Retorno

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Dias atuais...

Nem toda a claridade que entrava pela janela, junto à toda imensidão branca daquele quarto de hospital, eram capazes de trazer alguma luz ao rosto de Luiza. Seu semblante era apático, seu olhar estava opaco. Passaram-se sete dias. Uma semana. Cento e sessenta e oito hora, dez mil e oitenta minutos, seiscentos e quatro mil e oitocentos segundos. E nada de Valentina reagir.

Como ela tá? – Sônia perguntou ao se aproximar da filha.

­ Mesma coisa de ontem... de anteontem... – Luiza se debruça sobre o corpo imóvel de sua namorada. – Ela não reage, mãe... – e cai no choro mais uma vez naquela tarde.

Outubro de 2022.

Valentina POV

O sol se põe no belíssimo canal Prinsengracht. As folhas das árvores, com seus variantes tons de laranja outono, a água ao fundo, cada detalhe contribuindo para a composição das maravilhosas fotos que estou tirando neste momento. Gosto de dizer que é fácil ser fotógrafa nesses lugares, não precisa de muito para tirar uma bela fotografia, até mesmo a câmera de um simples celular seria capaz de captar a beleza.

Meu último dia em Amsterdã e eu não poderia estar fazendo outra coisa, senão o que mais amo na vida: fotografar. Sou suspeita pra falar, já que sou encantada pela beleza dos lugares por onde ando, meu olhar consegue captar a beleza nos mínimos detalhes, seja numa paisagem linda como essa, seja na folha seca que estou focando agora. Costumo falar que a vida é bela em cada detalhe, a gente que não sabe enxergar.

Registro os últimos resquícios de sol e me ajeito para voltar para minha casa barco. Preciso terminar de arrumar minha mala e correr para o aeroporto. Ainda não acredito que, depois de um longo ano, finalmente voltarei para meu país, minha casa, minha família. Serão longas doze horas de voo, mas a recompensa de voltar para meu lar, não tem preço, nunca terá.

Eu chegarei de surpresa, todos pensam que só voltarei na semana que vem, mal posso esperar para rever meus pais, mesmo que minha mãe ainda não esteja muito satisfeita com o rumo que decidi tomar em minha carreira profissional, estou com saudades dela, meu pai, meu maior apoiador e meu porto seguro, e até mueu irmão, mesmo sendo o filhinho da mamãe. E meu primo, aquele canalha que anda me ignorando, como nunca, nas últimas semanas. Aliás, Lucas está estranho desde uns meses antes de eu sair do país. Nós sempre fomos super grudados, confidentes desde a infância, já tivemos nossos momentos, se é que me entendem, mas nunca ficamos distantes, estranhos ou sem compartilhar nossas vidas, e agora isso! Ele simplesmente me ignora e reaparece como se não estivesse agindo como um espião que tem vida dupla. E eu sinto que ele me esconde algo, mas eu vou colocar essa história em pratos limpos assim que colocar meus pés no Brasil.

Outra coisa que sinto muita falta: praia. Não que aqui não tenha, mas eu falo de praia de verdade, com o calor brasileiro, aquela maresia que só o nosso país possui, areia de praia de verdade, não essa coisa cinzenta que tem aqui. A praia que só o Brasil tem. Não vejo a hora de enfiar meus pés na areia, tomar água de coco, caipirinha e muito sol.

**

Apesar da primavera carioca trazer temperaturas amenas e chuva, parece que alguém lá em cima tá conspirando para que eu possa saciar minha sede de praia. São nove e vinte e sete da manhã, apesar de não estar fazendo o sol mais esplendoroso que a cidade maravilhosa já viu, o termômetro está marcando vinte e três graus Celsius, pra mim isso é um sinal claro de que eu preciso ir à praia antes de ir para casa. Peço um uber e nem penso duas vezes no destino: Praia de Ipanema.

Faço questão de pedir que o motorista ande de vidros abaixados, necessito sentir a brisa carregada de maresia, respirar o ar dessa cidade que tanto amo. O motorista para o carro para que eu possa descer e eu respiro fundo o ar fresquinho com cheiro de mar, no exato momento em que salto do veículo. Que saudade que eu tava! Puxo minha pequena bagagem, sim, pequena, dei um jeito de vender a grande maioria das roupas que usei enquanto estive fora, evitei peso e bagagem extra, e ainda fiz uma graninha. Moda consciente.

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