Soberania

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Esse capítulo era para ser maior, mas considerei melhor dividir em dois porque fazia mais sentido para o futuro.

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Era a primeira vez que havia uma calma dentro daquela casa - a versão simbólica da casa, no sentido de "família". A primeira vez que havia tranquilidade dentro daquele núcleo, onde ela não parecia tão preocupada ou temerosa em conversar, tomar decisões, se antecipar a algo, em descobrir a reação do marido em relação às suas ações. Maria Inês, consciente de seus sentimentos por Edmundo, e ainda mais convicta de que a confiança era algo fundamental ali; mas não apenas ela, Edmundo também queria a confiança irrestrita da esposa, e não era uma promessa de campanha: ele queria que ela confiasse nele.

Dessa forma, eles decidiram por bem deixar de lado tudo aquilo que parecia criar tensões entre o casal nos dias da viagem a Trancoso.

- Mãe, a gente volta quando pra casa?

- No final da semana.

- Então a gente não vai pra aula? Isso! – Rafael fechou o punho e o ergueu, balançando o braço em comemoração.

- Nem pense em faltar à aula, Rafael.

- Seu pai tá certo. Esse tempo aqui não vai atrapalhar as aulas de vocês. Não faça essa cara feia, Rafael, e não brinque com pão.

- Esse ano a gente vai ficar na mesma escola que a gente tava ano passado?

- Sim, Rosinha. Seus amigos estão lá, a rotina de vocês tá lá...

- Além do mais, já fizemos a rematrícula. Rosa, beba o chocolate tudo.

- Papai, já tô com a barriga cheia.

- Porque você colocou o chocolate demais no copo. Passe o conteúdo para que eu beba todo. Mas não desperdice comida nem bebida, Rosa.

- Tá bom, pai. Eu não vou mais desperdiçar nada, nadinha!

- Eu disse, Rosinha! Você ficou com o olho maior que a barriga porque viu chocolate!

- Também estou de olho em você Rafael. Colocou ovo mexido o suficiente para alimentar você, sua irmã, sua mãe, mas só está mexendo no pão.

- Eu vou comer tudo, pai! Tenho que ficar forte!

- Só que o ovo está esfriando, Rafael. - observou Maria Inês, de cenho franzido. – Se você não quiser, deixe um pouquinho pra mim. Aliás, os dois andam muito gulosos. Tem que comer aquilo que vocês podem comer, e colocar no prato o suficiente.

- Sim, mãe... - os gêmeos responderam em uníssono abaixando a cabeça, pois entenderam que não estavam corretos.

Assim que todos terminaram de comer, Maria Inês colocou um banco para Rafael na cozinha, e Edmundo um outro banco para Maria Rosa, a fim de que as crianças subissem e lavassem os pratos. Apesar de, no palácio de Ondina terem empregados à disposição, era importante para a primeira-dama que os gêmeos não ficassem tão dependentes daquele mundo de privilégios. Eles precisavam entender que, mesmo com a mudança de vida, deveriam manter algumas de suas rotinas, e também não desperdiçar. A conversa que tiveram sobre comer o que poderiam comer fazia parte desse aprendizado.

- Jocélia, peço que fique com as crianças por um momento, desejo conversar com minha esposa.

- Sim, excelência. O senhor precisa de alguma coisa, uma proteção extra?

- Apenas seguranças no entorno que não fiquem visíveis. Quero falar em particular com minha esposa. Conversas de adultos, Não se esqueça: deixe a ração do gato cheia, e um dos brinquedos próximo pra que ele se distraia. Caso contrário, ele vai começar a explorar o bangalô e desaparecer. E você sabe como é Maria Rosa, caso esse gato decida fazer um passeio e demore a volta.

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