Backstage

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🎸 | Boa leitura!

Dulce tem algo em seus olhos que eu reconheço quando vejo o meu reflexo no espelho. Ela é forte porque passou por alguma merda que moldou quem ela é hoje. Eu devia imaginar que ninguém é tão fechado e frio de graça. Mas hoje ela não foi fria e foi exatamente esse comportamento que me fez ver nas entrelinhas. Apesar de agir completamente diferente do que costuma, ela nunca pareceu tão real e sincera antes. E é aterrorizante como eu me senti conectado com ela em certo momento. Bom, isso até ela falar sobre as minhas composições.

Adivinhei rapidamente que ela andou procurando por elas e meu pânico veio ao imaginar com que música ela se deparou. Espero que tenha sido uma das felizes, que eu fiz sobre não ligar para o resto do mundo e ficar chapado de álcool. Mas é claro que ela leu uma das terríveis, ou não teria me olhado como se eu fosse um passarinho com a asa machucada que ela encontrou no seu quintal. Foi nesse momento que eu percebi o quanto valorizo seus olhares de reprovação. Lido melhor com a raiva que ela sente do que com sua compaixão repentina. E o que eu fiz com todas essas emoções? Eu saí correndo, óbvio.

Vou até a varanda do meu quarto de hotel de onde tenho uma visão clara da piscina. Ela ainda está lá, agora sentada na borda da piscina com os pés dentro da água. Olhando assim, parece uma garota normal, alguém curiosa com o mundo a ponto de enfiar os pés na água gelada numa madrugada fria. Ou talvez ela só esteja tentando sentir alguma coisa mais forte do que aquilo que está na sua mente.

A questão que tenho comigo mesmo é, até onde minha curiosidade sobre os mistérios da Dulce são só curiosidade? Nunca fiquei tão interessado em desvendar alguém e não gosto de como isso me abala. Deduzo que é só não pensar demais sobre os motivos de eu querer saber sobre ela, isso pode me enlouquecer se eu ficar muito obcecado e eu definitivamente não preciso de obsessões me tirando o sono e o apetite.

Pego meu celular do bolso e abro o navegador. Pesquiso pelo nome dela e não vejo muitas coisas reveladoras. As matérias do topo se referem a mim e ao trabalho dela comigo, coisas que ela mesma aceita que estejam na mídia, porque até isso ela controla. Acho que tudo na vida dela funciona dessa forma, metodicamente, nos mínimos detalhes. Me pergunto o que aconteceria se ela perdesse o controle de alguma coisa por muito tempo. Será que sua mente entraria em colapso? Ela aguentaria a pressão? Mas parece uma ideia impossível que ela não tenha uma solução para tudo e qualquer coisa.

Mudo o foco da minha pesquisa e procuro por "Laila Saviñon". Alguma coisa referente à irmã dela parece delicado, tenho quase certeza que essa é a raiz de quem a Dulce resolveu se tornar. Nenhum resultado faz muito sentido, não acho a gêmea da Dulce nem mesmo nas redes sociais. Ela disse algo sobre a sua irmã ter ido embora, talvez ela tenha resolvido sumir por algum motivo e isso fez a Dulce guardar uma enorme mágoa por sua gêmea.

Talvez se eu encontrar o resto da família consiga começar a ligar os pontos. Pego o meu notebook e procuro pelo arquivo contratual da Dulce. Algumas páginas depois, acho as cópias de seus documentos com os nomes de seus pais. Fernando e Blanca Saviñon. Procuro primeiro pela mãe e acho uma matéria antiga sobre ela. Blanca ganhou uma corrida comunitária no estado da Califórnia e doou todo o dinheiro para abrigos de animais. Tem uma foto dela e noto que ela se parece bastante com a Dulce, tem os mesmos olhos e o mesmo sorriso.