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2017

Outubro,14  

Quinta-feira

Elm City Social — New Haven - CT

12:32

Meu pai e eu somos o mundo um do outro desde o dia 31 de julho de 1998, o dia que em que eu nasci, palavras dele não minhas. Infelizmente também foi o dia em que um pedaço dele se foi, minha mãe Loretta Esther, com seus 27 anos teve um choque anafilatico enquanto costuravam sua barriga. Desde então somos só eu e ele contra o mundo, felizmente papai é um bom funcionário de uma família bilionária em Stanford, o que nos proporcionou uma vida boa e estável que também paga a minha faculdade sem que um de nós tenha que se matar em mais de um trabalho ganhando mal.

— Por que está encarando seu hambúrguer assim? O que foi que ele te fez? — Zombou abrindo o refrigerante diet.

— Papai, tenho certeza de que a qualquer momento ele vai pular do meu prato e me matar. — Fiz um gesto de cruz com os dedos como se ameaçasse o alimento apenas para ouvir o riso solto do meu velho.

— Tirando a aniquilação de hambúrgueres, qual o problema meu bem?

Meu pai é um coroa bonitão, alto, corpulento, sempre bem cheiroso, o nariz italiano tradicional, um sorriso bonito e olhos castanhos tão claros que chegam a se tornar dourados dependendo da luz.

Droga, maldita genética que me deu olhos PRETOS

— Por Dumbledore, estou rodeada por fofoqueiros!— Provoquei e então entre uma mordida e outra conto tudo o que aconteceu desde domingo até terça-feira encarando o ouvinte atento, quando terminei uma expressão de satisfação, a mesma que recebi quando abrimos o e-mail que garantia minha entrada em Yale, apareceu em seu rosto.

— Você fez certo, quem sabe esse tal de Bradley encontre alguém que o mereça... Sabe, alguém como minha sarcástica e atenciosa filha. — Ergueu e abaixou as sobrancelhas grossas, com os olhos brilhantes.

— Corta essa, Gianluca Vergari! — Ralhei abandonando o guardanapo sob o prato vazio. — Não tenho certeza se usei as palavras certas, ele não deu mais sinais de vida e.. Papai? — Me interrompe sem entender por quê ele se encostou na cadeira e cruzou os braços segurando, falhando, em esconder o sorriso.

—Eu não disse nada. — Eu reconhecia esse tom desde quando tive uma queda por Mike Willian no ensino médio e ele passou semanas falando comigo assim. Como se já soubesse de algo sem que eu tivesse que dizer.

— Não ouse sequer pensar que eu tenha nutrido sentimentos por um desconhecido.

— OK, eu ainda não disse uma palavra..— Se inclinou sobre a mesa, descruzando os braços pra juntar nossos pratos vazios, observou o cardápio e depois chamou o garçom pedindo dois petit gateau com sorvete de baunilha, ele sorriu. — Mas não acha que é estranho que você esteja esperando "um sinal de vida" do Bradley?

Joguei um papel amassado em sua testa, agradecendo as aulas de tiro que ele mesmo me deu na adolescência.

— Sou uma pessoa naturalmente empática.

— Você ignorou aquela sua colega no fundamental por duas semanas porque não aguentou o choro dela. — Apontou, sempre com uma boa cartada.

— Eu tinha doze e ela chorava demais pra uma pessoa normal. — Fiz careta lembrando do nariz ranhento e as lágrimas constantes de Lily Adams.

— A tia dela morreu.

Ok, não me lembrava exatamente pelo que ela chorava

— As vezes eu não sei lidar com sentimentalismo demais, admito. — Tentei me defender rasgando alguns pedaços de guardanapos pra usar de munição caso eu precise atacar. — Devia estar ao meu lado nessa, sou sua filha querida, sangue do seu sangue!

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