Dia Especial

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Chuya

O rapaz me encarou por alguns segundos. Ele era alto, tinha cabelos castanhos e olhos escuros. Vestia uma blusa de mangas longas e uma calça, ambos da cor preta. O pequeno sorriso permaneceu em seus lábios, quase como se fosse um estado natural de seu rosto. Ao abrir a porta novamente, retribui o sorriso, e então, ouvi sua voz, em uma pergunta que esperei ouvir durante todo o dia:

- Posso ver o cardápio?

Eu quase não acreditava no que eu estava ouvindo. Me apressei em mostrar uma de nossas melhores mesas ao rapaz que apareceu. Ele estava sozinho, observava o local com atenção e parecia me analisar a todo momento. Em alguns segundos, o entreguei o cardápio, e minha mãe, que já havia subido para a nossa casa que ficava no andar de cima, voltou, sem entender muita coisa do que se passava ali.

- Temos clientes? - Ela me perguntou, em um sussurro.

- Parece que sim. - Sussurrei de volta, apressando em a empurrar para a direção da cozinha. Ela vestiu o avental e a touca depressa, e o homem continuava sentado, analisando o cardápio, alheio a toda aquela movimentação. Me aproximei dele novamente, o olhando com atenção, até que ele me encarou, sem dizer nada.- O senhor procura algo em específico?

- Na verdade, não. - Ele disse, ainda olhando ao redor. - Estou fazendo uma pesquisa para alguém importante. Se importa de se sentar para eu te fazer algumas perguntas?

Estranhei o questionamento, mas neguei com a cabeça e me sentei em sua frente. O homem de cabelo castanhos continuou a me analisar, e então, fez uma constatação:

- Parece cansada.

- Estou um pouco. - Concordei, achando toda aquela conversa muito esquisita.

- Faz muito tempo que possuem esse estabelecimento?- Quis saber, olhando de relance para o cardápio.

- Uns seis meses. - Respondi, me recordando que era o mesmo tempo em que havíamos saído de nosso pequeno vilarejo rumo a capital do País do Vento e alugado aquele lugar.

- E como anda o movimento?

Engoli em seco, me sentindo um pouco frustrada com a resposta que eu estava prestes a dar a ele.

- Para ser sincera, não muito bom.

Ele deu um sorriso, mas dessa vez com um pequeno teor de tristeza nos lábios e empurrou o cardápio delicadamente para onde eu estava.

- As coisas irão melhorar. - Disse, como se estivesse afim de me animar. Eu assenti com a cabeça. Era naquela verdade que eu estava me apegando todos os dias, desde que minha vida tinha virado completamente do avesso.- Estou feliz de ter encontrado um lugar relativamente novo. Como relatei, estive em uma pesquisa de alguém importante e esse alguém me fez percorrer por toda a Vila da Areia em busca de alguma coisa que me animasse o paladar.

- E acha que conseguiu?

- Ainda não. - Lamentou, e então, suas sobrancelhas se ergueram.- Mas posso me surpreender. - Continuou, e então, olhando para o cardápio, pareceu animado, de repente. - Quero degustar cada um dos itens.

Arregalei os olhos diante do pedido, e então, me recompondo, me apressei até a cozinha. O fim de expediente foi uma loucura. Havia algumas pendências no cardápio, mas ao fim, conseguimos realizar uma excelente degustação. O homem parecia verdadeiramente satisfeito com tudo o que servimos a ele, e ao fim, quando terminamos de servir e eu ajudei minha mãe levar a louça até a cozinha, ela me espetou com o dedo indicador, me lançando um olhar curioso.

- O que acha que ele é? Parece rico.

- Eu não faço ideia, mas sei que nem todos podem se dar o luxo de pedir todo o cardápio. - Comentei, ainda perplexa do quanto nós lucraríamos em apenas um pedido. - Em contra partida, está usando uma roupas simples.

Areia e Açúcar  • gaaraOnde histórias criam vida. Descubra agora