𝐂𝐀𝐏𝐈́𝐓𝐔𝐋𝐎 𝐃𝐎𝐈𝐒
𝖾𝗌𝖼𝗎𝗋𝗂𝖽𝖺̃𝗈𝐅𝐀𝐙𝐈𝐀 𝐃𝐈𝐀𝐒 𝐐𝐔𝐄 Malia nem ao menos a olhava na cara, e isso de alguma forma fazia June se sentir mal, e seu subconsciente a dizia que era sua culpa. Mas quando parava para pensar, não conseguia achar nenhum motivo para se sentir culpada.
Então só ignorava, como fazia com a maior parte de sua vida, ignorava as pessoas, objetos, lugares, tudo.
Mas ao mesmo tempo era estranho, como se ela sentisse falta de uma presença ali, só ao menos para a dizer alguma coisa, mas tanto ela, quanto Malia, sabiam que não iria falar nada.
Quando a menina sentia esse vazio, gostava de fechar os olhos e se sentir completamente sozinha, apenas ela e a escuridão, sem ninguém para a atrapalhar.
Ela não se lembrava como era viver sem essa falta dentro de si, era como se isso fosse parte dela, algo que estava ali a tanto tempo que ela não sabia como viver sem, então ao invés de afastar, ela o abraçou.
Aquela escuridão era como uma casa, visto que preferia ficar ali do que em sua própria casa.
Agora, ela estava indo para a aula de Defesa Contra as Artes das Trevas, e mesmo com a consciência pesando de não ter Malia por perto, ela simplesmente ignorou a menina quando a viu dentro de sala de aula.
Nem estava ouvindo a aula, sua cabeça inteira zumbindo pensamentos. Alguns que a fazia perder a noção do tempo e entrar em sua própria cabeça, seu próprio mundo.
Ela sentia que todos ali, dentro daquele lugar, a julgavam de alguma forma, e mesmo não os conhecendo, era como tudo aquilo fosse simplesmente desabar e todos iriam surtar, ao menos, ela sabia que iria surtar.
Ultimamente pensava muito em seus pais, o quanto desde que entrou em Hogwarts, praticamente não os via mais, e mesmo nas férias, era como se tudo aquilo fosse de mentira, tudo uma farsa perfeitamente planejada, tudo para ela sentir que eles estavam ali.
E ela se perguntava como conseguiu viver dentro daquele ambiente por onze anos, como a June criança simplesmente vivia com aquilo agindo naturalidade.
Mas logo uma resposta vem, que por mais que aquilo era fora do normal, se você se acostuma a viver com algo em sua vida, é difícil deixá-lo para trás, vendo que já é uma parte de você.
E ela encarava isso como a escuridão, seus pais e o breu, duas casas diferentes, mas no mesmo condomínio, sendo que estranhamente o menos assustador parecia ser o mais agonizante.
Não lembrava a última vez que teve uma conversa com seus pais, por mais de um minuto, sem que acabasse em briga ou com um deles pedindo algo dela.
E era cansativo, ter que lidar com tudo isso sem falar nada, mas afinal, com quem iria falar? A única pessoa que estava ao seu lado, ela a tinha afastado, agora não sobrara ninguém, só ela e a escuridão, como duas amigas íntimas dividindo segredos.
- Senhorita Harris! - Chamou seu professor e ela rapidamente olhou para cima tentando entender o que estava acontecendo, ao mesmo tempo que a sala inteira virava para a olhar - Como está apreciando sua mesa tão bem, poderia apreciar a matéria e participar do exercício! - Sorriu falso.
- E qual seria o exercício, Professor? - Perguntou June o xingando por dentro.
- Quero que apresente o feitiço Ridikkulus em um bicho papão - Falou o professor calmamente -Como pode ver, estamos revisando a matéria do terceiro ano - Olhou para ela que estava com um olhar transbordando raiva.
- Tudo bem - Sorriu ela, afinal, não fazia a menor ideia do que ter medo, se o medo andava ao seu lado, grudada nela.
June chegou perto do baú, que estava tremendo com força desejando sair. O professor o abriu e ela viu a sombra preta se transformar em várias formas diferentes até chegar em uma nítida.
A aula era Sonserina e Corvinal, o que menos queria era causar um tumulto que desse como mais um motivo para os alunos da Sonserina a caçoarem, como se já não fosse o suficiente o fato dela ser uma sangue-ruim.
Mas o que apareceu ali, nenhum saberia o que era, ou melhor, quem. Ninguém convivia com ela, ela não havia fotos dessas pessoas com ela, era como se fossem fantasmas em sua vida, a assombrando em seus próprios pensamentos.
E ver seus pais ali, a olhando com um sorriso, era como se seu mundo desabasse. Ela sabia que iria surtar, só não sabia que seria com isso. E muito menos com as ultimas pessoas que gostaria de ver.
June nunca foi muito de emoções, mas ficar travada no lugar olhando para o sorriso de seus pais, o sorriso que eles nunca a deram, era se deixar transparente.
Todos naquela sala conseguiam ver seu medo, seu mais profundo e obscuro medo. O medo que ela não conseguia desviar o olhar.
Era como se todos seus sentidos travassem, urrando para se mexerem, mas mesmo assim, não conseguindo.
Mas assim que seus pais deram um passo em sua direção, ela levantou sua varinha e disse firme o feitiço.
E todos ali naquela sala perceberam que a garota sem emoções tinha sim uma fraqueza, e um medo, como todos ali.
O problema era que um garoto específico, assistia a cena com frieza nos olhos, por saber exatamente como aquele medo era real, e mesmo não reconhecendo as pessoas ali. Sabia que era exatamente quem ele tinha adivinhado, afinal, só um problemático reconhece outro.
Mas June não fazia a menor ideia de que isso se passava na mente de Regulus, enquanto se sentava em sua cadeira novamente, tentando esquecer a imagem de seus pais subindo a cabeça.
Tentando esquecer seus sorrisos.
Black também tentava esquecer, mas tentava esquecer o quanto aquilo tinha mexido com ele, o quanto que queria que o sorriso daquelas pessoas fossem o sorriso de seus pais.
E no final da aula, os dois saíram dali afetados, mas apenas um esqueceu.
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𝐋𝐈𝐊𝐄 𝐀 𝐒𝐓𝐑𝐀𝐍𝐆𝐄𝐑 ʳᵉᵍᵘˡᵘˢ ᵇˡᵃᶜᵏ
Fantasía─── ❝ Você é só um estranho ❞ 𝐉𝐔𝐍𝐄 𝐃𝐄𝐋𝐈𝐋𝐀𝐇 𝐇𝐀𝐑𝐑𝐈𝐒, uma corvina qualquer, a menina havia passado sua vida inteira sem realmente ter amigos, só conhecidos. Sua família não era de se considerar pessoas amorosas, acabou que...