💬 Prólogo 💬

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2017

Outubro, 10

New Haven - Connecticut

Residencial College Silliman - Yale

Domingo

Nem sempre o que queremos é o que precisamos. 

Essa era a frase que definiu o exato momento em que meus olhos pousaram no bolo red velvet, que realmente tinha uma aparência chamativa incrível, como se gritasse ME COMA IMEDIATAMENTE e eu claramente não poderia ignorar isso. Por esse motivo eu pedi dois pedaços pra viagem, gastando meus últimos trocados em três sacolas; uma de frutas, uma com sucos e a última com o maldito bolo. 

Sabia exatamente o que ouviria do meu colega quando chegasse, mas não importa, certo? Vamos todos morrer mesmo!

— A vida é uma só.— Sussurrei pensando na dieta que eu deveria começar amanhã enquanto dirigia de volta com calma, o ponteiro da gasolina caindo um pouco só saindo do mercado.

Hoje é um dos dias em que eu me jogo na cama geralmente me afundando em chocolates e filmes ruins, na verdade todos os domingos são assim desde o ensino médio mas eu mentiria se alguém perguntasse.

Estacionei o carro na vaga de Alisson, sabia que ela não voltaria tão cedo da viagem com seu namorado e me aproveitei disso já que era mais perto da entrada dos dormitórios do que onde eu costumo parar que é do outro lado entre o refeitório e o pátio extenso.

Foi só quando eu estava deitada com o notebook aberto em um site pirata, usando meu moletom confortável e rasgado do AC/DC, que o meu celular vibrou pela primeira vez desde ontem a noite. 

Uma mensagem de um número desconhecido.

" Estou na porta, me perdoe por tudo, vamos recomeçar!"

Que diabos?!

Quase joguei o aparelho no chão ao levantar correndo aos tropeços até a porta, qual foi a minha surpresa ao ver o corredor..vazio? 

Aliás, como alguém vê uma mensagem aleatória que claramente não foi direcionado a ela e aceita numa boa? Eu nem tenho quem perdoar e recomeçar! Com o resquício de dignidade que me restava peguei o celular respondendo rapidamente que era o número errado e  que esperava, que quem quer que fosse seja perdoado contanto que não se fosse sobre uma traição. Com um emoji de touro logo depois. Sem uma resposta imediata deixei de lado, voltando a escolher algum filme que não seja depressivo ou de terror.

Surpreendentemente, quando A Escolha Perfeita estava rodando a quinze minutos enquanto eu comia o red velvet delicioso tranquilamente, meu celular começou a  vibrar freneticamente. Novamente o número desconhecido, dessa vez em ligação.

"Riley, eu sei que você mudou seu número e está com esse, será que poderia abrir essa maldita porta pra conversarmos?" Uma voz masculina e grossa, levemente sedutora me lembrando Channing Tatum me fez engasgar com um pedaço de bolo, causando uma crise de tosse."Droga, está tudo bem?"

— Não se preocupe, estou bem.—  Respondi antes de respirar fundo segurando a garganta dolorida com uma careta.— Sinto muito, meu nome não é Riley e esse não é o número da sua ex-namorada, e eu acho que o fato dela não abrir a porta e trocado o número significa que talvez você não tenha uma segunda chance. 

"Você não nos conhece, e número um: ela é minha namorada, número 2: Riley gosta de fazer birra as vezes." Falou parecendo ofendido com o que eu disse.

— Deixa eu ver se entendi bem...Vocês tem um relacionamento conturbado e agem como duas crianças no jardim de infâncias?— Brinquei ouvindo um bufar do outro lado da linha.— Tudo bem, tudo bem, não vamos nos chatear com isso, tenho certeza de que ela te ama incondicionalmente..— Fiz uma pausa curta apenas para ouvi-lo concordando e então continuei.— E é por isso que ela trocou de número, não está falando e nem abrindo a porta. Ah, o amor, na forma mais pura, tão lindo!

"Que grande humor você tem, sua..sua..Não vou te xingar pois diferente de certas pessoas eu sei quando ficar em silêncio." 

— Oh sim, tenho certeza de que a doce Riley pode afirmar isso.— Rebati, tampando a boca com a mão livre pra que ele não ouvisse que eu estava contendo o riso.

"Você é tão irritante quanto uma abelha!"  Pareceu ficar frustrado enquanto minha diversão aumentava.

— Ouça, preciso fazer algo importante agora, então boa sorte com sua ex-namorada.

"Riley não é minha ex-namora- " 

Desliguei caindo no riso alto, de alguma forma inusitada isso definitivamente melhorou meu domingo a noite. Foi só quando eu estava de volta em A Escolha Perfeita que me lembrei de algo; quem era o idiota apaixonado ao telefone?

Um barulho de chaves seguido de um arrastar de botas costumeiro fizessem com que eu pausasse o filme pela terceira vez.

— Domi, afundando as mágoas em doces novamente?— Cutucou Luigi vindo diretamente até meu lado pra roubar o outro pedaço de bolo ainda lacrado, exatamente como eu sabia que faria.

— Estou ofendida pelo uso indevido do "novamente" — O sarcasmo escorregando naturalmente enquanto o assistia atenta sentar em sua cama bem arrumada justamente por ele não ter voltado desde sexta-feira a noite. — E então, onde você esteve desonrando seu nome esse final de semana todo?— Fechei o notebook ajeitando tudo pra deitar de lado, de forma que eu possa observar seus gestos enquanto me conta fofocas.

— Eu tenho falado disso por toda a semana, as vezes tenho a sensação de que falo com as paredes desse quarto!— Reclamou se ocupando em abrir a embalagem com cuidado.— Teve duas festas seguidas nos dormitórios dos leões vermelhos, onde o namorado de Alisson mora, eu não os vi mas a festa foi incrível.

— Eles foram viajar, ela se despediu na sexta de manhã quando eu estava saindo pra garantir um crédito em literatura francesa. — Contei, esperando o revirar que eu sabia que viria e depois disso pisquei pra ele com curiosidade.— Não posso acreditar que vocês estão dançando com a galera de Timothy Dwight, aliás você já viu o namorado misterioso dela?

— Não, ela não me diz o nome e eu não perguntei pra ninguém da festa sobre isso, não entendo o por quê de todo segredo.— Respondeu de boca cheia.— Seja gentil, os leões não são tão ruins assim.

— Certo, só umas trinta gerações os taxando como nosso residencial rival mas claro que eu devo ser gentil.— Resmungo antes de bocejar. —Uh, tente não se atrasar amanhã, vou morrer agora.

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