Primeira impressão

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Outubro de 2022


Luiza POV


Nunca imaginei que pudesse sentir tamanha angústia. A sensação é de que me falta um pedaço e de que, sem ele, eu não posso continuar. Já não há mais lágrimas, nem dor. Eu me sinto anestesiada, é como se doesse tanto que já nem sinto mais. O pior de tudo é que eu simplesmente não faço a menor ideia de onde vem essa dor. Não sei sua causa, apenas dói, muito. E eu fico aqui nessa sala escura, encolhida no meu canto, como um limbo do qual eu não vejo escapatória...


Agonia. A sensação que acorda junto comigo toda vez que tenho esse maldito pesadelo. Já faz algumas semanas que ele tem se tornado recorrente. Decido ignorar a sensação, foi o método que adotei desde que o pesadelo se tornou sucessivo. Veja bem, eu sou uma mulher realizada profissionalmente, posso afirma que tenho uma excelente condição financeira, moro em um dos bairros mais caros do Rio de Janeiro e, muito recentemente, meu anelar direito ostenta um belíssimo solitário com um simplório, porém maravilhoso, diamante.

Aos olhos de quem vê, eu tenho a vida perfeita e, de fato, eu não tenho mesmo do que me queixar. Não vai ser um sonho qualquer, sem pé e nem cabeça que vai tirar minha alegria de viver, não mesmo.

Tateio a mesa de cabeceira em busca do meu celular e checo a hora, oito e quinze da manhã. Ótimo, tenho tempo de sobra para fazer minha Yoga e dar um pulinho na praia. Adoro quando meus compromissos me permitem dar um mergulho antes de ir trabalhar, é revigorante.


**


Olho a tela do meu celular, enquanto espero o elevador, está marcando nove e quarenta e cinco da manhã. Uma hora maravilhosa para aproveitar o sol ameno que está fazendo esta manhã.

Uma das muitas vantagens em minha vida é que eu moro na orla, o que me dá uma comodidade perfeita de ter apenas que atravessar a rua para chegar à praia. Alcanço o quiosque de um velho conhecido ali da praia de Ipanema mesmo, seu Ribamar, ou como geral costuma chama-lo, "seu Riba".

– Bom dia, seu Riba! – aceno enquanto me sento em dos bancos do balcão. – Me vê aquele coco geladinho que só o senhor vende em todo o Rio. – faço graça e ele ri.

– Não seja exagerada, Luiza. – fala enquanto faz um furo no coco e me serve já com um canudo.

– Tá, pode até ser que o senhor não seja o único a vender o coco mais geladinho do Rio... – pauso enquanto me sirvo daquele líquido dos deuses. – mas, com certeza, é a água de coco mais gostosa e docinha.

– Agradeça ao meu Ceará e ao mágico poder da importação.

Seu Riba era um cearense muito saudoso e apaixonado por sua terra. Mudou para São Paulo nos anos noventa, trabalhou como porteiro alguns anos em um conhecido condomínio da cidade, saiu de lá e resolveu tentar a vida aqui no Rio. Começou vendendo coco na praia e hoje é dono de um dos melhores quiosques da praia de Ipanema.

– Seu Riba, cuida da minha bolsa rapidinho enquanto vou ali dar um mergulho no mar? - pergunto dando uma última checada em meu celular, tudo tranquilo.

– Claro, menina, nem precisa pedir, você já faz isso quase todo dia. - o senhor de lisos cabelos grisalhos me sorri. – Vai lá, moça, tomar sua dose diária de mar.

Agradeço a gentileza e me direciono para o meu lugar preferido no mundo todo. Tiro meus chinelos assim que alcanço a areia, a sensação é impagável. Me desfaço da canga que usava como vestido, enrolo de qualquer jeito e deixo embaixo dos chinelos para não voar. Caminho em direção ao mar e, automaticamente, me sinto energizada no momento exato em que meus pés tocam a água. Se as sereias existem ou já existiram, sem dúvidas, eu fui uma em alguma vida passada, só isso explica tamanha conexão que possuo com o mar.

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