Prólogo

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── Muito bem

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── Muito bem. - falou a mulher de cabelos ondulados castanhos e curtos, usando óculos com uma armação preta e quadrada.

Aquele acessório não combinava em nada com o seu ar tão belo, delicado e jovem, mas se ela precisava daquilo para enxergar eu não iria julga-la pelo seu péssimo bom gosto e escolha. Ela cruzou suas pernas naquele vestido marrom solto e comprido e abriu um pequeno sorriso para mim quando notou que eu estava a observando, mas ignorei aquele gesto pelo simples motivo da pura curiosidade da minha parte. Eu queria saber como ela se portava diante de mim, se sua aparência e modo de agir eram diferentes das demais, das que vieram antes dela.

── Você tem algo que queira me contar? Talvez um ponto de partida. - ela questionou encostando suas costas no encosto da poltrona. As mãos sempre apoiadas sobre uma agenda, segurando uma caneta. Tudo tão patético e igual.

── Te contar algo vai mudar o resto da minha vida daqui pra frente? - perguntei com indiferença, voltando a fixar meu olhar em qualquer outro ponto mais interessante daquela sala silenciosa e insuportável, com aquela mulher que provavelmente seria só mais uma insuportável fazendo suas perguntas insuportáveis.

É engraçado como, depois de um certo tempo, tudo passa a se tornar insuportável e sem graça quando você começa apenas a existir. A vida na verdade é uma grande merda insuportável e sem sentido algum se você não tem um pouco de diversão, é claro.

── Se pensarmos que vai, sim.

── Que resposta mais evasiva.

── Bom, já temos um início. - ela continuou, tentando ser amigável. ── O que acha de me ver como uma amiga?

Amigos...
Eu não sabia mais o significado daquela palavra a um bom tempo. Quantos dias se passaram? Semanas? Meses?

── Não. - balancei minha cabeça soltando uma risada anasalada. ── Nenhuma de vocês quer ser amiga de alguem como eu. Não com o passado que eu tenho.

── Comigo será diferente.

── Por que acha que com você vai ser diferente? Todas as anteriores diziam a mesma coisa e saiam daqui com as mãos abanando. - a enfrentei virando meu rosto para encara-la. ── Esta muito esperançosa, não acha? Tome cuidado para não se decepcionar como elas.

Ela suspirou.

── Eu só quero te ajudar. É só isso.

Analisei a sua expressão facial. Ela não me parecia ser do tipo que desistiria fácil, mas era atenciosa e prestativa, coisas que a tornavam fraca. Sorri.

── Tudo bem. - demonstrei uma falsa derrota momentânea e me sentei de pernas cruzadas naquele sofá extremamente confortável, a única coisa que prestava naquela sala inútil. Olhei para ela em seus olhos. ── Esta com tempo?

Ela também se ajeitou de maneira mais confortável em sua poltrona preta acolchoada e não desviou o olhar do meu. Pegou seu celular de cima da mesinha de centro e o desligou, voltando a me encarar em seguida.

── Temos todo o tempo do mundo agora. Quando você quiser.

Olhei para todos os lados mais uma vez, me perguntando se era uma boa ideia. Que mal faria? Por que não continuar agora que começamos? Eu não tinha mais nada a perder mesmo.

── Toda boa história tem seu início, seja ele bom ou ruim, e digamos que a minha teve um pouco das duas coisas. Ela se deu início de uma forma muito ruim, e acabou de uma maneira trágica como você mesma pode ver... Mas eu diria que é um trágico belo. - encarei minhas mãos presas naquele metal gelado e sorri. Eles me tacharam de louco e vários outros adjetivos, mas aquilo não era somente para proteção deles. Era para a minha também. Voltei a encarar a doutora a minha frente e continuei; ── Desde cedo eu aprendi que nesse mundo cheio de poder, se você se considera inteligente o suficiente para entender que é uma minoria fraca, é sua obrigação aprender a dançar a melodia do diabo se quiser ter uma chance de sobreviver. E se você quiser realmente dançar essa melodia para agarrar essa chance, então você ira dança-la sem se importar com os danos mesmo que isso te leve ao seu pior fim. Afinal, o mundo é um palco e quem vive nele faz parte da platéia.

Da minha platéia.

Até Que Você Me AmeOnde histórias criam vida. Descubra agora