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2017

Dezembro, 4

Segunda-feira

Universidade Yale -

14:20

Como o réu se declara?

"Inocente!"

— Não pode falar num tom tão insolente, Bradley! — Chamei sua atenção sorrindo para o nada, me ajeitei no banco usando a mão livre pra virar uma página do livro de direito tributário.

" Não fui insolente, fui convincente." Riu como o bobo que era." A corte vai concordar comigo se eu fizer um bom rosto de pobre coitado."

— Claro, tenho certeza de que se você conseguir imitar os olhos do gato de botas isso vai funcionar.

"Acho que tenho tempo o suficiente pra treinar isso antes de aparecer frente ao juiz." Debochou me fazendo revirar os olhos.

— Caso você esteja sendo acusado de homicídio não sei se um bom rostinho vai te salvar. — Continuei virando as páginas caçando o artigo que precisava.

"Meu único crime é amar demais."

— Idiota. — Ri alto apoiando o celular entre o ombro e a cabeça pra alcançar o mercador de texto.

"Abelhinha, eu sei que você não disse por mal.." Seu tom de voz mudou de oito pra oitenta, e eu o conhecia o suficiente pra saber que tinha algo errado. "Pode não me chamar de idiota?"

Isso sim me deu um estalo.

Como se fosse a muito tempo atrás, as palavras de Isabel ecoaram pesando na consciência tão forte como uma marretada. Ela contando como Riley o xingava o tempo todo, como ela não sabia seu nome por causa do modo terrível que ela o tratava.

— Desculpe, mio ragazzone... Eu prometo nunca mais dizer isso pra você, tudo bem? — Tentei amenizar sentindo como se pisasse na pata de um cachorro.

" Se acalme, está tudo bem, eu sei que foi sem querer me ofender! Pelo menos não muito fora do seu jeito carinhoso." Brincou mostrando que mesmo que o afetasse ele levaria na esportiva. "Espera aí! Você me chamou de que?!"

— Eu já disse que falei idiota sem querer e.. — Parei segurando o telefone com firmeza enquanto ele repetia vários não me interrompendo.

"Não, não isso! Você me chamou de mio ragazzone."

Uh, droga

Suspirei aliviada e ao mesmo tempo querendo me enfiar em um buraco. Como pude deixar que isso escapasse?

Alguns dias atrás eu estive tendo um sonho aleatório onde eu sempre acordava numa cama sozinha, olhava minha mão esquerda enfeitada com uma aliança dourada com uma pedra azul e preta, sorria para o quarto vazio e gritava a mesma coisa. Mio ragazzone.

— Eu nasci na Itália apesar de morar na terra do Tio Sam desde os 2 anos. Meus pais são italianos, então eu honro minhas raízes. — Contei desviando do que ele queria que eu dissesse.

"Depois eu que tenho o jeito de riquinho chique, olha só quem é a italiana do dinheiro entre nós dois." Brincou aliviando o clima, relaxei na cadeira sabendo que não duraria muito até receber alguma mensagem de texto dele comentando sobre o apelido novo.

— Acredite, tenho uma minivan de origem duvidosa definhando pra comprovar que não sou da grana. Ei, eu preciso ir agora, vou comprar algo pra enganar o estômago.

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