2017
Dezembro, 10
Universidade Yale
Segunda-feira
15:00
**
Cinco dias.
Ele sumiu.
Me afundei totalmente em estudo novamente, não que eu tivesse perdido o foco desde que começamos a conversar mas eu já estive mais animada em enfiar o rosto em artigos e livros empoeirados da biblioteca da universidade.
Agora mesmo meu desinteresse foi tão grande que apenas deitei a cabeça na mochila esperando que pelo menos um pouco de dopamina surgisse do além.
— Apesar de não ser contra cochilos, eu aconselharia que pelo menos ficasse mais confortável.
Acostumada aos encontros estranhos, apoio uma das mãos no queixo pra encarar o ser humano sorridente com uma barra de chocolate Milka mordida.
— Gracinha, sempre aparecendo nos momentos mais oportunos possíveis. Quer tirar um cochilo comigo? Não vou contar a ninguém.
Ele sorriu sentando ao meu lado no banco do campus.
— Chocolate? — Ofereceu e eu o olhei como quem diz "macacos querem bananas?" . — Não parece muito bem, algo aconteceu?
— Tudo certo pra dar errado, mas não vamos falar sobre isso e sim como você tem estado já que a última vez que te vi apliquei uma caneta na sua coxa super malhada.
Dessa vez ele realmente riu pegando de volta a barra faltando três pedaços.
— Não tive uma reação como essas nos últimos cinco anos mas sempre ando com a caneta para uma emergência, afinal nunca se sabe se sua companhia na pizzaria peça uma parmegiana. — Me deu uma cotovelada de leve quado revirei os olhos. — Não fique se sentindo culpada, estou vivo como pode ver.
— Infelizmente minha tentativa de homicídio doloso simples não deu certo, quem sabe na próxima um veneno na bebida funcione melhor. — Dei de ombros fazendo questão de ter uma expressão séria enquanto falava.
Indignado e com os olhos bonitos arregalados foi a melhor reação que eu poderia ter tido antes de rir e ele sorrir nervosamente.
— Advogadas e seus humores tenebrosos. — Ralhou baixinho.
Mesmo com a curiosidade surgindo com seu comentário fiquei em silêncio, as vezes não saber sobre o que estão falando pode ser nossa salvação.
Se não for nossa maldição
— Bom, preciso ir agora. Obrigado pela dopamina comestível, boa sorte com o champignon e..Deus!— Parei de ajeitar a mochila nas costas, só agora já de pé reparando que ele estava de regata dessa vez. — Cada vez que te vejo está com menos tecido!
— Oh por favor, boa samaritana. Problemas com um pouco mais de pele aparecendo?— Piscou sedutoramente e se não fosse por um respirar fundo posso jurar que desmaiaria.
— Jamais, estou torcendo que na sétima vez não haja nem roupa. — Rebati sem pensar o deixando surpreso.
— Por que na sétima vez?
Dei dois passos pra frente sem olhar pra trás.
— Sete é o meu número da sorte.
O resto do dia foi passado sem mais surpresas ou encontros inusitados com caras gostosos como o Gracinha, alguns trabalhos de última hora com prazo de entrega para o próximo mês e pelo menos duas fofocas de Isabel. Foi só quando cheguei ao dormitório que dei atenção ao meu celular, digitando o número mais importante da minha vida.
— Razão do seu viver falando, está ocupado? — Sentei na cama esperando o riso na linha que eu sabia que viria.
"Pacotinho de sarcasmo do papai, estou apenas deixando Bryan em um restaurante, diga olá! Está no viva voz." Respondeu e ao fundo podia ouvir não só o barulho do carro como uma risada distinta, provavelmente de Bryan.
— Esse é o filho que eu devo me casar? Boa noite querido, não esqueça meu presente de natal, amo um bom vinho.— Brinco tentando não rir imaginando o rosto do meu pai tentando não tirar o foco da rua enquanto pede desculpas com o olhar desesperado pelo retrovisor.
" Boa noite minha noiva, vinho tinto ou branco?" Uma voz parecida com alguém que conheço é o que eu ouço na linha. "Estou me sentindo mais ansioso para o natal agora."
— Me surpreenda.
"Vou tentar, preciso ir agora. Sonhe comigo minha noiva! Tchau sogro, eu ligo quando for pra me buscar." Bryan se despediu e eu ria enquanto um gemido com falso descontentamento saia do meu pai.
— Papai, estou com saudades.
"Desculpe por não ter ido, não estou conseguindo alguma folga ultimamente graças ao seu falso noivo. Bryan está cuidando de algumas coisas da fusão de duas das empresas então são vários dias andando pra lá e pra cá em reuniões." Respondeu, a voz saindo mais séria e melancólica do que deveria.
— Falso noivo?! Não seja cruel com seu genro. Está tudo bem, eu vou aguentar bem até o natal. Tio Ernie vai nos visitar? — Questionei lembrando que ele me deve cinco pratas há quase um ano. Papai soltou um suspiro que me fez automaticamente parar de relaxar contra a cama. —Pai? O que aconteceu?
"Trago notícias..Não vamos passar o natal em casa." Deu um pequeno assobio não me deixando empolgar já que era um sinal de que ele não iria parar ali. " Você vai conhecer Bryan e toda a família dele."
— Gianluca Vergari, não me diga que realmente entramos em um casamento arranjado e agora tenho menos de um mês pra conhecer meu noivo milionário?! — Chutei querendo que fosse tudo menos isso, meu coração acelerando com a possibilidade de ser obrigada a me casar.
"Porccodio! Não! Domi, que diabos?Como pode pensar que algum dia eu aceitaria minha filha numa situação dessa, jamais!" Rebateu provavelmente sentindo um pouco de desespero por trás da minha fala. " Os patrões já tinham nos convidado tem alguns dias e eu disse que falaria com você antes, o que acha?"
— Estou sentindo que tem algo a mais nessa história mas vou deixar passar. E quanto ao tio?
" Ernie foi pro Hawaii, ontem a noite."
— Tio Ernie e sua câmera sempre se aventurando.— Sorri lembrando das últimas fotos que trocamos no instagram, percebendo que ainda não tinha dado uma resposta fechei os olhos por um segundo. — Tudo bem, posso lidar com uma noite natalina com gente rica.
" Ótimo querida, você não parecia bem quando atendi.. O que aconteceu?"
Droga, ser o meu confidente mais próximo talvez o tenha dado super poderes, ele sempre sabe quando algo está acontecendo mesmo que eu não tenha dito nenhuma palavra. Mas tem algo que não muda independente dos anos: se eu não quisesse contar algo enquanto não estivesse pronta eu não precisava.
— Está tudo bem, só sentindo muita falta do meu velho. — Mordi o interior da bochecha esperando seu xingamento.
" Velho é sua bunda, ragazza." Rimos e algum barulho na linha o fez parar abruptamente. "Domi? Preciso ir, me mande mensagem se mudar de ideia sobre o natal."
— Bom trabalho pai, te amo!
" Eu te amo, meu mundo!" Foi a última coisa que disse antes de desligar.
Larguei o celular do lado da cama e deitei querendo estar o mais perto possível dele, as vezes quando algo está fora do controle eu só preciso do colo do papai. Esperava que isso mudasse com a idade mas acho que sempre vou precisar disso.
Não sei quanto tempo fiquei deitada na mesma posição mas quando estava perto de pegar no sono me toquei de algo novamente.
EU VOU PASSAR O NATAL COM MILIONÁRIOS?!
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Quem é você?
RomanceUma mensagem de um número desconhecido tirou Dominique Vergari de sua zona de conforto pela primeira vez em 21 anos.