Dança da Solidão

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Chuya

Atravessei as portas do bar de dança do ventre com uma sensação estranha. Era uma noite fria, como as noites de outono costumavam ser, mas eu sentia minhas bochechas quentes e o meu coração acelerado. Eu não podia evitar pensar nas circunstâncias em que eu tinha colocado os meus pés naquele bar, da última vez que eu havia o feito. De forma quase instintiva, meus olhos pararam na cadeira em que ele estava sentado, ao lado de Kankuro, olhando fixamente para Ume dançar. Aquilo parecia fazer um século! Mas não era tanto tempo assim.

— Tem mais gente do que da última vez. — Sussurrei para Sora e para a minha mãe, que pareciam tão surpresas quanto eu com a quantidade de rostos ao redor, especialmente masculinos. Eles conversavam de maneira animada, ansiosa e alguns acenavam moedas em direção ao palco. Minha mãe parecia constrangida com a cena, mas, ao mesmo tempo, encantada com a beleza exótica do bar.

— Parece que toda a Vila da Areia veio para assistir. — Sora concordou, aparentemente muito incomodada em estar ali novamente.

— Você tem certeza de que quer estar aqui? — Perguntei a ela, estranhando seu comportamento. Ela estava assim desde cedo e eu estava começando a desconfiar que era por ter que ir novamente naquele bar, um local que ela tinha sofrido tanto.— Talvez seja melhor a gente...

— Nem pensar. — Ela negou com a cabeça, o olhar rígido examinando cada parte do local, desde as tendas coloridas ao incenso que soltava um aroma exótico no ar. — Vou buscar algumas bebidas para nós. — Disse, se esforçando para se animar. — O que vocês vão querer?

— Saquê. — Minha mãe respondeu, se assentando em uma das mesas no canto mais discreto do bar.

— E você, Chuya?

— Refrigerante. — Respondi, e ela assentiu, caminhando em direção ao balcão, sumindo em meio a todas aquelas pessoas.

Eu e minha mãe nos encaramos, um pouco desconfortáveis no ambiente, e antes que pudéssemos dizer alguma coisa, uma garçonete veio até nós, dizendo que Ume gostaria de nos ver no camarim. Minha mãe e eu seguimos a garçonete pelo corredor escuro e silencioso do bar. Haviam muitas portas escuras enfileiradas, e chegamos a última, que foi aberta e revelou uma Ume radiante, vestindo um traje exuberante vermelho e um sorriso cativante.

— Tia Mori. — Ela abraçou a minha mãe com força, quase em um desespero que não era típico dela. E então, olhou para mim, os olhos misteriosos me analisando por um segundo. — Chuya. Estou feliz que vocês vieram assistir minha última apresentação.

— É um prazer estarmos aqui para te apoiar. — Minha mãe disse, parecendo um pouco mais confortável agora, que estávamos apenas nós três no cubículo.

— Está bem cheio lá fora. — Comentei, ainda um pouco constrangida com toda aquela situação. Eu apenas não queria ficar calada e diminuir o penhasco que havia entre nós.

— Fico feliz em ouvir isso. — Ela sorriu, mas um raio macabro passou pelos seus olho, na minha frente. Minha mãe, notando o pequeno abismo que se formavam em nossas palavras, respirou fundo e olhou de uma para a outra.

— Eu vou lá fora. Sora veio conosco e foi comprar algumas bebidas para nós. Ela pode estranhar se chegar na mesa e não estiver nenhuma de nós lá.— Desconversou, e então, sorriu para Ume. — Que você tenha uma boa apresentação, minha querida.

— Mãe, eu...— Comecei a falar, mas ela não me ouvia mais. Saiu tão rápido do camarim que eu não pude fugir do clima esquisito que se formava ali. Fiquei ansiosa, esperando uam conversa amigável e talvez um gesto de reconciliação, mas algo em Ume parecia enigmático. Ela se sentou em sua cadeira, penteando os cabelos escuros e longos.

Areia e Açúcar  • gaaraOnde histórias criam vida. Descubra agora