𝟎𝟎𝟒. 𝗆𝖾𝗆𝗈𝗋𝗂𝖾𝗌

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𝐂𝐀𝐏𝐈́𝐓𝐔𝐋𝐎 𝐐𝐔𝐀𝐓𝐑𝐎
𝗆𝖾𝗆𝗈́𝗋𝗂𝖺𝗌

𝐉𝐔𝐍𝐄 𝐒𝐄 𝐄𝐍𝐂𝐎𝐍𝐓𝐑𝐀𝐕𝐀 em uma sala vazia, chorando

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𝐉𝐔𝐍𝐄 𝐒𝐄 𝐄𝐍𝐂𝐎𝐍𝐓𝐑𝐀𝐕𝐀 em uma sala vazia, chorando. Fazia tempo que não sentia essa sensação, de ter lágrimas escorrendo por seus olhos. De ter que tampar seus ouvidos para tentar parar de escutar a própria cabeça.

- June - Falou sua mãe - Por que você saiu de casa? Você sabe que eu e seu pai estritamente te pedimos para não colocar um dedo para a fora -Falou olhando para uma criança de oito anos, fumando um cigarro.

- Eu queria brincar com eles, mamãe - Falou ela - Estavam jogando bola, queria ir também - Encolheu os ombros.

- Eu e seu pai te damos a vida no trabalho! - Gritou cuspindo em sua cara - E é assim que você agradece? - Pisou forte no chão chegando perto da mesma - O que foi que eu te falei? - Deu um soco na parede ao lado dela.

- Não sair de casa - Fechou os olhos procurando sair dali.

- E o que você fez? -- Gritou raivosa.

- Saí de casa - Sussurrou olhando para o chão.

- O que foi? - Soprou a fumaça em sua cara - Não te escutei - Deu um tapa em seu rosto e puxou seu queixo para olhar em seus olhos.

- Eu saí de casa - Repetiu mais alto dessa vez, olhando para suas próprias mãos enquanto sua mãe apagava o cigarro em seu braço, a fazendo urrar de dor.

- Para, para, para! - Gritou June batendo em sua própria cabeça de olhos fechados - Só para! -Sentiu sua garganta fechar e a procura por ar se tornar mais difícil - Chega, por favor - Empurrou as mãos em seu ouvido enquanto olhava para a cicatriz em sua perna.

- June, querida - Chamou seu pai.

- Chega! Chega! - Tentou colocar essa memória no fundo de sua cabeça novamente.

- O que papai? - Falou sorridente, pensando que seu pai finalmente a deixaria ajudar com o trabalho.

- Vem aqui - Falou ele apontando para a cadeira ao seu lado, enquanto a menina ia saltitante.

- O que? - Repetiu animada.

- Sua mãe comentou algo sobre alguma mulher? - Perguntou como quem não quer nada.

- O que? Não - Respondeu de imediato - Por que? Você está traindo a mamãe? - Se chocou com o pensamento.

- Nunca, June - Tranquilizou a filha - É só que ela anda falando bobagens ultimamente - Suspirou.

- A mamãe não fala bobagens! - Defendeu sua mãe.

- E o que você sabe sobre isso? - Deu um tapa nela - Você não é casada com aquela mulher!

- Aquela mulher é minha mãe! - Continuou se impondo por ela.

- E mesmo assim olhe o que ela fez com você - Apontou para um corte na bochecha da menina que havia sido criado com o tapa.

- Mas foi o senhor que.. - Falou baixo o olhando com medo.

- Não foi, sua mãe me forçou - Falou passando a mão em seus cabelos - Você sabe que só faço isso para seu bem - Sorriu pequeno.

-- Sei sim - Falou se deixando levar pelo carinho do pai, mas o homem levantou assim que ouviu a campainha.

A menina, mesmo criança, não era burra, e ainda por cima era curiosa, então ficou olhando pela janela o que seu pai e uma mulher conversavam com tanta seriedade.

Mas seu coração inchou vendo seu pai agarrando a bunda daquela mulher e a beijando. Seu coração afundou por sua mãe, que mesmo com tudo a amava, e se afundou por seu pai não ter sido sincero.

Mas pareceu que ela não foi discreta o suficiente e quando seu pai viu que estava o espiando pela janela, rapidamente entrou em casa e agarrou o braço de sua filha a levando para seu quarto. Com um canivete na mão.

- Você falou que não estava a traindo! - Disse chateada o olhando com raiva.

- E você não vai abrir a boca - Falou firme.

- Mas a mamãe merece saber! - Gritou e viu sua mão ficar vermelha com o corte que seu pai tinha feito em seu braço - Por favor - Falou com os olhos marejados.

- Você não vai falar nada! - Repetiu fazendo mais um corte, em seu outro braço.

- Ela merece saber, papai - Chorou o olhando - Ela merece! - Colocou suas duas mãos nos cortes tentando parar com o sangramento.

- Você não vai falar nada! - Gritou como um maníaco cortando seu estômago.

- Não vou.. - Sussurrou.

- O que? - Gritou cortando sua coxa com muita força a fazendo gritar.

- Não vou contar - Falou caindo no chão sem forças para continuar em pé.

- Para, por favor - Implorou com a mão no coração de cabeça enfiada em seus joelhos - Não quero me lembrar! - Gritou alto pegando uma pedra ao seu lado e tacando na janela - Não quero! - Chorou desesperada.

- Papai - Chamou seu pai no quarto enquanto ele a olhou sem falar nada - Estou com pesadelos - Falou ainda com dor pelo acontecimento mais cedo.

- E isso é problema meu? - Falou grosso se virando para dormir novamente e ela apenas voltou para seu quarto, se mantendo acordada a madrugada toda.

- Por que? - Olhou para seu corpo, vendo todos aqueles machucados - Por que? - Gritou raivosa - Não é justo! - Colocou as mãos nos olhos chorando mais - Não é justo... - Sussurrou cansada.

Esse era o principal motivo que June não queria sentir nada, porque sabia que tudo que iria sentir seria dor, e ela não queria sentir tristeza. E era melhor se fechar a tudo do que se abrir para a infelicidade, certo?

Bom, June sempre odiou falar sobre si mesma, e talvez seja por isso que nunca realmente falou nada, iriam sentir dó, ela não queria isso. Ela não queria sua vida, mas não era como se não quisesse estar viva, só não queria a sua vida.

E isso a fazia apodrecer de dentro para fora, e essa crise foi um exemplo disso. Seus sentimentos haviam finalmente saído de suas gaiolas. E isso era um sinal que a garota só se fecharia mais, com a esperança de ninguém notar sua vulnerabilidade.

Mas novamente, não achava que mostrar sentimentos era ruim, só achava que não era uma boa cor nela. Era uma cor que a deixava feia, pálida, do tipo que as pessoas perguntam se está com anemia ou algo do tipo.

Então se contentava em esconder essa roupa no fundo de seu armário. Junto de todas suas memórias, até esse dia.

𝐋𝐈𝐊𝐄 𝐀 𝐒𝐓𝐑𝐀𝐍𝐆𝐄𝐑 ʳᵉᵍᵘˡᵘˢ ᵇˡᵃᶜᵏOnde histórias criam vida. Descubra agora