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2017

Dezembro, 25

Mansão Buffet — Stanford

11:35

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Em muitos países a ceia de Natal é feita da noite de véspera aonde as famílias se reúnem, e após a meia noite a troca de presentes. Na Itália com meus avós e tios é feito assim também então quando passamos o Natal em Stanford em alguns anos eu penso muito que americanos comemoram no dia errado. Aqui, a ceia do dia 25 em horário de almoço é praticamente o Natal real então enquanto meu pai acelera passando dos portões de uma mansão, tento realmente me lembrar dos últimos natais onde apenas nós dois estávamos presentes.

— Uma sensação esquisita, não é? — Papai gira o volante acenando para alguns seguranças enquanto estaciona ao lado de alguns carros caríssimos.

— Leu meus pensamentos, já pensou por um acaso se não é um ritual aonde eles precisam de dois pobres inocentes para assassinar? — Perguntei tirando o cinto o encarando de lado.

— Não somos tão pobres assim..Nem inocentes. — Parou com a mão no trinco e eu quis rir mas me ofendi. — Não faça essa cara pra mim, eu te conheço melhor do que você mesma e você não é nenhum pouco inocente.

— Vou deixá-lo no meu dormitório com Mario e Luigi pra que eles te comam vivo. — Ameacei saindo do carro, o salto baixo que ganhei da vovó Madeleine há dois anos por sorte ainda estava intacto pra que eu pudesse usar hoje.

— Se eu sobreviver depois de trazer você aqui, aposto que Bryan deve ter dito algo sobre essa sua boca esperta. — Brincou caminhando ao meu lado com segurança, subimos a escadaria e o hall de entrada decorado para dar de cara com uma senhora que não parece muito feliz até perceber que era meu pai.— Franchesca, essa é a minha filha de quem você tanto escuta. 

Sorri segurando qualquer comentário estúpido já que ela também sorriu e nos acompanhou pra dentro, tudo era tão espaçoso e sem muitos adornos ou coisas sanguinárias que eu sonhei ontem a noite, passamos por pelo menos duas portas fechadas em um grande corredor até Franchesca parar em uma aberta e se afastar pra nos deixar entrar depois de um aceno. Respirando fundo fiquei as costas de papai como se isso me protegesse de tudo, era uma sala de jantar e um som ambiente baixo no fundo pra deixar uma atmosfera mais suave, olhei para todos os cantos vendo um piano descobrindo que o som ambiente era ao vivo, não tinham muitas pessoas e as únicas que reconheci de primeira foram Bryan e Warren Buffet.

— Gianluca, sempre pontual. — Warren, com uma voz grossa e um pouco rústica, cumprimentou papai com um aperto de mão. Papai me empurrou suavemente de suas costas e eu quase virei o pé tentando permanecer reta. 

— Feliz natal, Sr.Buffet, sou Dominique. — Disse num guincho esticando a mão meio trêmula pra ele que tinha um aperto pouco firme, a mulher ao seu lado elegantemente sorriu indo mais a frente pra beijar minha bochecha e me desejar um bom natal..Astrid foi simpática comigo o suficiente pra me afastar do seu marido e meu pai, e me colocar na longa mesa ao lado de Bryan que bebericava um vinho branco. — Obrigada, Srta.Buffet.

— Não se preocupe querida, pode me chamar de Astrid, fique a vontade pra pedir algo e relaxe um pouco.— Começou, mostrando que era uma boa anfitriã e pessoa.— Não vamos devorar você. 

— Talvez sim se continuar com essa cara de assustada.— Bryan critica me encarando com as sobrancelhas franzidas. 

— Não estou me sentindo confortável o suficiente, é como ter uma melancia na minha cabeça, parece até mesmo que os funcionários também estão me encarando.— Contei roubando a taça da sua mão qual ele não esperava. — Pegue mais, na verdade peça até dois dedos de whiskey sem gelo. 

— Sabe por que estão olhando pra você?— Se inclinou um pouco como se fosse contar uma fofoca.— Esse vestido tem um bom decote apesar de ser comprido demais. Agora pare de agir como uma estranha e tente agir normalmente, está linda e eu sei que não é das mais tímidas mas vou pedir coisas no seu lugar só dessa vez.

Revirei os olhos bebendo o resto do seu vinho e deixando a taça vazia na mesa, não demorou muito para o que pediu chegar e depois de virar como um shot dei uma relaxada na cadeira. Bryan me explicou quem são a meia dúzia de pessoas de pé conversando umas com as outras, todos parentes da sua mãe e quando um homem que aparentava ser mais velho entrou e foi direto ao seu pai ele também me contou que Warren Buffet teve um filho do primeiro casamento e aquele era seu meio-irmão Howard. Alguns aperitivos altamente chiques foram oferecidos a nós por caras de smoking enquanto fofocamos pelo que eu diria pelo menos meia hora depois, e exatamente quando o relógio de Bryan bateu meio dia e um, sua mãe anunciou a todos que deveriam tomar seus lugares que logo o almoço será servido e saiu. 

— Relaxa, o ritual satânico que você está pensando só acontece depois da ceia.— Bryan conta baixinho e eu me engasgo com um gole de vinho tinto dessa vez, ele riu alto desviando de um tapa da minha mão livre enquanto eu limpava minha boca e pescoço com o guardanapo. — Minha mãe deve ter ido buscar meu irmão mais novo, ele teve problemas pra dormir bem ontem a noite então deixamos ele dormindo até mais tarde hoje.

— Você é desprovido de empatia. — Brinquei pegando a metade de um mussarela búfala e presunto parma do seu prato. 

— Seja mais educada com seu chefe se não vou te demitir. 

— Não estou registrada, ainda posso te ofender quando quiser.— Rebati depois de engolir.

Continuamos brincando juntos até notar que todos estavam se sentando agora e sua mãe havia retornado, um barulho na porta chamou minha atenção e meus olhos se estreitaram enquanto um sorriso genuíno e surpreso era direcionado a mim. 

O Gracinha, com o cabelo ajeitado em um topete e roupas sociais que o deixaram deliciosamente perigoso caminhava até nós parecendo em câmera lenta, a cadeira vaga ao meu lado me deixou com ansiedade ao vê-lo dar a volta. Bryan me cutucou para que eu prestasse atenção no que ele dizia mas meus olhos só acompanhavam ele.

— Eu não sei como ou por quê você está aqui mas estou feliz de te ver.Você está linda.— Elogiou esticando a mão pra mim, um arrepio gostoso passou pelo meu corpo ao cumprimento.

— Gracinha, é uma surpresa natalina, você me pediu ao papai noel.— Acenei assistindo seu riso enquanto se sentava. 

— Deixa eu adivinhar, vocês se conheceram na faculdade.— Bryan se mete, nos encarando com uma expressão engraçada.

— Não fique enciumado, Bryan.— Coloquei uma das mãos no peito tentando parecer ofendida.

— Você é terrível, Dominique. — Devolveu roubando minha taça da mesa e eu dei o dedo do meio antes de se voltar ao Gracinha que empalideceu do nada, os olhos azuis arregalados pra nós dois e a boca entreaberta. — Bradley, está tudo bem maninho

Meu coração quase saiu do peito de tão acelerado de um momento para o outro, minhas mãos tremeram enquanto a voz de Bryan se repetia novamente e novamente na minha mente. Não podia ser verdade, certo?

O Gracinha..O Gracinha é o Bradley!

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