2. Pequeno Ferimento

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Nihara Vitti

As dúvidas atormentam-me, e não consigo dormir. Levanto-me da cama e desço até a cozinha, num estado de torpor. Desatenta, coloco o copo de água num lugar qualquer, e o som de vidro quebrando ecoa pela casa.

Preocupada, oro mentalmente para que a minha mãe não tenha ouvido, mas a vida nem sempre atende os nossos desejos. Ela aparece atrás de mim, reclamando como todas as mães fazem.

Em silêncio, juntas arrumamos a bagunça que fiz. Num gesto inesperado, a minha mãe abraça-me, sem dizer uma palavra. É um abraço apertado, mas reconfortante, que me faz sentir menos sozinha nesse momento de despedida iminente.
Conversamos sobre a minha partida, e dona Cândida aconselha-me com a sabedoria que só as mães têm.

Por fim, ela segura as minhas mãos e abençoa-me, o que me deixa emocionada e grata. Prometo manter contacto sempre, e ela abraça-me novamente, como se não quisesse soltar-me.

As lágrimas escorrem pelo meu rosto, enquanto digo adeus ao meu lar e à minha família, com certeza de que a saudade será minha companheira fiel.

Em meio a esses pensamentos, meu telefone toca — já passa das treze horas — uma ligação do trabalho, pensei que não tivesse deixado nenhum pendente.

Despeço-me da minha mãe e saio; assim que chego sou surpreendida com uma festa de despedida organizada pelos meus colegas de trabalho.

A sala de convívio está decorada com balões e flores coloridas, e há uma mesa repleta de comida deliciosa. Todos sorriem para mim, dando boas-vindas com palavras e abraços afetuoso.

Não posso deixar de sentir uma emoção indescritível ao ver que eles se importam tanto comigo. As lágrimas umedecem os meus olhos quando os meus colegas entregam-me cartões e lembranças carinhosas. Eles desejam-me boa sorte na minha nova jornada e prometem manter contacto comigo sempre que possível.

O sol lá fora anuncia a noite, então me despeço de todos mais uma vez e dirijo-me para casa. Revivo cada momento que passei neste trabalho em minha mente, e não posso evitar sorrir até mesma gargalhar, ignorando os olhares estranho que outros me lançam. Nisso sinto o meu telefone tocar e me tirar dos devaneios, olho a tela e logo o sorriso desaparece.

O que essa falsa quer agora, questiono no íntimo. Atendo, para ouvi-la pedir um encontro. Relutante aceito, com o intuito de dar uma resolução a isto antes de viajar.

***

Nilza se aproxima com passos hesitantes, os ombros caídos, revelando o peso de um segredo guardado por tempo demais. Os seus olhos cansados ​​se encontram com os meus, e eu sinto uma mistura de tristeza e curiosidade. Por que ela finalmente decidiu falar?

Convido-a a sentar-se e pedimos as nossas bebidas e sanduíches, enquanto o silêncio constrangedor preenche o espaço entre nós. Esforço-me para não ser rude, mas a presença dela deixa-me tensa.

Finalmente, Nilza quebra o silêncio. A sua voz é baixa e trémula, e eu preciso inclinar-me para ouvir as suas palavras. Ela começa a contar-me sobre a sua história com Bráulio.
A verdade é chocante, e eu sinto o meu coração apertar enquanto ela me revela a traição e o vídeo íntimo que ele usou para ameaçá-la.

Agora é mais fácil para mim compreender porque ela me deixou no escuro pensando que me casava com um bom homem.

— Desculpa-me, eu não fazia ideia de tudo isso. Por isso, sempre foste hostil com ele?! — Ela balança a cabeça, e limpa o rosto.

— Desculpa-me você, por não contar antes. E desculpe pelas fotos — olhei-a com o cenho franzido.

— Fotos?

NÃO POSSO TE AMAR [Revisando]Onde histórias criam vida. Descubra agora