Mansão Buffet
Dezembro,25
12:10
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Tentei levantar imediatamente, uma angústia sem razão tomando conta do meu corpo, mas Bryan segurou meu braço parecendo prever meus passos. Apenas encarei a mesa tentando não aparentar que estou hiperventilando e com vontade de sair correndo até minha casa.
— Gostaria de um minuto da atenção de todos..— O senhor Warren se levantou da ponta da mesa, uma dose recém abastecida de whiskey em seu copo, um olhar rápido por nós antes de continuar, não consegui prestar atenção em mais nada, a única coisa que deixava atenta o suficiente era a mão de Bryan ainda segurando meu braço.
Não sei quanto tempo a dissociação durou, mas quando um barulho de arrastar de cadeira ao meu lado chamou a atenção de todos eu também tive que desviar do apego de seu irmão mais velho e um olhar curioso de papai, seguindo Bradley com menos agilidade do que eu teria caso não estivesse de salto.
— Senhorita, está precisando de alguma coisa?— Frantchesca, quem nos atendeu no hall de entrada surgiu a minha frente no corredor, tentei enxergar por cima dela mas só consegui o vulto dele subindo a escada.
— Na verdade sim, preciso que me mostre onde ele foi.— Pedi apontando pra escadaria e mesmo com uma expressão contrariada ela deu as costas esperando que eu a seguisse. Notei mais funcionários enquanto subimos e todos abaixavam a cabeça em cumprimentos, sorri fechado tentando não pensar direito que estou fora do meu habitat natural e quando a senhora carrancuda parou em frente a uma porta branca fechada eu agradeci esperando que ela saísse antes de abrir sem bater, já que não era uma situação em que eu precisasse tanto da educação que meu pai me deu. O quarto espaçoso com uma cama gigantesca, uma televisão bonita e um canto com aparelhos eletrônicos e livros não chamou minha atenção tanto quanto o grandalhão de costas após a uma varanda com vista para o jardim dos fundos. Encostei a porta suavemente pensando no que dizer.
|"Olá, sou eu, sua amiga virtual" ou "Hey gracinha, acho que somos mais íntimos do que imaginávamos"
— Bryan não quero conversar agora.— Sua voz saiu baixa e ele não se virou ao falar.
— É uma pena, mas acho que precisamos conversar. — Respondi no mesmo tom cruzando os braços sem me mover, ele se virou rápido e engoliu a seco ao me encarar.
— Quem é você?
Suspirei não imaginando que iriamos começar assim novamente.
— Meu pai trabalha aqui há dez anos e eu jamais soube que era da família Buffet, não fazia a mínima ideia de quem você era quando atendi o telefone há semanas atrás e eu sinto muito que, provavelmente, tenha uma impressão errada sobre mim agora. — Comecei dando um passo a frente assim que ele também deu, os olhos azuis analíticos em meu rosto. — Meu nome é Dominique Esther Vergari, tenho vinte e um anos e estou no terceiro ano da faculdade de direito de Yale, sou do Residencial Slimani e tenho sete amigos próximos com quem convivo, oito contando com você. Não fazia ideia da sua aparência, do seu sobrenome mas aposto que conversamos o suficiente pra que eu possa te considerar um amigo próximo.
— Não posso acreditar que sonhei com o momento de te conhecer tantas noites pra descobrir que já tivemos pelo menos seis encontros aleatórios.— Comentou dando mais um passo a frente.
— Bom, agora não tenho certeza se é nesse momento que você fica sem roupas já que é a sétima vez mas se quiser posso lidar com uma nudez inesperada.— Disse sem pensar e ele sorriu um pouco mais largo do que eu previ.
— Como eu fui idiota de não reparar que era a mesma pessoa, esse seu humor horrível não é comum demais, deveria ter juntado as peças.— Se auto-critica perdendo o olhar pelo quarto, dei um último passo a frente inconsequentemente segurando seu rosto com minhas duas mãos, claramente me aproveitando da sua posição meio curvada já que nem mesmo o salto me ajudou muito com sua altura.
— Eu sinto muito por ter escondido minha identidade, e nunca mais se chame de idiota na minha frente por que eu não posso e isso atiça minhas vontades de ofender pessoas de forma involuntária. — Sorri debochada acariciando suas bochechas da forma mais suave que consegui, sentindo alguns resquícios de barba já crescendo que fizeram cócegas pequenas em meus dedos.
Bradley não piscava com os olhos nos meus e timidamente suas mãos foram parar na minha cintura.
— Eu te perdoo mas ainda não entendo o porquê.
— Mio ragazzone..— Sussurrei assistindo em primeira mão seus olhos se fecharem com o apelido. — Talvez você nunca vá entender mas nunca fui a melhor no quesito autoestima, nem sempre as pessoas gostam de mim pelo meu peso, meu estilo de roupa, o jeito que eu me comporto ou os olhos totalmente pretos. Sempre houve rejeição de muitas pessoas tanto romanticamente falando quanto na amizade, eu só quis evitar que acontecesse com você.
Suas mãos se apertaram na minha cintura, puxando meu corpo no seu. — Você é incrível, magnífica e encantadora, e eu sou completamente fissurado nos seus olhos desde que te vi a primeira vez no chão do corredor de salas. Eu jamais rejeitaria você, Abelhinha.
O som de um coração prestes a explodir soava pelos meus ouvidos. O som do meu coração.
Sem saber como responder abaixei os braços o suficiente pra rodear seu pescoço, sentindo a euforia e o arrepio quando fui abraçada completa e carinhosamente por ele, meu amigo fiel estudioso não era mais virtual. Não sei por quanto tempo permanecemos assim em um silêncio confortável e clima delicioso de encontro mas quando ouvimos palmas nos soltamos tão rápido que quase cai. Bryan, encostado contra a porta com um sorriso pequeno e as mãos ainda juntas em uma última "salva de palmas", o olhar analítico com certeza diz algo como "Eu sei de algo que vocês ainda não sabem mas não vou comentar sobre."— Agradeço que não tenham se matado nem nada, fiquei preocupado e tirei nossa mãe do caminho até aqui então vocês me devem uma.— Apontou pra nós cruzando os braços.— Agora podemos por favor tentar sobreviver até a sobremesa juntos?
— Seu amor por mim cresce a cada segundo, tem certeza de que pode ser meu chefe futuramente?— Resmunguei indo devagar até ele que sorriu acenando.
— Você é uma péssima ex-noiva, não brinque com meus sentimentos falsos. — Rebateu saindo na frente como se guiasse o caminho.
— Disse que não conhecia ninguém, o que é isso de noivado?!— Bradley sussurra meio exasperado me fazendo rir.
— Seu irmão e eu estávamos pensando em um casamento arranjado uns dias atrás quando meu pai atendeu o telefone no viva voz, mas quando eles foram me buscar de jatinho mudamos de ideia.— Respondi e ouvi um guincho de indignação nas minhas costas enquanto descemos a escada.
— Gianluca disse que não temos química, apesar de tudo seremos uma dupla terrorista no futuro quando trabalharmos juntos.— Bryan olha pra trás com um sorriso e eu reviro os olhos.
— Eu não aceitei sua oferta, agora pare de ser um merdinha com seu irmão ou ele vai pensar que estamos flertando.— Falei sem pensar e os dois pararam no fim da escada me encarando. — Não que isso..Não tem..Olha, podemos esquecer minha existência por um tempo?
Bradley se põe ao meu lado oferecendo o braço que eu nervosamente aceitei deixando o idiota mais velho ir na frente enquanto andamos mais devagar, encaro meu amigo de lado tentando não sorrir com seu sorriso largo.
— Estou feliz que não estão flertando.— Disse baixo me surpreendendo e novamente aquele arrepio e sensação de frio na barriga surgiu.
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Quem é você?
RomanceUma mensagem de um número desconhecido tirou Dominique Vergari de sua zona de conforto pela primeira vez em 21 anos.