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2018Janeiro, 18
Sábado
Delta Kappa Epsilon - Yale ΔΚΞ
23:07
Isso não deveria estar acontecendo.
Mas todos pareciam se reunir toda vez pra me empurrar pra uma festa, faziam disso a missão de suas vidas.Isabel deu um jeito em um vestido preto comprido que estava perdido no fundo de uma das minhas gavetas, graças a ela agora tem duas fendas indo acima do meio das coxas, um decote maior e de algum jeito mais apertada no meu busto quase os fazendo pular. O que era engraçado, já que muitas aqui usam um vestido curto ou saias e afins, e cá estou eu com algo que vai até meus pés.
Dessa vez até mesmo na frente da fraternidade haviam várias pessoas no quintal e no hall da entrada. Foi engraçado perceber uma mudança nos copos, agora tinham amarelo, verdes e vermelhos.
— Nem acredito que conseguimos te puxar pra outra festa em menos de um ano! — Luigi comemora de mãos dadas com o namorado.
— Não fomos nós, isso é tudo conquista do Brad. — Mario disse o puxando pra dentro.
O restante de nós os seguiram, não tinha ninguém recolhendo ingressos como da última vez mas um dos caras sem camisa ainda ofereciam uma dose de vodka que aceitei por educação. Bastou uma olhada na decoração pra que eu quase desse meia volta; uma faixa gigantesca acima das nossas cabeças indicando ser a "Festa do sinal".
— Isso vai ser épico! — Lisa esfregou as mãos falando alto por cima da música agitada.
— Devo me preocupar? — Segurei o braço de Isabel com firmeza, minha amiga sorriu pra mim dando de ombros.
— Está tudo bem, siga a regra dos copos, vermelho caso tenha alguém, verde para livre e amarelo para enrolada. — Explicou perto da minha orelha e eu revirei os olhos aproveitando que ela ainda não tinha se afastado. — Vamos dançar um pouco?
Recusei prontamente jogando Teddy para o seu lado, assisti os dois se jogando no meio da multidão de corpos ainda não suados, Lisa já estava entretida com o cara que nos ofereceu a dose então apenas fiz sinal aos garotos Nintendo seguindo o caminho que decorei até a cozinha.
— Droga, está um inferno pra atravessar tudo! — Ouvi Mario reclamando atrás de mim, e ri afastando mais quatro pessoas pra entrar, dois barris de Chopp estavam posicionados no canto da cozinha e várias garrafas de destilado espalhadas pela bancada americana.
— Fiquem a vontade pra se servirem, cortesia da casa. — Uma garota asiática tinha um sorriso de orelha a orelha apontando pra tudo antes de sair se sacudindo.
— Hoje tá mais lotado do que eu esperava. — Luigi reclama alto puxando o namorado para o outro lado da cozinha.
Me distrai o suficiente abrindo e fechando armários aproveitando que a cozinha tinha dado uma esvaziada, quando finalmente achei uma caneca preta e comprida estava um pouco distante da ponta, me apoiei no armário de baixo tentando alcançar e de repente um braço estava logo acima do meu. Ajeitei a postura, girando o corpo pra encarar o ser com a caneca, o sorriso provocativo com o maldito piercing no lábio.
— Certo..Obrigada? — Tentei, esticando a palma da mão e ele entregou ainda sorridente. Dei um passo para o lado, tentando escapar da sua frente de forma tranquila mas seu braço tatuado estava novamente me segurando. — Temos algum problema?
— Você se jogou em mim, acredito que podemos ter algum problema. — Piscou, parecendo realmente estar flertando.
Daniel Baxter havia passado o rodo em metade da universidade, seus tipos eram quase sempre os mesmos; então posso afirmar com toda a certeza de que ele jamais daria em cima de mim. Mas desde aquela última festa ele pareceu obter uma curiosidade comigo.
— Foi um acidente, não se preocupe Baxter, você não faz meu tipo. — Sorri, tendo gosto em poder dizer isso com tanta sinceridade, me lembrando exatamente do rosto decepcionado de Isabel quando ele terminou com ela.
— Que tal você me deixar encher essa caneca de chopp? — Ele abaixou o braço me deixando passar rápido pra frente do barril, mas me seguiu de perto.— O buque não foi grande o suficiente?
Por sorte tive equilíbrio o suficiente pra segurar a caneca quando escorregou. O encarei indignada ainda com a mão livre na torneira do barril. — Você não faz meu tipo, Baxter.
— E o seu tipo seria mais bonzinho, romântico e empático? — Debochou cruzando os braços, claramente ficando ofendido.
— Primeiro: acho que empático foi a palavra mais difícil que já te ouvi dizer, cuidado ou as pessoas vão achar que você tem um cérebro. — Acenei com uma cara preocupada, ele revirou os olhos. — E sim, sou meio fã dos bonzinhos.
— Se você me desse uma chance poderia provar que um vilão fode melhor. — Deu um passo a frente enquanto eu dei um para trás.
— Melhore. — Aconselhei dando um tapinha leve em seu braço antes de finalmente conseguir escapar. Meu verdadeiro terror foi ver que quem eu esperava realmente apareceu..no momento certo. Meus amigos evaporaram no momento errado, o que não era incomum em festas.
Cansei
Bradley encarava o colega de quarto com os olhos arregalados e por um momento vi sua mão se fechar e abrir.
Eles poderiam começar uma briga, o clássico americano, e aí eu poderia me apoiar contra a bancada e observar meu grandalhão arrebentar Daniel Baxter com toda sua gostosura.— Abelinha? Você disse em voz alta. — Mio ragazzone alerta esticando a mão pra que eu pegasse e aceitei com um sorriso sem graça.
— E se você ficasse com nós dois?
Soltei uma risada, aproveitando que estava de costas pra Baxter enquanto meu garoto ficou vermelho tão rápido que parecia em chamas. — Vamos embora. Agora. — Peguei o braço dele o puxando, pisando nos pés de algumas pessoas, empurrando outras até a porra da porta. Assim que alcançamos o jardim que ainda sim estava cheio eu apenas entornei o Chopp e fui direto até sua calça jeans preta alcançando a chave do carro. Não disse uma palavra até estar atrás do volante do seu fusion. — Nunca mais irei pisar em uma festa de fraternidade, não insistam nunca mais.
— De algum jeito eu sabia que quem te deu o buquê estaria lá. — Me surpreendeu enquanto eu virava outra rua sentido ao meu dormitório.
— Querido, estava tão preocupado assim? — O olhei de soslaio acelerando o carro automático, o loiro pareceu querer se encolher no banco.
— Acho que da mesma forma em que eu te vi sair da arquibancada quando viu Riley correndo.
O tiro saindo pela culatra
Residencial Slimani — Yale
00:07
— Acho que.. — Começou assim que fechei a porta, segurei seu braço firme o interrompendo sua fala. Não acendi as luzes apenas o guiando gentilmente (empurrando) ele pra se sentar na cama.
Papai sempre me disse que se a gente quiser mesmo que algo saia do jeito que quisermos, nós mesmo temos que fazer.
Então num súbito de coragem, com um feixe da luz da lua cheia saindo pela janela entre as cortinas, eu dei uma última respirada funda.
E então eu o beijei
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Quem é você?
RomanceUma mensagem de um número desconhecido tirou Dominique Vergari de sua zona de conforto pela primeira vez em 21 anos.