro usando aliados e depois se inserindo com seu próprio grupo, se tornavam cada vez mais perigosas: as gangues inimigas dele já tinham as entradas e saídas controladas - mesmo que em guerra com a polícia, cada vez mais competente – e seus aliados na Bahia não tinham tanto poder de fogo.

Ele precisava equipar o grupo, mas não queria empoderá-los o suficiente para quando seu grupo entrar, ter um novo inimigo – e bem armado. As dificuldades acabam por se refletir no próprio corpo, e para completar, o senador precisava se dividir em várias frentes: uma delas era limpar os rastros de toda a confusão em Brasília com a campanha difamatória contra Edmundo Camilo que não deu certo.

Mariano Bertinelli monitorava toda a operação em outra tela de computador, por meio de uma chamada em grupo com seus capangas que se encontravam em uma casa escura, algum armazém nos arredores de Brasília. Mariano sabia exatamente o motivo: os assessores do deputado Ramires e os colaboradores da agência publicitária foram levados ao armazém para serem eliminados. Era um plano até desesperador, porque uma queima de arquivo tão generalizada poderia chamar a atenção, mas ele já tinha um plano: alegar que a agência foi confundida erroneamente com um esconderijo de droga, por causa do vício de Rubio, o assessor preso.

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