Depois de você...

Redenção

Surpresa de novo! Aeee!

Bom, esse é o último capítulo dessa pequena maratona. Mais uma vez peço desculpas pela demora, mas espero que tenham se sentido recompensados com esses três capítulos, escritos com bastante carinho pra vocês. :)

Luiza POV

Dias atuais

Eu me lembro de sempre ter gostado muito de réveillon. Gosto deste rito de passagem de um ano para outro. Gosto da sensação boa de renovação de um ciclo para outro. Gosto das comemorações. Sempre gostei das simpatias, pular ondinhas no mar. E, mais que tudo, sempre gostei de agradecer pelo ano que se encerrava, por chegar até o fim dele e pedir por um ano novo próspero e repleto de bençãos.

Esse ano, no entanto, estava sendo um tanto diferente. Não havia comemorações. Não havia clima para comemorações. Tampouco havia, em mim, muitos motivos para agradecer. Claro, eu não poderia deixar de ser grata pela minha família, pela minha saúde, pela minha profissão, dentre tantos outros privilégios que me cabiam. Também não poderia deixar de ser grata por ter deixado Valentina entrar em minha vida.

Play na música "I'll never love again" – Lady Gaga

Na verdade, eu nem sei bem se eu precisei conceder alguma licença para que ela entrasse. Como Marília Mendonça fala em sua música, a Valentina "foi chegando, chegou, foi entrando, olhando e mudando os meus planos...". Quando dei por mim, já era tarde, eu estava completamente apaixonada. Eu olho para trás e penso que seria inevitável, acabaria acontecendo, mais cedo ou mais tarde. Valentina tem esse jeito meio bobo de ser, faz piadinhas sem graça que acabam me arrancando sorrisos bobos, algumas vezes gosta de me irritar, mas está sempre empenhada em me agradar. Não é sempre, mas ela se mostra bem romântica quando quer, eu não posso deixar de achar lindo qualquer coisa que ela faça, mesmo quando ela resolve cantar em cima de uma caminhonete na frente de um monte de gente passando na rua.

Valentina é alguém incrível. Não, ela não era perfeitinha e fazia tudo certo, no tempo certo. Ela tinha seus defeitos, suas falhas, mas eram nesses detalhes que moravam o tempero bom da nossa relação. As vezes me pego distraída pensando nela. No quanto a acho insuportavelmente linda e sempre achei, desde quando nem havíamos sido apresentadas. No quanto foi irônico o fato de eu achar que ela era alguma ameaça ao meu relacionamento anterior, quando, na verdade, ela já nutria sentimentos por mim. No quanto o destino trabalhou para nos colocar juntas, porque ela me achou antes mesmo de saber quem eu era. É meio louco, mas, as vezes, eu tenho essa sensação de que a gente já se pertencia antes de ser.

Eu não sei dizer em que momento exatamente aconteceu, mas Valentina me ganhou antes mesmo de eu me dar conta. Seu jeito de ver a vida pelas lentes da sua câmera, era fascinante, ela conseguia enxergar beleza nos mínimos detalhes e me fazia enxergar também. Ela me ganhou com aquele sorriso contagiante que era capaz de iluminar uma avenida inteira. Me ganhou com seus gestos e o fato de reparar em mim em todos os detalhes, como saber exatamente como eu gosto do meu café, ou sua adoração por minhas pintinhas espalhadas pelo corpo. Me ganhou com aquele seu jeito frágil que ela escondia embaixo daquela pose de rebelde, mas que, para mim, era transparente como água cristalina. E eu amava essa sensação de ter acesso exclusivo à esse lado dela, do fato dela se sentir à vontade comigo para me dar tal abertura.

Aqui nesse quarto frio de hospital, vendo minha namorada desacordada, viva por conta dos aparelhos ligados à ela, relembrando de tudo que já vivi até chegar aqui, me pego pensando se, algum dia, serei capaz de amar alguém novamente. Quer dizer, eu achava que o grande amor da minha vida fosse o Lucas, veio Valentina e me fez ver que não era bem assim. E não, eu ainda não entreguei os pontos, mas devo admitir que a minha esperança está cada dia mais cansada. Os médicos esperam que o quadro dela evolua, mas, à essa altura, talvez, só um milagre poderia tirar Valentina de seu atual estado. Meu psicológico, de algum modo, já me preparava para o pior. Já começava a afastar pensamentos egoístas que preferiam que ela acordasse a qualquer custo, talvez, a paz que ela tanto merecia estaria do lado de lá.