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Chuya

A noite estava fresca e estrelada. Havia sido um dia intenso de trabalho, e em nossa nova casa, havia uma pequena varanda após a sala, onde podíamos colocar algumas cadeiras e contemplar a vista do deserto. O ambiente estava sendo preenchido com uma boa conversa, e com uma expectativa gostosa entre nós, crescendo cada dia mais, devido ao Festival das Luzes de Outono. Ume não havia aparecido nos últimos dias, pois nos dias do evento, o Bar de Dança do Ventre também se preparava para receber muitos turistas.

— Ah, me lembro quando eu era criança, estava sempre metida em confusões.— Sora começou, com uma expressão divertida. — Eu era terrível. Adorava pregar peças nos outros e sair correndo, como se minha vida dependesse disso. Na escola, nem sabia mais o que fazer comigo...

Minha mãe riu.

— Eu consigo imaginar.

— Uma vez, escondi as chave da minha casa pra não ir a aula. — Admitiu, aos risos. — Meus pais faltaram o trabalho e ficaram procurando por horas. Quando fui descoberta, chorei, como se estivesse em uma peça de drama e eles me pouparam.

— Se fosse comigo, com certeza eu teria ficado sem os dentes.

— Que é isso, Chuya? — Minha mãe me repreendeu. — O que Sora vai pensar que eu sou se falar assim?

— Ah, mãe, a Sora já percebeu que a senhora é um pouco brava...

— Agora quero saber como Chuya era na infância. — A morena insistiu, olhando para minha mãe.— Vamos, senhora Mori, me conte tudo e não me esconda nada!

— Chuya sempre foi uma boa menina. — Minha mãe disse, com um olhar cúmplice pra mim. — Gostava de usar roupas extravagantes e sempre foi muito criativa. Não é atoa que hoje é uma artista dos doces.

— Eu costumava ter uma cabana na árvore, lá no Vilarejo. — Contei a Sora.— Minha mãe ficava com medo, pois eu gostava de ficar por lá, até escurecer, no meio do mato, apenas vendo quem passava.

— Que fofoqueira...

— Eu não estava fofocando, estava apenas recolhendo informações!

Sora riu alto.

— E não é a mesma coisa?

— Não, Sora, não é. — Me defendi, também aos risos.

— Bom, agora você tem essa varanda aqui para "recolher as informações" que quiser. — Ela olhou ao redor, notando a vista privilegiada que eu tinha do duplex. — E quais informações boas você conseguiu recolher mesmo?

— Depois eu que sou a fofoqueira.

— Ela não conseguiu recolher nada de útil, mas quando a fase da cabana da árvore passou, ela passava o tempo na cozinha nas horas vagas.— Relatou, e eu sabia exatamente do que ela ia falar.

— Mãe, essa história de novo não...

— Que história?

— Não dá ideia, Sora, vamos para o próximo tópico da conversa, que tal falarmos sobre... Frutas?

— Ah, eu não quero falar sobre frutas.— Minha amiga protestou. — Quero ouvir a história que a tia tem pra contar.

Minha mãe acertou os ombros, um olhar animado em seus olhos por poder relatar tudo aquilo de novo, como se fosse a primeira vez.

— Bem, eu era uma criança curiosa... — Comecei, rindo com embaraço.

— Eu estava no jardim, quando ouvi o grito de Chuya. — Disse, contendo o riso. — Ela simplesmente achou que seria uma boa ideia jogar óleo e açúcar na panela, e deixar lá, na lenha, enquanto a panela queimava.

Areia e Açúcar  • gaaraOnde histórias criam vida. Descubra agora