Manipulação

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Agora sim podemos começar os trabalhos de "Controle"! 

Para quem gosta de signos, Edmundo é capricórnio com ascendente em capricórnio, lua em libra e vênus em áries.

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Se Edmundo Camilo  não fosse deputado federal, ou político, ele queria ser químico.

Química era sua disciplina favorita na escola; mas principalmente, ele gostava da sensação de pleno controle.

Quantas gramas colocar? Quantas colheres? Reproduzir fórmulas, criar fórmulas. Ter em mãos o poder de mudanças dentro de uma regra clara e manifesta. Ele amava controle, em especial porque Edmundo sentia que ele era o único a mantê-lo dentro de sua família caótica e disfuncional.

O controle de imagem falhou tantas vezes que ele chegava a rir do absurdo. "Pense num absurdo, na Bahia tem precedente.", era seu dito favorito, porque ele adaptava para "...entre os Camilo tem precedente".

Edmundo percebeu que sua família tinha problemas bem cedo, em especial quando o irmão mais velho – e herdeiro político da família – Paulo Júnior, mal conseguiu se preparar para ser vereador (com o nome "Paulo Camilo Júnior", tal e qual seu pai), porque o álcool e a cocaína foram mais fortes do que o banho de loja e de media training.

O irmão mais novo – nascido uns bons anos após o primogênito como uma espécie de backup, caso nada desse certo – passou a ser olhado diferente pelo pai. Se Júnior, de 22 anos, não poderia ser vereador, era a hora de preparar Edmundo, que só tinha 12 anos na época.

Edmundo queria ser químico – mas não pôde. Ao menos estudou para ser engenheiro químico, o que, para o deputado federal Paulo Camilo, era uma opção aceitável.

- Vários políticos famosos são engenheiros. Traz um certo prestígio, dá a entender que você entende de construção, infraestrutura. – comentou uma vez, em meio a doses e mais doses de uísque sem gelo. – Poderia ser economista, mas dá pra levar.

Ele bebia pouco, quase nada, o suficiente para não perder o controle de si mesmo. No máximo um conhaque para acompanhar o charuto, mas Edmundo era partidário de água mineral. Sucos. Coquetéis sem álcool. Era o sonho de qualquer marqueteiro político: alto, cabelos anelados sempre penteados para o lado, com pequenos cachos se movendo lentamente com o vento ou uma das mechas caindo displicente na testa, os olhos negros levemente puxados nas pontas, para baixo, um ar melancólico que era visto como compassivo e preocupado pelos eleitores, o nariz grande e largo e os lábios inferiores mais grossos que os superiores, era um homem muito bonito. Parecia um modelo de passarela graças à altura e o queixo marcado, quadrado, masculino, e as maçãs do rosto ligeiramente erguidas, mas havia uma certa rudeza em sua expressão, graças à barba "por fazer" (na verdade, sempre bem cuidada) para dar a impressão de "homem trabalhador", bem como o corpo musculoso e bem proporcionado, escondido sempre por ternos na cor preta, ajustados e sob medida, que passavam simplicidade; contudo, eram de um alfaiate badalado, porque ele não usava nada que fosse barato.

A pele sempre bronzeada de sol era o que os marqueteiros diziam: "ele trabalha, ele está na rua, sempre ao lado do povo", quando Edmundo Camilo detestava abraçar pessoas.

Odiava abraçar crianças. Na verdade, detestava a ideia de ter filhos.

Aquele era o problema principal que Edmundo Camilo possuía com os marqueteiros: ele não tinha filhos nem esposa. Questionaram o deputado se ele era homossexual, o político negou. Ele teve namoradas, mas foram relacionamentos tão rápidos que nem mesmo Edmundo os considerou.

Todas as mulheres pareciam variações de sua mãe: interessadas mais nos benefícios de serem a Sra. Camilo – o que incluía colaborar para os desvios financeiros e casos de corrupção – do que em construir a imagem de "primeira-dama".

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